Líder do movimento Im
Tirtzu reafirma valores do grupo e classifica defensores de direitos humanos de
"inimigos".
Marina Mattar
O movimento israelense de extrema-direita Im Tirtzu
contratou detetives profissionais para investigar organizações e ativistas de
direitos humanos do país. A informação foi revelada pelo líder do grupo, Ronen
Shoval, que defendeu esse tipo de ação contra “oponentes políticos” durante
audiência em tribunal de Jerusalém. A informação é do jornal israelense Haaretz.
Shoval estava testemunhando no processo civil de
seu grupo contra oito ativistas de esquerda que criaram uma página no Facebook
caracterizando o Im Tirtzu como uma organização fascista. Os direitistas querem
uma indenização de 2,6 milhões shekels (o equivalente a R$ 1,4 milhões).
O movimento se denomina como “sionista” e declara
que “trabalha para fortalecer e avançar os valores do sionismo em Israel”, além
de “combater a campanha de deslegitimação contra o Estado de Israel”. Esses
valores foram reafirmados por Shoval em suas respostas às indagações da defesa
– representada por Michael Sfard da Yesh Din (voluntários de direitos humanos)
– e da promotoria.
O advogado, que já processou o Im Tirtzu por roubo
de documentos de sua ONG e divulgá-los em jornais de extrema-direita, perguntou
ao líder do movimento se eles já haviam utilizado materiais coletados por
investigadores privados. “Certamente”, respondeu Shoval citado pelo Haaretz.
“Nós vemos você (Sfard) como uma pessoa que está,
constantemente, envolvida em prejudicar o Estado de Israel. Sua rejeição
ideológica no exército continuou até agora, na prestação de seus serviços a
organizações que perseguem consistentemente soldados das Forças de Defesa de
Israel e identificar o sionismo como racismo”, acrescentou.
Questionado sobre a validade legal desse tipo de
ação, Shoven defendeu: “me parece legítimo enviar um investigador privado para
o escritório de uma pessoa vista como opositor político”. “Eu lamento que até a
corte determiná-lo (Sfard) como um traidor, você não pode ser considerado um”,
afirmou citado pelo Haaretz.
Nos últimos anos, Israel vivenciou o crescimento de
grupos de extrema-direita que conquistam, cada vez mais, poder dentro do
governo.
Poder
no governo e ataques contra sociedade
Além de realizarem campanhas públicas contra
aqueles que consideram “anti-sionistas” ou “anti-Israel”, essas organizações
conseguiram introduzir no Parlamento leis que dificultam o financiamento de
ONGs israelenses em 2011.
No ano passado, o Haaretz divulgou uma
“lista negra” com o nome de mil acadêmicos, políticos e ativistas classificados
como inimigos políticos desses grupos. As casas de muitas dessas pessoas e de
outros defensores de direitos humanos já foram vandalizadas e encontradas com
recados ameaçadores.
Em 2010, uma onda de ataques ameaçou membros da
sociedade civil e da academia críticos às políticas de Israel, sobretudo,
àquelas relativas à questão palestina. E esses atentados continuaram nos
últimos dois anos. Em novembro de 2011, um dos membros da ONG Peace Now teve a
residência depredada duas vezes.
As suspeitas recaem sob os grupos de
extrema-direita que, historicamente, realizaram ataques violentos contra
ativistas de esquerda ou pró-Palestina. Em 1983, o ativista Emil Grunzweig foi
morto quando Yona Avrushmi, de grupo direitista, jogou uma granada contra
protesto organizado pelo Peace Now.
Onda de xenofobia
Mas, os ataques não se limitam aos cidadãos
israelenses que defendem os direitos humanos e posições de esquerda. Palestinos
e imigrantes africanos também são alvo de políticas discriminatórias e
atentados violentos.
Carros, residências e mesquitas passaram a ser
destruídas, vandalizadas e incendiadas em cidades palestinas e israelenses. Os
campos de oliveira de palestinos são, frequentemente, incendiados para impedir
a colheita. E árabes e africanos são atacados verbal e fisicamente nas
ruas.
Sob o comando de Netanyahu, os atentados realizados por colonos (aqueles que vivem em
assentamentos na terra palestina) contra palestinos que residem próximos aos
assentamentos e até mesmo, contra as forças israelenses ficaram sem respostas.
Essas organizações de extrema-direita também
influenciaram a política anti-imigratória adotada pelo governo de
Netanyahu. Com a nova política, israelenses que empregarem imigrantes
ilegais estarão sujeitos a pagar 75 mil shekels (38,6 mil reais), ter seu
estabelecimento fechado e até mesmo a cumprir pena de cinco anos.
No início do ano, o Parlamento aprovou a lei de
Prevenção de Infiltrados, permitindo que as autoridades israelenses detenham
imigrantes irregulares, incluindo refugiados e crianças, por três anos ou mais
antes de sua deportação. No dia 17 de junho, autoridades israelenses iniciaram
a deportação em massa de de sul-sudaneses.
