"Raízes do Brasil", publicado por Sérgio
Buarque de Holanda há quase 80 anos, diagnosticou na cordialidade a rede de
relações privadas que comanda a cena pública do país. O homem cordial, símbolo
da fluidez entre as duas esferas, reaparece no debate sobre as biografias ao
reivindicar para seus desejos o amparo da lei.
Heloisa
Starling e Lilia
Moritz Schwarcz
No Brasil, a vida privada ocupa ainda hoje o papel
de nossa principal referência. A interpretação mais frequente desse fenômeno
aposta na ideia de que a ancoragem no privado é sinal de maturidade
democrática. O suposto é que essa expansão democrática se sustenta em direitos
e, uma vez que os direitos são respeitados, não há motivo para maior
preocupação.
Tal abordagem converge com o fortalecimento da
ideia do indivíduo como personagem de si mesmo e tem sido recorrente para
explicar tanto a importância que atribuímos a certa escrita autorreferencial
quanto para sustentar o argumento de que só quem viu, sentiu e experimentou
pode registrar a verdade dos fatos vividos.
Visto pela perspectiva do mundo privado, cada um de
nós seria, ao mesmo tempo, autor e editor de uma escrita de si: apenas o
indivíduo --e sua memória-- seria capaz de ordenar, rearranjar e significar o
trajeto de uma vida no suporte de um texto e disso criar uma narrativa; e
apenas ele, que conhece a autenticidade de suas ações e emoções, estaria
autorizado a expressá-las para si e para os demais.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/137093-medos-privados-em-lugares-publicos.shtml
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Heloisa
Starling – Professora titular de história da UFMG; Lilia Moritz
Schwarcz – Professora titular de antropologia da USP – 03.11.2013
IN Folha de São Paulo, Ilustríssima.