Gabriel Cohn – “Amplas
parcelas da população foram trazidas ao jogo econômico, político, e à presença
social, por meio de políticas públicas, nas últimas duas décadas. Essas
pessoas vão assumir uma posição estratégica do ponto de vista também político.
São portadoras de uma série de expectativas e exigências que não podem ser
frustradas. Se não estiver assegurada a continuidade desse processo, as pessoas
vão reagir. E não se sabe aonde sua frustração pode levar.
(...)
É um equívoco
enorme do PSDB pensar que um fracasso de Dilma vai dar a
eles uma chance. Nenhuma! Pode escrever. Bloquear um governo é uma tragédia!”
Diego
Viana
O impasse político, na falta de organizações
partidárias que deem vazão às expectativas da sociedade, pode levar a
consequências indesejadas, segundo o sociólogo Gabriel Cohn: a ascensão de
um político aventureiro no próximo ciclo eleitoral. Segundo o professor, o
atual cenário de agitação social no Brasil, no qual se inclui a manifestação
contra a presidente Dilma Rousseff marcada para domingo, tem
dificuldade em articular propostas de fato políticas, porque os dois principais
partidos capazes de operar a passagem das paixões pessoais às propostas
coletivas, o PT e o PSDB, estão mais preocupados em brigar entre
si.
Cohn, professor do Departamento de Ciência
Política da Universidade de São Paulo, se diz pessimista com o atual cenário,
que interpreta à luz do processo de redemocratização do país, iniciado na
década de 80 e ainda longe da conclusão. Para ele, os últimos anos apresentam
uma “freada histórica” no processo, o que provoca frustrações. “Pode escrever:
estamos fritos e enfarinhados”, afirma, seguido de uma gargalhada, e explica
seu pessimismo: “Há três coisas que me irritam, mas das quais não tenho como me
livrar. O PT, o Corinthians e o judaísmo”.
Tem um acúmulo de problemas e eventualmente uma
condensação. Temos sinais de uma freada histórica no processo de
redemocratização. Havia algo em andamento. Socialmente, economicamente,
politicamente. A saída da era Lula para a era Dilma não é
uma continuidade, frustrando expectativas e temores de todos os lados. Há uma
fermentação, uma acumulação de problemas objetivos e reações a eles na forma de
irritação, ou de palavras-valise, que carregam tudo, como “corrupção”.
(...)
Para continuar a leitura,
acesse http://www.valor.com.br/cultura/3999718/corremos-risco-de-uma-versao-caricata-de-berlusconi
Gabriel
Cohn –
Professor do Departamento de Ciência Política da Univeridade de São Paulo – 10.04.2015
Diego
Viana –
Jornalista
IN Valor Econômico, caderno Eu & Fim
de Semana.