segunda-feira, 30 de março de 2015

Crescimento do Brasil e da América do Sul: comparando desiguais como iguais


O Brasil cresceu menos que os países pequenos e primário-exportadores da América do Sul, mas, entre 2009 e 2013, cresceu mais que México, Rússia, África do Sul, Canadá, Austrália e os países desenvolvidos. A comparação deve ser feita entre países estruturalmente semelhantes e também levando em conta a capacidade de crescer com equidade, incorporação social e de forma sustentável.

Carlos Pinkusfeld Bastos e Esther Dweck
Na tentativa de criticar o governo brasileiro dos últimos anos, alguns analistas comparam o crescimento do País com o de nossos vizinhos da América do Sul. Entretanto, tentar nos comparar com nossos vizinhos tem servido apenas como tática eleitoral, minimizando os desafios que todos os países grandes e com estrutura produtiva diversificada têm enfrentado na atual fase da economia internacional.
Comparações econômicas internacionais são mais significativas e úteis quando realizadas entre países semelhantes, ou seja, países cujo tamanho, estrutura populacional e produtiva, e de inserção comercial são semelhantes.
Comparações tendo como base proximidade geográfica podem ser traiçoeiras, ou, como diz o velho ditado, pode-se estar comparando laranjas com bananas. Assim, a comparação do Brasil com outros países da América do Sul, apesar de atraente pela localização geográfica, deve ser feita com certo cuidado, para que não acabe criando distorções graves.
Os três gráficos seguintes comparam uma série de países em termos de estrutura produtiva, tamanho populacional e da economia.
O Brasil é a barra vermelha e os demais países da América do Sul são as barras verdes. Notem que nos três gráficos o Brasil está de um lado e os demais de outro.
Um estudioso sem nenhum conhecimento geográfico colocaria entre os pares do Brasil a Austrália, África do Sul, Turquia, Argentina, México e até mesmo o Canadá, mas jamais o Paraguai, Equador, Bolívia, Colômbia ou Chile. Aliás, este último país, que por sua história pós 1973 se tornou uma espécie de ícone dos conservadores, não poderia estar mais distante do Brasil.



(…)







Carlos Pinkusfeld Bastos  - Economista, professor e pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ)
Esther Dweck – Doutorada em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é assessora econômica do Ministério do Planejamento – 24.10.2014
IN Brasil Debate.


sexta-feira, 27 de março de 2015

Consenso Negativo


de uns tempos para cá, esse mesmo presidencialismo mudou de caráter e a relação ficou deficitária. Aliados de ocasião recebem seu quinhão de poder, mas já não garantem a execução de programas. As tais “maiorias” são incapazes de fazer reformas e pouco colaboram com os governos. Delas se espera, antes, que não atrapalhem, aprovem “alguma coisa”, mas que, sobretudo, anulem a oposição e garantam tranquilidade na esfera parlamentar, evitando o constrangimento de CPIs e outros perrengues. Antes que se atribua responsabilidade exclusiva ao PT, é bom dizer que nos Estados governados pela oposição as Assembleias Legislativas têm, em regra, o mesmo padrão.

Carlos Melo 
É fato que durante algum tempo o presidencialismo de coalizão do Brasil fez o seu papel: o antipático “é dando que se recebe” foi impiedosamente apedrejado pela opinião pública, mas contribuiu para a efetivação de importante agenda econômica e social. O País saiu da ditadura e do caos inflacionário para um regime que distribuiu renda e fez considerável inclusão. Modernizou-se em vários aspectos e, mesmo com tanta desinteligência que há, é mais democrático do que jamais foi. Houve inegável avanço. Pode-se dizer que o preço – na moeda corrente de cargos e recursos públicos que distribuiu – valeu, já que a transformação não foi pequena. Política também é custo-benefício, e o Brasil de hoje é melhor do que há 20 anos. Ademais, em qualquer lugar, fazer reformas profundas é tarefa custosa.
Mas é necessário reconhecer que, de uns tempos para cá, esse mesmo presidencialismo mudou de caráter e a relação ficou deficitária. Aliados de ocasião recebem seu quinhão de poder, mas já não garantem a execução de programas. As tais “maiorias” são incapazes de fazer reformas e pouco colaboram com os governos. Delas se espera, antes, que não atrapalhem, aprovem “alguma coisa”, mas que, sobretudo, anulem a oposição e garantam tranquilidade na esfera parlamentar, evitando o constrangimento de CPIs e outros perrengues. Antes que se atribua responsabilidade exclusiva ao PT, é bom dizer que nos Estados governados pela oposição as Assembleias Legislativas têm, em regra, o mesmo padrão.
Culpa dos governos que não têm agenda, ou não têm agenda porque não acreditam na capacidade de suas coalizões cumprirem acordos sem impor novos custos, tornando o processo de reforma mais dispendioso que o mal que se procura curar? O fato é que há um vazio de projetos, planos, propostas; um irritante vazio de Política com o “P” maiúsculo. O Brasil chegou à perfeição ou houve uma rendição incondicional às impossibilidades colocadas pela pequena política? Estamos longe, muito longe, da perfeição.
(...)
Para continuar a leitura, acesse  http://melo.blog.br/2014/03/16/cretinismo-eleitoral/





