SÉRGIO
BRAGA – “são várias as conclusões (de estudo realizado no Reino Unido). A primeira
delas é que o Brasil não está tão mal na fita assim quando se trata de
experiências de democracia digital. Na verdade, já temos uma certa tradição de
implementação de iniciativas importantes nesse campo, tais como o programa
e-democracia, da Câmara dos Deputados, os Orçamentos Participativos Digitais,
em algumas cidades brasileiras, e outras experiências de elaboração legal que
contaram com ampla população popular, tais como a lei Ficha Limpa, o Marco
Civil da Internet dentre outras experiências. Há inclusive um grande interesse
internacional sobre estas experiências no Brasil, que são observadas com muita
curiosidade e simpatia por analistas internacionais.
A segunda conclusão
que posso destacar é que os parlamentares dos EUA estão bastante avançados em
relação a outros países no tocante ao uso da internet e das redes social no
exercício do mandato. Na verdade, lá as redes digitais já se incorporaram ao
exercício do mandato parlamentar, sendo um elemento fundamental na interação
com o eleitor e na profissionalização do exercício do mandato pelos
parlamentares. Na verdade, para os parlamentares dos EUA a internet é um
elemento fundamental da profissionalização da representação política e da
prestação de contas contínua pelo parlamentar.
E a terceira é que as
experiências de participação política digital produzem resultados importantes
do ponto de vista da qualidade da democracia, mas ainda existe em muitos países
uma forte resistência a estas experiências, especialmente de três setores da
sociedade: a classe política mais tradicional, burocratas autoritários e
privilegiados, que não querem interagir com a sociedade e prestar contas a ela
e, por fim, o eleitorado mais conservador que acha que qualquer experiência de
participação política mais avançada equivale a implantação de doutrinas
subversivas que querem acabar com a representação política”.
Gazeta do Povo
Na
próxima quarta-feira, o professor Sérgio Braga, do Departamento de Ciência
Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), vai fazer uma conferência
para contar os resultados de seu pós-doutorado no Reino Unido. Ele ficou quase
um ano na Universidade de Leeds pesquisando comunicação política.
O tema
da conferência será “Bolivarianismo à vista? Democracia representativa,
participação política e o papel das tecnologias sociais”. quanto à pergunta do
título, a resposta do professor é um sonoro “não”. Não há bolivarianismo à
vista no Brasil.
Segundo
Braga, o decreto que previa a regulamentação dos conselhos, por exemplo, causou
um temor infundado em certos meios políticos. Na entrevista abaixo, ele explica
o porquê:
Gazeta
do Povo – Qual foi exatamente o tema de seu estudo no Reino Unido? Quanto tempo
o senhor passou lá?
Sérgio Braga – Fiquei
11 meses no Reino Unido fazendo pesquisa de pós-doutorado no Institute of
Communication Studies, da Universidade de Leeds. Pesquisei sob a supervisão do
Professor Stephen Coleman, autor de vários trabalhos importantes sobre
democracia digital, incluindo o livro The internet and democratic
citizenship: theory, practice and policy. Leeds tem uma linha forte de
pesquisa em comunicação política por lá. Eu fui com um projeto financiado pela
Capes fazendo um estudo comparativo do uso da internet e das mídias sociais
pelos parlamentos e parlamentares de cinco países (EUA, Brasil, Reino Unido,
Bélgica e Espanha), mas também pesquisei vários outros temas (tais como as
experiências de participação digital no parlamento brasileiro e a implementação
de inovações democráticas digitais em algumas cidades brasileiras), além de
outras atividades que fiz por lá.
Foi
uma experiência extremamente gratificante não somente do ponto de vista
acadêmico, mas também do ponto de vista pessoal, pois o Reino Unido realmente é
um país fantástico com o qual temos muito o que aprender. Um país com um povo
extremamente educado, fortes tradições democráticas e de respeito às liberdades
individuais, serviços públicos universais e eficientes, e com alta qualidade de
vida, embora evidentemente eles tenham os problemas deles também. Mas são bem
menos graves do que os nossos. Enfim, agradeço publicamente à Capes e ao
sistema universitário do Reino Unido por tem me propiciado uma oportunidade tão
gratificante, de tanto aprendizado.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/dizer-que-ha-risco-de-bolivarianismo-no-brasil-e-um-disparate-diz-cientista-politico/?fb_action_ids=767530346630233&fb_action_types=og.recommends&fb_source=feed_opengraph&action_object_map=%7B%22767530346630233%22%3A684133648350944%7D&action_type_map=%7B%22767530346630233%22%3A%22og.recommends%22%7D&action_ref_map=%5B%5D
Sérgio Braga –
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) – 14.11.2014
IN
Gazeta do Povo.