sexta-feira, 27 de março de 2015

Consenso Negativo


de uns tempos para cá, esse mesmo presidencialismo mudou de caráter e a relação ficou deficitária. Aliados de ocasião recebem seu quinhão de poder, mas já não garantem a execução de programas. As tais “maiorias” são incapazes de fazer reformas e pouco colaboram com os governos. Delas se espera, antes, que não atrapalhem, aprovem “alguma coisa”, mas que, sobretudo, anulem a oposição e garantam tranquilidade na esfera parlamentar, evitando o constrangimento de CPIs e outros perrengues. Antes que se atribua responsabilidade exclusiva ao PT, é bom dizer que nos Estados governados pela oposição as Assembleias Legislativas têm, em regra, o mesmo padrão.

Carlos Melo 
É fato que durante algum tempo o presidencialismo de coalizão do Brasil fez o seu papel: o antipático “é dando que se recebe” foi impiedosamente apedrejado pela opinião pública, mas contribuiu para a efetivação de importante agenda econômica e social. O País saiu da ditadura e do caos inflacionário para um regime que distribuiu renda e fez considerável inclusão. Modernizou-se em vários aspectos e, mesmo com tanta desinteligência que há, é mais democrático do que jamais foi. Houve inegável avanço. Pode-se dizer que o preço – na moeda corrente de cargos e recursos públicos que distribuiu – valeu, já que a transformação não foi pequena. Política também é custo-benefício, e o Brasil de hoje é melhor do que há 20 anos. Ademais, em qualquer lugar, fazer reformas profundas é tarefa custosa.
Mas é necessário reconhecer que, de uns tempos para cá, esse mesmo presidencialismo mudou de caráter e a relação ficou deficitária. Aliados de ocasião recebem seu quinhão de poder, mas já não garantem a execução de programas. As tais “maiorias” são incapazes de fazer reformas e pouco colaboram com os governos. Delas se espera, antes, que não atrapalhem, aprovem “alguma coisa”, mas que, sobretudo, anulem a oposição e garantam tranquilidade na esfera parlamentar, evitando o constrangimento de CPIs e outros perrengues. Antes que se atribua responsabilidade exclusiva ao PT, é bom dizer que nos Estados governados pela oposição as Assembleias Legislativas têm, em regra, o mesmo padrão.
Culpa dos governos que não têm agenda, ou não têm agenda porque não acreditam na capacidade de suas coalizões cumprirem acordos sem impor novos custos, tornando o processo de reforma mais dispendioso que o mal que se procura curar? O fato é que há um vazio de projetos, planos, propostas; um irritante vazio de Política com o “P” maiúsculo. O Brasil chegou à perfeição ou houve uma rendição incondicional às impossibilidades colocadas pela pequena política? Estamos longe, muito longe, da perfeição.
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Carlos Melo – Cientista político, professor da Insper e autor de Collor – o ator e suas circunstâncias (Novo Conceito) – 16.03.2014
IN O Estado de São Paulo.