Carlos Melo – Cientista político, professor da Insper e autor de Collor – o ator e suas circunstâncias (Novo Conceito) – 16.03.2014
IN O Estado de São Paulo. 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Coxinhas: troquem o “vá para Cuba” por “vá para Suécia”


A esquerda admira a história de resistência de Cuba mas o país que realmente inspirou a social democracia brasileira, encarnada tanto por PSDB e PT, e depois apenas por este último, foi a Suécia.
O PSDB em seguida debandou para a direita e hoje se junta ao Lobão em marchas pelo impeachment de uma presidenta eleita há algumas semanas.

Miguel do Rosário
A falta de informação também vitima o nosso alto coxinhato de direita.
Tivesse mais dados, poderia nos mandar para a Suécia, ao invés de Cuba. É lá que se conseguiu construir o socialismo democrático que sempre inspirou a nova esquerda brasileira, surgida após a ditadura.
Por alguma razão, as informações sobre o regime político sueco sempre foram censuradas no Brasil.
Construiu-se toda uma mitologia em torno de Cuba, como se o regime fechado socialista de uma ilha do Caribe tivesse algo a ver com nossos anseios democráticos.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://tijolaco.com.br/blog/?p=23497



Miguel do Rosário – 06.12.2014
IN Tijolaço.





Suécia elege ex-metalúrgico para o cargo de primeiro-ministro

Stefan Lofven é líder de um dos maiores e mais importantes sindicatos do país, que representa 350 mil trabalhadores.

Redação Rede Brasil Atual
São Paulo – Após oito anos de conservadorismo no poder, os eleitores suecos voltaram a eleger um representante da esquerda ao poder. Stefan Lofven foi indicado pelo Partido Social-Democrata para formar um novo governo, em substituição ao gabinete de Fredrik Reinfeldt. O ex-metalúrgico e sindicalista é membro do IF Metall, entidade sindical que mantém colaboração com os trabalhadores brasileiros desde a década de 1970.

Lofven participou das negociações, junto aos metalúrgicos do ABC, com a Força Aérea Brasileira (FAB), que culminaram na compra de 36 caças Gripen NG, da sueca Saab. Em breve, a empresa vai instalar uma fábrica em São Bernardo do Campo,  no ABC paulista, o que deve criar centenas de empregos.

Falando à reportagem do Seu Jornal, da TVT, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Valter Sanches traçou um paralelo com a experiência brasileira, destacando a contribuição da vivência sindical para a esfera política. “Essa visão de mundo, essa bagagem de experiências, de buscas, de saídas, de investimento no desenvolvimento social, do desenvolvimento industrial para alavancar o crescimento é uma coisa que deu bastante resultado para nós, brasileiros”, afirma.
(...)



Redação Rede Brasil Atual – 08.10.2014
IN Rede Brasil Atual.


domingo, 22 de março de 2015

Sobre o 15 de março


O dia 15 representou o esforço da direita –com pesado suporte midiático– em surfar na onda da insatisfação popular. A indignação com a corrupção e principalmente com a deterioração das condições econômicas está longe de ser pauta de direita. Aliás, ao longo da história foram quase sempre pautas da esquerda.
Neste mesmo sentido, o dia 15 também demonstrou a incapacidade da direita em oferecer respostas concretas para esta insatisfação. Contra corrupção: Fora, PT! Contra o aumento de tarifas: Fora, PT! Por saúde e educação: Fora, PT!
(...)
O ajuste fiscal e o aumento de tarifas são a onda na qual a direita golpista surfa. São as condições que garantem um apoio popular difuso às manifestações como a do dia 15.

