quarta-feira, 1 de julho de 2015

A vaga conservadora e seus críticos



os escândalos do Mensalão e do Petrolão recolocaram no centro do debate público o tema da corrupção. Atmosfera propícia para dar uma guinada à direita nos princípios da ética na política. Como consequência, a onda moralizante (que é uma forma de expressão cultural e política entre outras) forjou uma aparente unidade às manifestações recentes. Que fique claro. As críticas ao governo, seja ele qual for, são necessárias e muito bem vindas, mas as razões das críticas não são sempre as mesmas, e isso muda tudo. No caso das críticas conservadoras, é digno de nota que elas pretendem lançar mão de justificações que, em princípio, valeriam inquestionavelmente para “todos”. Logo, incitam sempre temas vagos como família, violência, valores religiosos, ética, civismo, nação, patriotismo etc. Os conservadores realmente acham que vão às ruas em nome de todos (da pátria amada Brasil!), atuando no espaço público como se suas pautas e visões de mundo valessem para cada um de nós. Mas não perceberam (ou melhor, perceberam e ficaram bem preocupados) que o país tem sido disputado e criticado há muitos anos por diversos grupos sociais. As razões das críticas, ainda bem, são diferentes e, muitas vezes, opostas.

Rurion Melo
Da redemocratização para cá, com o suor de muita discussão pública e persistência dos movimentos sociais, muitos direitos foram conquistados, iniciou-se um deslocamento decisivo na redistribuição de renda e lutou-se por reconhecimento (questões de gênero, de raça, de sexualidade, entre outras). O avanço certamente ainda é insatisfatório, mas mostrou que a pressão por uma vida mais democráticas abria possibilidades sociais e institucionais pelas quais valia a pena lutar. Se a ditadura significou um grande passo para trás, tentamos fazer com que a redemocratização, dali em diante, representasse dois para frente.
Com a disputa atual de poder, a dominação do sistema político vem acompanhada de um recuo perceptível de temas considerados progressistas e com amplo apelo da opinião pública. A recente queda de braço no C0ongresso Nacional tem mostrado que a direção desse jogo de forças político está rumando em sentido bastante conservador. Eduardo Cunha e Renan Calheiros, representantes escancarados de pautas culturais e políticas tradicionais (para não dizer retrógradas), surgem como protagonistas do momento, apoiados pelos interesses das bancadas BBB (bíblia, boi e bala).
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Rurion Melo – Professor de Ciências Políticas da USP e Pesquisador do CEBRAP – 19.06.2015
IN Blog Estadão.