Walquiria
Leão Rego – “Há
uma crueldade social, uma sociedade com desigualdades tão profundas e tão
antigas. Não se olha o outro como um concidadão, mas como se fosse uma espécie
de sub-humanidade. Certamente essa crueldade vem da escravidão. Nenhum país tem
mais de três séculos de escravidão impunemente. (...) De repente se ganha uma
certa dignidade na vida, algo que nunca se teve, que é a regularidade de uma
renda. Se ganha uma segurança maior e respeitabilidade. Houve também um impacto
econômico e comercial muito grande. Elas são boas pagadoras e aprenderam a
gerir o dinheiro após dez anos de experiência. Não acho que resolveu o
problema. Mas é o início de uma democratização real, da democratização da
democracia brasileira. É inaceitável uma pessoa se considerar um democrata e
achar que não tenha nada a ver com um concidadão que esteja ali caído na rua.
Essa é uma questão pública da maior importância”.
Eleonora de Lucena
Dez anos após sua implantação, o Bolsa Família
mudou a vida nos rincões mais pobres do país: o tradicional coronelismo perde
força e a arraigada cultura da resignação está sendo abalada.
A conclusão é da socióloga Walquiria Leão Rego, 67,
que escreveu, com o filósofo italiano Alessandro Pinzani, "Vozes do Bolsa
Família" (Editora Unesp, 248 págs., R$ 36). O livro será lançado hoje, às
19h, na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis. No local, haverá um
debate mediado por Jézio Gutierre com a participação do cientista político
André Singer e da socióloga Amélia Cohn.
Durante cinco anos, entre 2006 e 2011, a dupla
realizou entrevistas com os beneficiários do Bolsa Família e percorreu lugares
como o Vale do Jequitinhonha (MG), o sertão alagoano, o interior do Maranhão,
Piauí e Recife. Queriam investigar o "poder liberatório do dinheiro"
provocado pelo programa.
Aproveitando férias e folgas, eles pagaram do próprio bolso os custos das viagens. Sem se preocupar com estatística, a pesquisa foi qualitativa e baseada em entrevistas abertas.
Aproveitando férias e folgas, eles pagaram do próprio bolso os custos das viagens. Sem se preocupar com estatística, a pesquisa foi qualitativa e baseada em entrevistas abertas.
Professora de teoria da cidadania na Unicamp, Rego
defende que o Bolsa Família "é o início de uma democratização real"
do país. Nesta entrevista, ela fala dos boatos que sacudiram o programa
recentemente e dos preconceitos que cercam a iniciativa: "Nossa elite é
muito cruel", afirma.
(...)
Para ler a entrevista, acesse http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/06/1293113-bolsa-familia-enfraquece-o-coronelismo-e-rompe-cultura-da-resignacao-diz-sociologa.shtml.
Walquiria
Leão Rego – Pesquisadora e Professora da Universidade
Estadual de Campinas
Eleonora de
Lucena – 12.06.2014
IN Folha de São Paulo.