Guilherme Boulos
Convocadas pela mídia, capitaneadas por obscuros grupelhos de direita, multidões foram às ruas do país em 15 de março. O que se viu foram níveis recordes da Escala F, criada por Theodor Adorno para medir as tendências fascistas que emergem nas democracias liberais.
Pais de família fazendo ofensas misóginas à presidenta da República. Um torturador da ditadura aclamado no carro de som ao discursar que “conhece essa gente e só não metralhou a todos porque faltou oportunidade”. Ataques físicos a setores da imprensa e tentativas de espancamento a quem vestisse vermelho ou destoasse do consenso coletivo.
Um discurso anticomunista tal qual o da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que preparou o golpe de Estado de 1964. Aliás, não faltou quem defendesse a intervenção militar como saída para o país. Longe de ser algo isolado –como quis fazer crer a grande mídia–, os golpistas estavam totalmente à vontade e de acordo com o clima dos atos. A PM foi exaltada. A tropa de choque, em São Paulo, ganhou flores e selfies.
Respondeu a gentileza à altura. Estimou em 1 milhão de participantes a mobilização, que o Datafolha mostrou ter pouco mais de 200 mil. Curioso que se trata da mesma PM de notória avareza nos números quando quem está nas ruas são movimentos populares organizados.
(...)






Guilherme Boulos – Professor de psicanálise e membro da coordenação nacional do MTST – 16.03.2015

IN Folha de São Paulo.

sexta-feira, 20 de março de 2015

“Amor e Sexo”: morri e fui pro inferno

 

O assédio na rua é tão naturalizado que muitas mulheres acreditam que a presença do assédio é a confirmação de que são “normais”, “aceitáveis” e desejáveis. (...) E isso acontece porque somos criadas pra buscar aprovação masculina, que é outra tecla que nossos lindos dedinhos já estão cansados de bater. (...) Os homens que assediam mulheres na rua não têm nenhum interesse nelas. Eles não querem sentar e ouvir sobre a vida delas, não querem chamar para uns bons drink, não querem nada. Não há um interesse real; há apenas uma relação de poder em que eles fazem isso porque podem, porque foram ensinados que “mulher gosta”, porque há a percepção de que as mulheres que estão na rua são corpos disponíveis.

Clara
 Recebemos inúmeros tweets e emails a respeito do programa “Amor e Sexo” de ontem.
Achei que era o caso de ver, pois me contaram barbaridades. Só digo que a minha sensação, após ver metade do programa, foi: Morri e fui pro inferno.
Não sei nem por onde começar a gongar, mas posso garantir que ninguém precisa passar por aquilo, então nem vejam. Eu achei que fosse ter um treco. Foi tanta, mas tanta coisa errada que não cabe tudo num post, então vou ficar em apenas um dos inúmeros equívocos daquele programa.
A gente bate, bate, bate e bate na tecla de que o que acontece na rua não é “cantada”, não é legal e às vezes até tememos por nossa integridade física, o debate evolui, alguns homens começam a entender e aí fazem o que? Selecionam pedreiros gatinhos no Rio de Janeiro pra contar na televisão o tipo de cantada que eles passam nas mulheres. Como se o cara ser bonito anulasse o desconforto e liberasse tudo. Como se só pedreiros fizessem isso. Como se esse circo fizesse algum sentido.
A única pessoa que fazia sentido lá era Regina Navarro Lins, coitada, que deveria estar ganhando adicional por insalubridade.
Que tipo de plateia GARGALHA quando uma mulher (no caso, a Letícia Spiller) conta que quando estava grávida de 5 meses e a barriga não aparecia direito um cara enfiou a mão debaixo da saia dela (“lá”, segundo ela) e apertou? Gargalharam, gente. Não vou nem entrar na questão da barriga aparecer ou não, dela estar grávida ou não, as pessoas riram de uma mulher sendo assediada desse jeito. É engraçado? Onde que isso é engraçado?
(...)
Para continuar a leitura, acesse  http://lugardemulher.com.br/amor-e-sexo-morri-e-fui-pro-inferno/






Clara – 01.11.2014
IN “Lugar de Mulher” (republicado no Geledés).

terça-feira, 17 de março de 2015

A única coisa “venezuelana” no Brasil é a direita e sua mídia


O problema de nossa direita é que seu primarismo e seu ódio não permitem que ela se desvencilhe da selvageria e do udenismo mais vociferante para assumirem a condição de “liberais civilizados”. (...)
Os “democratas”, os “liberais” os “limpos”, que vivem de concessões públicas e abocanham gordas verbas de publicidade jamais se abstiveram disso, inclusive nos tempos que engordaram com a ditadura militar.Nossa imprensa é a favor da liberdade, desde que todos concordem e aceitem o que ela diz.

