domingo, 21 de julho de 2013

Israel: grupo de extrema-direita contratou profissionais para investigar ONGs


Líder do movimento Im Tirtzu reafirma valores do grupo e classifica defensores de direitos humanos de "inimigos".

Marina Mattar
O movimento israelense de extrema-direita Im Tirtzu contratou detetives profissionais para investigar organizações e ativistas de direitos humanos do país. A informação foi revelada pelo líder do grupo, Ronen Shoval, que defendeu esse tipo de ação contra “oponentes políticos” durante audiência em tribunal de Jerusalém. A informação é do jornal israelense Haaretz. 
Shoval estava testemunhando no processo civil de seu grupo contra oito ativistas de esquerda que criaram uma página no Facebook caracterizando o Im Tirtzu como uma organização fascista. Os direitistas querem uma indenização de 2,6 milhões shekels (o equivalente a R$ 1,4 milhões).
O movimento se denomina como “sionista” e declara que “trabalha para fortalecer e avançar os valores do sionismo em Israel”, além de “combater a campanha de deslegitimação contra o Estado de Israel”. Esses valores foram reafirmados por Shoval em suas respostas às indagações da defesa – representada por Michael Sfard da Yesh Din (voluntários de direitos humanos) – e da promotoria.
O advogado, que já processou o Im Tirtzu por roubo de documentos de sua ONG e divulgá-los em jornais de extrema-direita, perguntou ao líder do movimento se eles já haviam utilizado materiais coletados por investigadores privados. “Certamente”, respondeu Shoval citado pelo Haaretz.
“Nós vemos você (Sfard) como uma pessoa que está, constantemente, envolvida em prejudicar o Estado de Israel. Sua rejeição ideológica no exército continuou até agora, na prestação de seus serviços a organizações que perseguem consistentemente soldados das Forças de Defesa de Israel e identificar o sionismo como racismo”, acrescentou.
Questionado sobre a validade legal desse tipo de ação, Shoven defendeu: “me parece legítimo enviar um investigador privado para o escritório de uma pessoa vista como opositor político”. “Eu lamento que até a corte determiná-lo (Sfard) como um traidor, você não pode ser considerado um”, afirmou citado pelo Haaretz.
Nos últimos anos, Israel vivenciou o crescimento de grupos de extrema-direita que conquistam, cada vez mais, poder dentro do governo.

Poder no governo e ataques contra sociedade
Além de realizarem campanhas públicas contra aqueles que consideram “anti-sionistas” ou “anti-Israel”, essas organizações conseguiram introduzir no Parlamento leis que dificultam o financiamento de ONGs israelenses em 2011.
No ano passado, o Haaretz divulgou uma “lista negra” com o nome de mil acadêmicos, políticos e ativistas classificados como inimigos políticos desses grupos. As casas de muitas dessas pessoas e de outros defensores de direitos humanos já foram vandalizadas e encontradas com recados ameaçadores.
Em 2010, uma onda de ataques ameaçou membros da sociedade civil e da academia críticos às políticas de Israel, sobretudo, àquelas relativas à questão palestina.  E esses atentados continuaram nos últimos dois anos. Em novembro de 2011, um dos membros da ONG Peace Now teve a residência depredada duas vezes.
As suspeitas recaem sob os grupos de extrema-direita que, historicamente, realizaram ataques violentos contra ativistas de esquerda ou pró-Palestina. Em 1983, o ativista Emil Grunzweig foi morto quando Yona Avrushmi, de grupo direitista, jogou uma granada contra protesto organizado pelo Peace Now.

Onda de xenofobia
Mas, os ataques não se limitam aos cidadãos israelenses que defendem os direitos humanos e posições de esquerda. Palestinos e imigrantes africanos também são alvo de políticas discriminatórias e atentados violentos.
Carros, residências e mesquitas passaram a ser destruídas, vandalizadas e incendiadas em cidades palestinas e israelenses. Os campos de oliveira de palestinos são, frequentemente, incendiados para impedir a colheita. E árabes e africanos são atacados verbal e fisicamente nas ruas. 
Sob o comando de Netanyahu, os atentados realizados por colonos (aqueles que vivem em assentamentos na terra palestina) contra palestinos que residem próximos aos assentamentos e até mesmo, contra as forças israelenses ficaram sem respostas.  
Essas organizações de extrema-direita também influenciaram a política anti-imigratória adotada pelo governo de Netanyahu. Com a nova política, israelenses que empregarem imigrantes ilegais estarão sujeitos a pagar 75 mil shekels (38,6 mil reais), ter seu estabelecimento fechado e até mesmo a cumprir pena de cinco anos.
No início do ano, o Parlamento aprovou a lei de Prevenção de Infiltrados, permitindo que as autoridades israelenses detenham imigrantes irregulares, incluindo refugiados e crianças, por três anos ou mais antes de sua deportação. No dia 17 de junho, autoridades israelenses iniciaram a deportação em massa de de sul-sudaneses.

