No balanço de um junho a
outro o que fica? Mudou a atitude do Executivo federal, que rumou para o
diálogo com os movimentos sociais. Já a conduta da polícia permanece
inalterada, parecida ainda àquela que levou cidadãos sem vínculos com
movimentos ou partidos a engrossarem o protesto em 2013.
Angela Alonso
Junho do ano passado surpreendeu. Este junho não.
Em 2013, os protestos foram raio em céu azul. Em 2014, chovem no molhado, pois
há um ano as manifestações se tornaram uma constante. Isto não quer dizer que
sejam as mesmas. Muita coisa mudou de um junho a outro.
Mudaram os manifestantes. Em junho de 2013, foram
para rua ativistas de novos e velhos movimentos sociais, mas também pessoas que
nunca tinham participado de manifestações, estreantes na política. Já neste
ano, prevalecem ativistas profissionais, isto é, os que se dedicam à política
como atividade rotineira, engajados em movimentos consolidados e já organizados
há algum tempo, como o MSTU. Os sindicatos, coadjuvantes em junho passado,
recuperaram protagonismo, como se viu na greve do metrô em São Paulo. E dos
"novos" ativistas de junho passado, os que persistem não são os
cibernéticos - o "saímos do Facebook" - mas os com base
organizacional clara e reuniões presenciais consecutivas, caso do MPL e dos
comitês contra a Copa. Aliás, a prometida internacionalização do protesto, que
se supunha a Copa traria, ainda não se confirmou.
Voltaram à cena os partidos. Depois da recusa
virulenta a eles em junho passado, suas bandeiras tornam a tremular nas
manifestações. E a colori-las de vermelho. O traço socialista, se não ausente,
tímido em junho de 2013, agora povoa a maioria dos eventos, nos quais circula
miríade de movimentos, sindicatos e pequenos partidos, todos à esquerda. Em
junho passado, havia gente do outro lado. Esse protesto à direita do governo
arrefeceu como manifestação organizada, embora siga difuso, em expressões
eventuais de pequenos grupos e em manifestações públicas coletivas sem
orquestração prévia, como no xingamento à presidente da República na estreia do
Brasil na Copa.
(...)
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Angela Alonso – Professora livre-docente do Departamento de
Sociologia da Universidade de São Paulo, diretora científica do Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) – 20.06.2014
IN Valor Economico – versão impressa.