Fernando Britto
É patético o esforço dos derrotados da direita brasileira para nos fazerem comparações “bolivarianas”.
Aliás, é curioso que alguns que jamais enfrentaram uma ditadura e muito menos lutaram  pelo restabelecimento do direito de voto digam  que aqueles que lutaram anos por isso  que são tirânicos e totalitários.
Mas, como somos civilizados, aceitemos o debate.
Mesmo que tomemos como verdadeiras todas as acusações feitas ao governo do país vizinho, eu gostaria que os senhores – desde os coxinhas até os “colunistas”  de jornal cujo único mérito, em matéria de colunas, é saber fleti-las aos interesses dos patrões – me respondessem o que há, aqui, de semelhante ao que chamam de “bolivarianismo”.
Qual é o veículo de comunicação que está sob censura?
Qual é a empresa, de qualquer setor, que foi desapropriada ou estatizada?
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://tijolaco.com.br/blog/?p=22411&fb_action_ids=928973653797499&fb_action_types=og.likes






Fernando Britto – 23.10.2014
IN Tijolaço.

domingo, 15 de março de 2015

Medos privados em lugares públicos: homem cordial assombra biografias


"Raízes do Brasil", publicado por Sérgio Buarque de Holanda há quase 80 anos, diagnosticou na cordialidade a rede de relações privadas que comanda a cena pública do país. O homem cordial, símbolo da fluidez entre as duas esferas, reaparece no debate sobre as biografias ao reivindicar para seus desejos o amparo da lei.

Heloisa Starling e Lilia Moritz Schwarcz
No Brasil, a vida privada ocupa ainda hoje o papel de nossa principal referência. A interpretação mais frequente desse fenômeno aposta na ideia de que a ancoragem no privado é sinal de maturidade democrática. O suposto é que essa expansão democrática se sustenta em direitos e, uma vez que os direitos são respeitados, não há motivo para maior preocupação.
Tal abordagem converge com o fortalecimento da ideia do indivíduo como personagem de si mesmo e tem sido recorrente para explicar tanto a importância que atribuímos a certa escrita autorreferencial quanto para sustentar o argumento de que só quem viu, sentiu e experimentou pode registrar a verdade dos fatos vividos.
Visto pela perspectiva do mundo privado, cada um de nós seria, ao mesmo tempo, autor e editor de uma escrita de si: apenas o indivíduo --e sua memória-- seria capaz de ordenar, rearranjar e significar o trajeto de uma vida no suporte de um texto e disso criar uma narrativa; e apenas ele, que conhece a autenticidade de suas ações e emoções, estaria autorizado a expressá-las para si e para os demais.






Heloisa Starling – Professora titular de história da UFMG;  Lilia Moritz Schwarcz – Professora titular de antropologia da USP – 03.11.2013

IN Folha de São Paulo, Ilustríssima. 

quinta-feira, 12 de março de 2015

A história de um naufrágio

I.

É preciso olhar de frente e sem ilusões: a social-democracia e o socialismo europeus acabaram.