Radicalização do eleitorado à direita
Pesquisas sobre o próximo pleito parlamentar em Israel, marcado para a próxima quinta-feira (24/01), indicam que os eleitores israelenses estão, crescentemente, preferindo partidos religiosos e de extrema-direita. A coalizão governista, liderada pelo premiê Benjamin Netanyahu e pelo ex-chanceler Avigdor Lieberman, que possui propostas sionistas e de direita, está perdendo votos para outros grupos ainda mais radicais.
Os princípios mais importantes defendidos pela extrema-direita israelense são a expansão dos assentamentos de Israel nos territórios palestinos (incluindo em Jerusalém Oriental), o não reconhecimento de um possível estado palestino e a rejeição da solução de dois estados. 


Marina Mattar – 18.01.2013
IN Opera Mundi – http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26650/israel+grupo+de+extrema-direita+contratou+profissionais+para+investigar+ongs.shtml?fb_action_ids=2664822076446&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582








Mulheres rezaram com xaile, pela primeira vez, 
junto ao Muro das Lamentações

As mulheres reivindicam o uso do xaile, destinado tradicionalmente aos homens, e a leitura dos rolos da Torah, o livro sagrado dos judeus. Estas suas reivindicações ofendem os fiéis ultra-ortodoxos que, sempre que as activistas aparecem para orar, as insultam e as agridem, atingindo-as com projécteis.


Público e AFP
Pela primeira vez, e depois de uma ordem do tribunal, quatro centenas de mulheres rezaram junto ao Muro Ocidental, em Jerusalém, com o tradicional xaile posto na cabeça. Desta vez não foram elas as detidas mas os homens ultra-ortodoxos.
Há 20 anos que o grupo activista Women of the Wall reivindica o acesso ao chamado Muro das Lamentações, considerado o local mais sagrado para a religião judaica, para orarem. E há duas décadas que frequentemente são presas.
A justificação para a sua prisão deve-se ao facto de não seguirem os costumes ortodoxos. As mulheres reivindicam o uso do xaile, destinado tradicionalmente aos homens, e a leitura dos rolos da Torah, o livro sagrado dos judeus. Estas suas reivindicações ofendem os fiéis ultra-ortodoxos que, sempre que as activistas aparecem para orar, as insultam e as agridem, atingindo-as com projécteis.
Em 2003, o Supremo Tribunal autorizou-as a rezar mas longe do muro, dos homens e respeitando a tradição ortodoxa. Uma decisão que nem sempre foi obedecida e, por isso, as mulheres eram detidas. Mas, no mês passado, uma decisão judicial permitiu-lhes rezar de acordo com os seus ritos e mais perto do muro. A ordem judicial cumpriu-se, pela primeira vez, nesta sexta-feira.

As mulheres chegaram com os xailes postos mas sob um forte dispositivo de segurança. Os homens vestidos de negro insultaram-nas, procuraram barrar o caminho às activistas do Women of the Wall e tentaram forçar a passagem para junto delas. Mas, desta vez, a polícia protegeu-as. Os manifestantes ultra-ortodoxos chamaram "nazis" aos polícias e nos confrontos dois agentes acabaram por sofrer ferimentos ligeiros. As autoridades prenderam cinco fiéis ultra-ortodoxos.
Depois de terminadas as orações, a polícia escoltou as mulheres até um autocarro que foi atacado por pedras.
"Fizemos uma oração histórica, apesar de ter sido dolorosa", confessou Shira Pruce, porta-voz do movimento, à AFP. "Estamos extremamente orgulhosas e felizes porque as nossas mulheres puderam rezar em liberdade e em paz", acrescentou, revelando que participaram nesta acção cerca de 400 militantes.
Antes das orações, os rabinos ultra-ortodoxos tinham apelado aos seminaristas para combaterem a acção das activistas e milhares encheram o espaço que estava reservado para elas. Por essa razão, as activistas rezaram na esplanada em frente ao muro e não junto ao muro. 
As activistas exigem um acesso igual ao dos homens e não defendem apenas o seu direito mas o de todos, incluindo os grupos mais liberais e os mais conservadores do judaísmo. Mas os ultra-ortodoxos entendem que as suas exigências são provocações.
O Muro das Lamentações é o local mais sagrado do judaísmo porque se trata do último vestígio do Segundo Templo, destruído pelos romanos em 70 d.C..


Público e AFP – 11.05.2013