os escândalos do
Mensalão e do Petrolão recolocaram no centro do debate público o tema da
corrupção. Atmosfera propícia para dar uma guinada à direita nos princípios da
ética na política. Como consequência, a onda moralizante (que é uma forma de
expressão cultural e política entre outras) forjou uma aparente unidade às
manifestações recentes. Que fique claro. As críticas ao governo, seja ele qual
for, são necessárias e muito bem vindas, mas as razões das críticas não são
sempre as mesmas, e isso muda tudo. No caso das críticas conservadoras, é digno
de nota que elas pretendem lançar mão de justificações que, em princípio,
valeriam inquestionavelmente para “todos”. Logo, incitam sempre temas vagos
como família, violência, valores religiosos, ética, civismo, nação, patriotismo
etc. Os conservadores realmente acham que vão às ruas em nome de todos (da
pátria amada Brasil!), atuando no espaço público como se suas pautas e visões
de mundo valessem para cada um de nós. Mas não perceberam (ou melhor,
perceberam e ficaram bem preocupados) que o país tem sido disputado e criticado
há muitos anos por diversos grupos sociais. As razões das críticas, ainda bem,
são diferentes e, muitas vezes, opostas.
Rurion Melo
Da redemocratização para cá, com o suor de muita
discussão pública e persistência dos movimentos sociais, muitos direitos foram
conquistados, iniciou-se um deslocamento decisivo na redistribuição de renda e
lutou-se por reconhecimento (questões de gênero, de raça, de sexualidade, entre
outras). O avanço certamente ainda é insatisfatório, mas mostrou que a pressão
por uma vida mais democráticas abria possibilidades sociais e institucionais
pelas quais valia a pena lutar. Se a ditadura significou um grande passo para
trás, tentamos fazer com que a redemocratização, dali em diante, representasse
dois para frente.
Com a disputa atual de poder, a dominação do
sistema político vem acompanhada de um recuo perceptível de temas considerados
progressistas e com amplo apelo da opinião pública. A recente queda de braço no
C0ongresso Nacional tem mostrado que a direção desse jogo de forças político
está rumando em sentido bastante conservador. Eduardo Cunha e Renan Calheiros,
representantes escancarados de pautas culturais e políticas tradicionais (para
não dizer retrógradas), surgem como protagonistas do momento, apoiados pelos
interesses das bancadas BBB (bíblia, boi e bala).
(...)
Para continuar a
leitura, acesse http://brasil.estadao.com.br/blogs/direito-e-sociedade/a-vaga-conservadora-e-seus-criticos/
Rurion Melo – Professor de Ciências Políticas da USP e
Pesquisador do CEBRAP – 19.06.2015
IN Blog Estadão.