José Luís Fiori
É preciso olhar de frente e sem ilusões: a social-democracia e o socialismo europeus acabaram. Acabaram como utopia, como ideologia e como projeto político autônomo. De forma inglória, na Itália, Grécia, Portugal e Espanha, e de forma desastrosa, na França de Françoise Hollande, com sua xenofobia e seu “belicismo humanitário”; e na Alemanha, dos governos de coalisão e da submissão social-democrata, ao conservadorismo de Angela Merkel, com sua visão “germanocentrica” e hierárquica da União Europeia, e da sua relação com o mundo islâmico. Este espetáculo terminal, entretanto, inscreve-se numa longa história que começou no fim do século XIX, e atravessou várias “revisões” teóricas e estratégicas, e inúmeras experiências parlamentares e de governo, que foram alterando, progressivamente, através do século XX, os objetivos e a própria identidade do socialismo europeu, até chegar ao desastre atual.
Tudo começou em 1884, com a defesa de Eduard Bernstein, da necessidade de modificar ou reinterpretar algumas teses marxistas clássicas sobre a “luta de classes” e a “revolução socialista”, à luz das grandes transformações capitalistas das últimas décadas do século XIX, e das necessidades da luta eleitoral do partido social-democrata alemão, que era o mais importante da Europa, naquele momento.  Segundo Bernstein, o progresso tecnológico e a centralização e internacionalização do capital haviam mudado a natureza da classe operária e a própria dinâmica do sistema capitalista, cujo desenvolvimento histórico já não apontaria mais na direção  da “pauperização crescente”, da “crise final” e da “revolução socialista”.
(...)
José Luís Fiori Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, 2007 – 26.10.2013
IN Carta Maior.


II.

Os socialistas e os social-democratas europeus só perderam definitivamente o seu rumo e a sua identidade, depois do fim da União Soviética.

José Luís Fiori
“As the twentieth century was coming to a close, socialists could not but re-examine, yet again, the framework of their doctrine. They did so as they had always done: in a confuse and unco-ordinated manner, propelled by the contingency of everyday politics and the pressure of electoral consideration. They could not do otherwise. Moving forward is no guarantee of success. Standing still offers the certainty of defeat”.
Donald Sassoon (1997), One Hundred Years of Socialism, Fontana Press, London, p: 754     
Ao fazer o balanço do socialismo europeu, no início do século XXI, é possível extrair pelo menos três grandes ensinamentos de sua trajetória e de suas experiências governamentais, do século passado: 
i) A  sua identidade doutrinária foi sendo desmontada pelos próprios socialistas, através de sucessivas revisões teóricas, ideológicas e políticas de sua matriz originária, de inspiração marxista, feitas sempre em nome das “transformações do capitalismo”, e das exigências da “luta eleitoral”. Mas a lenta e progressiva “desconstrução” desta matriz não deu lugar à nenhuma outra teoria com a mesma capacidade marxista de definir objetivos, atores e estratégias, a partir de um diagnóstico de longo prazo das tendências críticas do capitalismo. Pelo contrário, estas sucessivas revisões foram criando uma verdadeira “colcha de retalhos”, que foi sendo tecida de forma pragmática, como resposta aos desafios imediatos, e como justificativa de decisões políticas conjunturais, cada vez mais contraditórias, com relação aos objetivos iniciais dos socialistas.
José Luís Fiori Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, 2007 – 12.11.2013
IN Carta Maior.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O rock star da economia



THOMAS PIKKETY – Há forças tanto para aumento da desigualdade como para sua redução. O conhecimento, a educação, a qualificação permitem, em certo momento, reduzir as desigualdades, tanto entre países - como entre emergentes e desenvolvidos -, como também no interior de países, se há instituições educativas que permitem a cada um ascender a funções melhor remuneradas. Essa é uma força potente da redução de desigualdades. Mas pode não ser suficiente. Há forças de amplificação das desigualdades, em particular em países de crescimento fraco. No longo prazo, todos os países terão crescimento fraco, pois não dá para crescer eternamente a 5% ou 10% ao ano. A experiência histórica sugere que, quando estamos na fronteira tecnológica mundial, o crescimento se reduz.