Radicalização
do eleitorado à direita
Pesquisas sobre o próximo pleito parlamentar em
Israel, marcado para a próxima quinta-feira (24/01), indicam que os eleitores
israelenses estão, crescentemente, preferindo partidos religiosos e de
extrema-direita. A coalizão governista, liderada pelo premiê Benjamin Netanyahu
e pelo ex-chanceler Avigdor Lieberman, que possui propostas sionistas e de direita, está perdendo votos para outros grupos ainda mais radicais.
Os princípios mais importantes defendidos pela
extrema-direita israelense são a expansão dos assentamentos de Israel nos
territórios palestinos (incluindo em Jerusalém Oriental), o não reconhecimento
de um possível estado palestino e a rejeição da solução de dois estados.
Marina Mattar – 18.01.2013
IN Opera Mundi – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26650/israel+grupo+de+extrema-direita+contratou+profissionais+para+investigar+ongs.shtml?fb_action_ids=2664822076446&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582
Mulheres
rezaram com xaile, pela primeira vez,
junto ao Muro das Lamentações
As
mulheres reivindicam o uso do xaile, destinado tradicionalmente aos homens, e a
leitura dos rolos da Torah, o livro sagrado dos judeus. Estas suas
reivindicações ofendem os fiéis ultra-ortodoxos que, sempre que as activistas
aparecem para orar, as insultam e as agridem, atingindo-as com projécteis.
Público e AFP
Pela primeira vez, e depois de uma ordem do tribunal, quatro centenas de
mulheres rezaram junto ao Muro Ocidental, em Jerusalém, com o tradicional xaile
posto na cabeça. Desta vez não foram elas as detidas mas os homens
ultra-ortodoxos.
Há 20 anos que o grupo activista Women of the Wall reivindica o acesso
ao chamado Muro das Lamentações, considerado o local mais sagrado para a
religião judaica, para orarem. E há duas décadas que frequentemente são presas.
A justificação para a sua prisão deve-se ao facto de não seguirem os
costumes ortodoxos. As mulheres reivindicam o uso do xaile, destinado
tradicionalmente aos homens, e a leitura dos rolos da Torah, o livro sagrado
dos judeus. Estas suas reivindicações ofendem os fiéis ultra-ortodoxos que,
sempre que as activistas aparecem para orar, as insultam e as agridem,
atingindo-as com projécteis.
Em 2003, o Supremo Tribunal autorizou-as a rezar mas longe do muro, dos
homens e respeitando a tradição ortodoxa. Uma decisão que nem sempre foi
obedecida e, por isso, as mulheres eram detidas. Mas, no mês passado, uma
decisão judicial permitiu-lhes rezar de acordo com os seus ritos e mais perto
do muro. A ordem judicial cumpriu-se, pela primeira vez, nesta sexta-feira.
As mulheres chegaram com os xailes postos mas sob um forte dispositivo de segurança. Os homens vestidos de negro insultaram-nas, procuraram barrar o caminho às activistas do Women of the Wall e tentaram forçar a passagem para junto delas. Mas, desta vez, a polícia protegeu-as. Os manifestantes ultra-ortodoxos chamaram "nazis" aos polícias e nos confrontos dois agentes acabaram por sofrer ferimentos ligeiros. As autoridades prenderam cinco fiéis ultra-ortodoxos.
As mulheres chegaram com os xailes postos mas sob um forte dispositivo de segurança. Os homens vestidos de negro insultaram-nas, procuraram barrar o caminho às activistas do Women of the Wall e tentaram forçar a passagem para junto delas. Mas, desta vez, a polícia protegeu-as. Os manifestantes ultra-ortodoxos chamaram "nazis" aos polícias e nos confrontos dois agentes acabaram por sofrer ferimentos ligeiros. As autoridades prenderam cinco fiéis ultra-ortodoxos.
Depois de terminadas as orações, a polícia escoltou as mulheres até um
autocarro que foi atacado por pedras.
"Fizemos uma oração histórica, apesar de ter sido dolorosa",
confessou Shira Pruce, porta-voz do movimento, à AFP. "Estamos
extremamente orgulhosas e felizes porque as nossas mulheres puderam rezar em
liberdade e em paz", acrescentou, revelando que participaram nesta acção
cerca de 400 militantes.
Antes das orações, os rabinos ultra-ortodoxos tinham apelado aos
seminaristas para combaterem a acção das activistas e milhares encheram o
espaço que estava reservado para elas. Por essa razão, as activistas rezaram na
esplanada em frente ao muro e não junto ao muro.
As activistas exigem um acesso igual ao dos homens e não defendem apenas
o seu direito mas o de todos, incluindo os grupos mais liberais e os mais
conservadores do judaísmo. Mas os ultra-ortodoxos entendem que as suas
exigências são provocações.
O Muro das Lamentações é o local mais sagrado do judaísmo porque se
trata do último vestígio do Segundo Templo, destruído pelos romanos em 70 d.C..
Público e AFP – 11.05.2013