quarta-feira, 29 de abril de 2015

Corremos risco de uma versão caricata de Berlusconi



 Gabriel Cohn – “Amplas parcelas da população foram trazidas ao jogo econômico, político, e à presença social, por meio de políticas públicas, nas últimas duas décadas. Essas pessoas vão assumir uma posição estratégica do ponto de vista também político. São portadoras de uma série de expectativas e exigências que não podem ser frustradas. Se não estiver assegurada a continuidade desse processo, as pessoas vão reagir. E não se sabe aonde sua frustração pode levar.
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 É um equívoco enorme do PSDB pensar que um fracasso de Dilma vai dar a eles uma chance. Nenhuma! Pode escrever. Bloquear um governo é uma tragédia!”



Diego Viana
O impasse político, na falta de organizações partidárias que deem vazão às expectativas da sociedade, pode levar a consequências indesejadas, segundo o sociólogo Gabriel Cohn: a ascensão de um político aventureiro no próximo ciclo eleitoral. Segundo o professor, o atual cenário de agitação social no Brasil, no qual se inclui a manifestação contra a presidente Dilma Rousseff marcada para domingo, tem dificuldade em articular propostas de fato políticas, porque os dois principais partidos capazes de operar a passagem das paixões pessoais às propostas coletivas, o PT e o PSDB, estão mais preocupados em brigar entre si.
Cohn, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, se diz pessimista com o atual cenário, que interpreta à luz do processo de redemocratização do país, iniciado na década de 80 e ainda longe da conclusão. Para ele, os últimos anos apresentam uma “freada histórica” no processo, o que provoca frustrações. “Pode escrever: estamos fritos e enfarinhados”, afirma, seguido de uma gargalhada, e explica seu pessimismo: “Há três coisas que me irritam, mas das quais não tenho como me livrar. O PT, o Corinthians e o judaísmo”.
Tem um acúmulo de problemas e eventualmente uma condensação. Temos sinais de uma freada histórica no processo de redemocratização. Havia algo em andamento. Socialmente, economicamente, politicamente. A saída da era Lula para a era Dilma não é uma continuidade, frustrando expectativas e temores de todos os lados. Há uma fermentação, uma acumulação de problemas objetivos e reações a eles na forma de irritação, ou de palavras-valise, que carregam tudo, como “corrupção”.
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Gabriel Cohn – Professor do Departamento de Ciência Política da Univeridade de São Paulo – 10.04.2015
Diego Viana – Jornalista
IN Valor Econômico, caderno Eu & Fim de Semana.