THOMAS PIKKETY – Há forças tanto para aumento da
desigualdade como para sua redução. O conhecimento, a educação, a qualificação
permitem, em certo momento, reduzir as desigualdades, tanto entre países - como
entre emergentes e desenvolvidos -, como também no interior de países, se há
instituições educativas que permitem a cada um ascender a funções melhor
remuneradas. Essa é uma força potente da redução de desigualdades. Mas pode não
ser suficiente. Há forças de amplificação das desigualdades, em particular em
países de crescimento fraco. No longo prazo, todos os países terão crescimento
fraco, pois não dá para crescer eternamente a 5% ou 10% ao ano. A experiência
histórica sugere que, quando estamos na fronteira tecnológica mundial, o
crescimento se reduz.
Assis Moreira
Em seu modesto escritório na Escola de Economia de Paris, quase na
periferia da capital francesa, Thomas Piketty, o economista mais famoso do momento,
não demonstra qualquer afetação e parece reagir genuinamente com humildade ao
estrondoso sucesso de seu livro. "O Capital no Século XXI" é uma obra
(de 970 páginas em francês e 685 em inglês, mas de idêntico conteúdo) sobre a
história do dinheiro, do patrimônio e do aumento da desigualdade no mundo, que
tende a se tornar incontornável no debate econômico.
Ao receber o Valor, Piketty confirma que assinou contrato
para a publicação do livro em português - no Brasil será editado pelo
Intrínseca - e que os direitos autorais já foram vendidos para publicação em
outros 20 idiomas. Comenta, com naturalidade, que já foram vendidos 250 mil
exemplares nos Estados Unidos, dos quais 150 mil nas últimas duas semanas. Na
maior economia do mundo, Piketty tornou-se uma espécie de economista "rock
star". O auditório para sua palestra na City University de Nova York, no
mês passado, estava tão repleto que obrigou à transmissão, por canal fechado,
para outro espaço. Ele foi depois à Casa Branca, em Washington, a convite do
secretário americano do Tesouro, Jacob Lew, para discutir as conclusões de seu
livro.
Piketty diz que se trata de 15 anos de pesquisas não só dele, mas de um
grupo de economistas, que cita nominalmente. Depois, reconhece que seu mérito é
o de mostrar, pela primeira vez, dados sólidos para um debate permanente sobre
a desigualdade.
Ele argumenta que a tendência geral é de haver mais desequilíbrio nas
sociedades, e não de maior igualdade econômica. Uma de suas principais
conclusões é que o mundo vai na direção de um capitalismo patrimonialista, com
acumulação de renda ininterrupta enquanto persistir uma taxa de retorno
financeiro bem mais alta do que o crescimento da economia.
Piketty desmonta a tese de que o mundo desenvolvido vive numa
meritocracia, um sistema em que desigualdades ocorrem num contexto de
prevalência da seleção por mérito e dedicação ao trabalho, mais do que por influência
de fatores relacionados a filiação e renda.
Na verdade, afirma, o discurso de meritocracia fica longe da realidade:
na lista dos bilionários da revista "Forbes", 60% têm fortuna
herdada. E numa sociedade dominada pela riqueza, dinheiro compra poder e a
desigualdade não é eliminada.
É sua convicção que a dinâmica mundial de acumulação e repartição de
patrimônios vai na direção de trajetórias explosivas e espirais de desigualdade
fora de controle. "Não há piloto no avião, nessa história", disse
Piketty na entrevista.
Sobre a situação nas economias emergentes, ele acha que os rendimentos
mais altos vão continuar obtendo uma parte desproporcional do crescimento da
produção, mas o ritmo de aumento poderá ser atenuado pela expansão da economia.
Para salvar o capitalismo dos capitalistas, como resumiu o
"Financial Times", Piketty propõe um imposto mundial sobre o capital.
Mas acha que há muito a fazer antes, em termos nacionais, para imposição de um
verdadeiro imposto progressivo sobre a renda e as heranças.
(...)
Assis Moreira – 16.05.2014
IN Valor Econômico.
Prevenção
contra o desastre da desigualdade
Para
que sejam realmente efetivos, aumentos no imposto sobre a riqueza que acabam incidindo mais sobre
aposentados ou outras pessoas ricas de alta mobilidade geográfica teriam de
incluir um componente internacional; de outra forma, os ricos simplesmente
emigrariam para o país que tivesse os impostos mais baixos. A impopularidade de impostos
sobre a riqueza tem impedido a cooperação internacional. A Finlândia teve um
imposto sobre a riqueza, mas acabou derrubando-o. Áustria, Dinamarca, Alemanha,
Suécia e Espanha também.
Robert J. Schiller
O admirável e tão discutido livro de Thomas Piketty, Capital no Século
XXI 1, trouxe atenção considerável ao problema do aumento da desigualdade
econômica. Soluções, no entanto, não são seu forte. Como Piketty admite, sua
proposta um imposto mundial progressivo sobre o capital (ou riqueza)
exigiria um nível muito alto e sem dúvida irrealista de cooperação
internacional. Não deveríamos concentrar o foco em soluções rápidas. A
preocupação realmente importante para as autoridades, no mundo, é evitar desastres
ou seja, mais importantes são os eventos atípicos. E, como a desigualdade
tende a mudar lentamente, qualquer desastre provavelmente só chegaria daqui a
décadas.
Tal desastre uma volta a níveis de desigualdade que não se veem desde
o fim do século XIX e início do XX é descrito de forma ampla no livro de
Piketty. Nesse cenário, uma diminuta minoria torna-se super-rica em grande
parte, não por ser mais esperta ou por trabalhar mais que os demais, mas porque
as forças dos fundamentos econômicos distribuem a renda caprichosamente.
(...)
Robert J. Schiller - Prêmio Nobel de Economia em 2013, é professor na Yale University e
coautor, com George Akerlof, de O Espírito Animal: Como a Psicologia Humana
Impulsiona a Economia e a sua Importância para o Capitalismo Global – 16.05.2014
IN Valor Econômico.