O assédio na rua é tão naturalizado que
muitas mulheres acreditam que a presença do assédio é a confirmação de que são
“normais”, “aceitáveis” e desejáveis. (...) E isso acontece porque somos
criadas pra buscar aprovação masculina, que é outra tecla que nossos lindos
dedinhos já estão cansados de bater. (...) Os homens que assediam mulheres na
rua não têm nenhum interesse nelas. Eles não querem sentar e ouvir sobre a vida
delas, não querem chamar para uns bons drink, não querem nada. Não há um
interesse real; há apenas uma relação de poder em que eles fazem isso
porque podem, porque foram ensinados que “mulher gosta”, porque há a
percepção de que as mulheres que estão na rua são corpos disponíveis.
Clara
Recebemos inúmeros tweets e emails a respeito do programa “Amor e
Sexo” de ontem.
Achei que era o caso de ver, pois me contaram barbaridades. Só digo que
a minha sensação, após ver metade do programa, foi: Morri e fui pro
inferno.
Não sei nem por onde começar a gongar, mas posso garantir que ninguém
precisa passar por aquilo, então nem vejam. Eu achei que fosse ter um treco.
Foi tanta, mas tanta coisa errada que não cabe tudo num post, então vou ficar
em apenas um dos inúmeros equívocos daquele programa.
A gente bate, bate, bate e bate na tecla de que o que acontece na rua
não é “cantada”, não é legal e às vezes até tememos por nossa integridade
física, o debate evolui, alguns homens começam a entender e aí fazem o que?
Selecionam pedreiros gatinhos no Rio de Janeiro pra contar na televisão o
tipo de cantada que eles passam nas mulheres. Como se o cara ser bonito
anulasse o desconforto e liberasse tudo. Como se só pedreiros fizessem isso.
Como se esse circo fizesse algum sentido.
A única pessoa que fazia sentido lá era Regina Navarro Lins, coitada,
que deveria estar ganhando adicional por insalubridade.
Que tipo de plateia GARGALHA quando uma mulher (no caso, a Letícia
Spiller) conta que quando estava grávida de 5 meses e a barriga não aparecia
direito um cara enfiou a mão debaixo da saia dela (“lá”, segundo ela) e
apertou? Gargalharam, gente. Não vou nem entrar na questão da barriga aparecer
ou não, dela estar grávida ou não, as pessoas riram de uma mulher sendo
assediada desse jeito. É engraçado? Onde que isso é engraçado?
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://lugardemulher.com.br/amor-e-sexo-morri-e-fui-pro-inferno/
Clara – 01.11.2014
IN “Lugar de Mulher” (republicado no Geledés).