segunda-feira, 9 de março de 2015

O rock star da economia



THOMAS PIKKETY – Há forças tanto para aumento da desigualdade como para sua redução. O conhecimento, a educação, a qualificação permitem, em certo momento, reduzir as desigualdades, tanto entre países - como entre emergentes e desenvolvidos -, como também no interior de países, se há instituições educativas que permitem a cada um ascender a funções melhor remuneradas. Essa é uma força potente da redução de desigualdades. Mas pode não ser suficiente. Há forças de amplificação das desigualdades, em particular em países de crescimento fraco. No longo prazo, todos os países terão crescimento fraco, pois não dá para crescer eternamente a 5% ou 10% ao ano. A experiência histórica sugere que, quando estamos na fronteira tecnológica mundial, o crescimento se reduz.

Assis Moreira
Em seu modesto escritório na Escola de Economia de Paris, quase na periferia da capital francesa, Thomas Piketty, o economista mais famoso do momento, não demonstra qualquer afetação e parece reagir genuinamente com humildade ao estrondoso sucesso de seu livro. "O Capital no Século XXI" é uma obra (de 970 páginas em francês e 685 em inglês, mas de idêntico conteúdo) sobre a história do dinheiro, do patrimônio e do aumento da desigualdade no mundo, que tende a se tornar incontornável no debate econômico.
Ao receber o Valor, Piketty confirma que assinou contrato para a publicação do livro em português - no Brasil será editado pelo Intrínseca - e que os direitos autorais já foram vendidos para publicação em outros 20 idiomas. Comenta, com naturalidade, que já foram vendidos 250 mil exemplares nos Estados Unidos, dos quais 150 mil nas últimas duas semanas. Na maior economia do mundo, Piketty tornou-se uma espécie de economista "rock star". O auditório para sua palestra na City University de Nova York, no mês passado, estava tão repleto que obrigou à transmissão, por canal fechado, para outro espaço. Ele foi depois à Casa Branca, em Washington, a convite do secretário americano do Tesouro, Jacob Lew, para discutir as conclusões de seu livro.
Piketty diz que se trata de 15 anos de pesquisas não só dele, mas de um grupo de economistas, que cita nominalmente. Depois, reconhece que seu mérito é o de mostrar, pela primeira vez, dados sólidos para um debate permanente sobre a desigualdade.
Ele argumenta que a tendência geral é de haver mais desequilíbrio nas sociedades, e não de maior igualdade econômica. Uma de suas principais conclusões é que o mundo vai na direção de um capitalismo patrimonialista, com acumulação de renda ininterrupta enquanto persistir uma taxa de retorno financeiro bem mais alta do que o crescimento da economia.
Piketty desmonta a tese de que o mundo desenvolvido vive numa meritocracia, um sistema em que desigualdades ocorrem num contexto de prevalência da seleção por mérito e dedicação ao trabalho, mais do que por influência de fatores relacionados a filiação e renda.
Na verdade, afirma, o discurso de meritocracia fica longe da realidade: na lista dos bilionários da revista "Forbes", 60% têm fortuna herdada. E numa sociedade dominada pela riqueza, dinheiro compra poder e a desigualdade não é eliminada.
É sua convicção que a dinâmica mundial de acumulação e repartição de patrimônios vai na direção de trajetórias explosivas e espirais de desigualdade fora de controle. "Não há piloto no avião, nessa história", disse Piketty na entrevista.
Sobre a situação nas economias emergentes, ele acha que os rendimentos mais altos vão continuar obtendo uma parte desproporcional do crescimento da produção, mas o ritmo de aumento poderá ser atenuado pela expansão da economia.
Para salvar o capitalismo dos capitalistas, como resumiu o "Financial Times", Piketty propõe um imposto mundial sobre o capital. Mas acha que há muito a fazer antes, em termos nacionais, para imposição de um verdadeiro imposto progressivo sobre a renda e as heranças.
(...)
Para continuar a leitura e ver a entrevista, acesse http://www.valor.com.br/cultura/3549452/o-rock-star-da-economia#ixzz31tA4Ezid

Assis Moreira – 16.05.2014
IN Valor Econômico.

Prevenção contra o desastre da desigualdade

Para que sejam realmente efetivos, aumentos no imposto sobre a riqueza — que acabam incidindo mais sobre aposentados ou outras pessoas ricas de alta mobilidade geográfica — teriam de incluir um componente internacional; de outra forma, os ricos simplesmente emigrariam para o país que tivesse os impostos mais baixos. A impopularidade de impostos sobre a riqueza tem impedido a cooperação internacional. A Finlândia teve um imposto sobre a riqueza, mas acabou derrubando-o. Áustria, Dinamarca, Alemanha, Suécia e Espanha também.

Robert J. Schiller
O admirável e tão discutido livro de Thomas Piketty, “Capital no Século XXI” 1, trouxe atenção considerável ao problema do aumento da desigualdade econômica. Soluções, no entanto, não são seu forte. Como Piketty admite, sua proposta — um imposto mundial progressivo sobre o capital (ou riqueza) — “exigiria um nível muito alto e sem dúvida irrealista de cooperação internacional”. Não deveríamos concentrar o foco em soluções rápidas. A preocupação realmente importante para as autoridades, no mundo, é evitar desastres — ou seja, mais importantes são os eventos atípicos. E, como a desigualdade tende a mudar lentamente, qualquer desastre provavelmente só chegaria daqui a décadas.
Tal desastre — uma volta a níveis de desigualdade que não se veem desde o fim do século XIX e início do XX — é descrito de forma ampla no livro de Piketty. Nesse cenário, uma diminuta minoria torna-se super-rica — em grande parte, não por ser mais esperta ou por trabalhar mais que os demais, mas porque as forças dos fundamentos econômicos distribuem a renda caprichosamente.
(...)


Robert J. Schiller - Prêmio Nobel de Economia em 2013, é professor na Yale University e coautor, com George Akerlof, de “O Espírito Animal: Como a Psicologia Humana Impulsiona a Economia e a sua Importância para o Capitalismo Global – 16.05.2014
IN Valor Econômico.