O dia 15 representou o esforço da direita –com pesado suporte midiático–
em surfar na onda da insatisfação popular. A indignação com a corrupção e
principalmente com a deterioração das condições econômicas está longe de ser
pauta de direita. Aliás, ao longo da história foram quase sempre pautas da
esquerda.
Neste mesmo sentido, o dia 15 também demonstrou a incapacidade da
direita em oferecer respostas concretas para esta insatisfação. Contra
corrupção: Fora, PT! Contra o aumento de tarifas: Fora, PT! Por saúde e
educação: Fora, PT!
(...)
O ajuste fiscal e o aumento de tarifas são a onda na qual a direita
golpista surfa. São as condições que garantem um apoio popular difuso às
manifestações como a do dia 15.
Guilherme Boulos
Convocadas pela mídia, capitaneadas por
obscuros grupelhos de direita, multidões foram às ruas do país em 15 de março.
O que se viu foram níveis recordes da Escala F, criada por Theodor Adorno para
medir as tendências fascistas que emergem nas democracias liberais.
Pais de família fazendo ofensas misóginas à
presidenta da República. Um torturador da ditadura aclamado no carro de som ao
discursar que “conhece essa gente e só não metralhou a todos porque faltou
oportunidade”. Ataques físicos a setores da imprensa e tentativas de
espancamento a quem vestisse vermelho ou destoasse do consenso coletivo.
Um discurso anticomunista tal qual o da Marcha da
Família com Deus pela Liberdade, que preparou o golpe de Estado de 1964. Aliás,
não faltou quem defendesse a intervenção militar como saída para o país. Longe
de ser algo isolado –como quis fazer crer a grande mídia–, os golpistas estavam
totalmente à vontade e de acordo com o clima dos atos. A PM foi exaltada. A
tropa de choque, em São Paulo, ganhou flores e selfies.
Respondeu a gentileza à altura. Estimou em 1 milhão
de participantes a mobilização, que o Datafolha mostrou ter pouco mais de 200
mil. Curioso que se trata da mesma PM de notória avareza nos números quando
quem está nas ruas são movimentos populares organizados.
(...)
Para continuar a
leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/colunas/guilhermeboulos/2015/03/1605382-sobre-o-15-de-marco.shtml
Guilherme Boulos – Professor de psicanálise e membro da coordenação
nacional do MTST – 16.03.2015
IN Folha de São Paulo.