domingo, 22 de março de 2015

Sobre o 15 de março


O dia 15 representou o esforço da direita –com pesado suporte midiático– em surfar na onda da insatisfação popular. A indignação com a corrupção e principalmente com a deterioração das condições econômicas está longe de ser pauta de direita. Aliás, ao longo da história foram quase sempre pautas da esquerda.
Neste mesmo sentido, o dia 15 também demonstrou a incapacidade da direita em oferecer respostas concretas para esta insatisfação. Contra corrupção: Fora, PT! Contra o aumento de tarifas: Fora, PT! Por saúde e educação: Fora, PT!
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O ajuste fiscal e o aumento de tarifas são a onda na qual a direita golpista surfa. São as condições que garantem um apoio popular difuso às manifestações como a do dia 15.

Guilherme Boulos
Convocadas pela mídia, capitaneadas por obscuros grupelhos de direita, multidões foram às ruas do país em 15 de março. O que se viu foram níveis recordes da Escala F, criada por Theodor Adorno para medir as tendências fascistas que emergem nas democracias liberais.
Pais de família fazendo ofensas misóginas à presidenta da República. Um torturador da ditadura aclamado no carro de som ao discursar que “conhece essa gente e só não metralhou a todos porque faltou oportunidade”. Ataques físicos a setores da imprensa e tentativas de espancamento a quem vestisse vermelho ou destoasse do consenso coletivo.
Um discurso anticomunista tal qual o da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que preparou o golpe de Estado de 1964. Aliás, não faltou quem defendesse a intervenção militar como saída para o país. Longe de ser algo isolado –como quis fazer crer a grande mídia–, os golpistas estavam totalmente à vontade e de acordo com o clima dos atos. A PM foi exaltada. A tropa de choque, em São Paulo, ganhou flores e selfies.
Respondeu a gentileza à altura. Estimou em 1 milhão de participantes a mobilização, que o Datafolha mostrou ter pouco mais de 200 mil. Curioso que se trata da mesma PM de notória avareza nos números quando quem está nas ruas são movimentos populares organizados.
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Guilherme Boulos – Professor de psicanálise e membro da coordenação nacional do MTST – 16.03.2015

IN Folha de São Paulo.