Assis Moreira
Em seu modesto escritório na Escola de Economia de Paris, quase na periferia da capital francesa, Thomas Piketty, o economista mais famoso do momento, não demonstra qualquer afetação e parece reagir genuinamente com humildade ao estrondoso sucesso de seu livro. "O Capital no Século XXI" é uma obra (de 970 páginas em francês e 685 em inglês, mas de idêntico conteúdo) sobre a história do dinheiro, do patrimônio e do aumento da desigualdade no mundo, que tende a se tornar incontornável no debate econômico.
Ao receber o Valor, Piketty confirma que assinou contrato para a publicação do livro em português - no Brasil será editado pelo Intrínseca - e que os direitos autorais já foram vendidos para publicação em outros 20 idiomas. Comenta, com naturalidade, que já foram vendidos 250 mil exemplares nos Estados Unidos, dos quais 150 mil nas últimas duas semanas. Na maior economia do mundo, Piketty tornou-se uma espécie de economista "rock star". O auditório para sua palestra na City University de Nova York, no mês passado, estava tão repleto que obrigou à transmissão, por canal fechado, para outro espaço. Ele foi depois à Casa Branca, em Washington, a convite do secretário americano do Tesouro, Jacob Lew, para discutir as conclusões de seu livro.
Piketty diz que se trata de 15 anos de pesquisas não só dele, mas de um grupo de economistas, que cita nominalmente. Depois, reconhece que seu mérito é o de mostrar, pela primeira vez, dados sólidos para um debate permanente sobre a desigualdade.
Ele argumenta que a tendência geral é de haver mais desequilíbrio nas sociedades, e não de maior igualdade econômica. Uma de suas principais conclusões é que o mundo vai na direção de um capitalismo patrimonialista, com acumulação de renda ininterrupta enquanto persistir uma taxa de retorno financeiro bem mais alta do que o crescimento da economia.
Piketty desmonta a tese de que o mundo desenvolvido vive numa meritocracia, um sistema em que desigualdades ocorrem num contexto de prevalência da seleção por mérito e dedicação ao trabalho, mais do que por influência de fatores relacionados a filiação e renda.
Na verdade, afirma, o discurso de meritocracia fica longe da realidade: na lista dos bilionários da revista "Forbes", 60% têm fortuna herdada. E numa sociedade dominada pela riqueza, dinheiro compra poder e a desigualdade não é eliminada.
É sua convicção que a dinâmica mundial de acumulação e repartição de patrimônios vai na direção de trajetórias explosivas e espirais de desigualdade fora de controle. "Não há piloto no avião, nessa história", disse Piketty na entrevista.
Sobre a situação nas economias emergentes, ele acha que os rendimentos mais altos vão continuar obtendo uma parte desproporcional do crescimento da produção, mas o ritmo de aumento poderá ser atenuado pela expansão da economia.
Para salvar o capitalismo dos capitalistas, como resumiu o "Financial Times", Piketty propõe um imposto mundial sobre o capital. Mas acha que há muito a fazer antes, em termos nacionais, para imposição de um verdadeiro imposto progressivo sobre a renda e as heranças.
(...)
Para continuar a leitura e ver a entrevista, acesse http://www.valor.com.br/cultura/3549452/o-rock-star-da-economia#ixzz31tA4Ezid

Assis Moreira – 16.05.2014
IN Valor Econômico.

Prevenção contra o desastre da desigualdade

Para que sejam realmente efetivos, aumentos no imposto sobre a riqueza — que acabam incidindo mais sobre aposentados ou outras pessoas ricas de alta mobilidade geográfica — teriam de incluir um componente internacional; de outra forma, os ricos simplesmente emigrariam para o país que tivesse os impostos mais baixos. A impopularidade de impostos sobre a riqueza tem impedido a cooperação internacional. A Finlândia teve um imposto sobre a riqueza, mas acabou derrubando-o. Áustria, Dinamarca, Alemanha, Suécia e Espanha também.

Robert J. Schiller
O admirável e tão discutido livro de Thomas Piketty, “Capital no Século XXI” 1, trouxe atenção considerável ao problema do aumento da desigualdade econômica. Soluções, no entanto, não são seu forte. Como Piketty admite, sua proposta — um imposto mundial progressivo sobre o capital (ou riqueza) — “exigiria um nível muito alto e sem dúvida irrealista de cooperação internacional”. Não deveríamos concentrar o foco em soluções rápidas. A preocupação realmente importante para as autoridades, no mundo, é evitar desastres — ou seja, mais importantes são os eventos atípicos. E, como a desigualdade tende a mudar lentamente, qualquer desastre provavelmente só chegaria daqui a décadas.
Tal desastre — uma volta a níveis de desigualdade que não se veem desde o fim do século XIX e início do XX — é descrito de forma ampla no livro de Piketty. Nesse cenário, uma diminuta minoria torna-se super-rica — em grande parte, não por ser mais esperta ou por trabalhar mais que os demais, mas porque as forças dos fundamentos econômicos distribuem a renda caprichosamente.
(...)


Robert J. Schiller - Prêmio Nobel de Economia em 2013, é professor na Yale University e coautor, com George Akerlof, de “O Espírito Animal: Como a Psicologia Humana Impulsiona a Economia e a sua Importância para o Capitalismo Global – 16.05.2014
IN Valor Econômico.