a política
democrática pregou uma peça naqueles que tomavam a dimensão esquerda-direita de
forma estática e simplista. A preocupação dos eleitores com soluções práticas
para seus problemas cotidianos, para além de considerações abstratas em relação
a valores últimos, fez com que a maioria dos cidadãos não se posicionassem de
forma categórica num dos dois polos da dicotomia. Assim, embora muitos
desejassem mais igualdade econômica, não entendiam que a forma de alcançá-la
fosse pela socialização dos meios de produção; embora muitos se mantivessem
apegados à hierarquia social estabelecida, não acreditavam que essa devesse ser
completamente imutável. Noutros termos, a maior parte dos cidadãos não era
puramente de direita, nem de esquerda. E como para vencer as eleições é preciso
agradar ao maior número de eleitores possível, os partidos com anseios mais
amplos passaram a moderar suas posições, de modo a arrebanhar um número cada
vez maior de votos junto àqueles que não compartilhavam inteiramente de suas
posições à esquerda ou à direita.
Tal
movimento dos partidos mais dispostos a se tornarem majoritários fez com que
tanto a direita como a esquerda se moderassem, assumindo mundo afora uma feição
cada vez mais mediana - de centro-direita, ou centro-esquerda.
Cláudio
Gonçalves Couto
Um dos mais surrados lugares comuns do debate
político é o de que a distinção entre esquerda e direita já não tem mais
cabimento no mundo contemporâneo. Será mesmo? Observando-se o atual cenário
político brasileiro é possível aferir tal questão, vislumbrando até que ponto
este lugar comum - como tantos outros - não passa de preconceito ou, quem sabe,
descreva bem a realidade.
Para que tal observação seja possível e faça
sentido, faz-se necessário, primeiro, fixar um critério do que se entende como
direita e esquerda. Afinal, no debate de senso comum sobre a política não há um
entendimento consensual sobre isto. Uma definição minimalista, mas que me
parece útil para dar conta de situações muito variadas, é de que enquanto a
esquerda propugna pela igualdade, a direita propugna pela desigualdade - e daí
é possível extrair uma série de derivações.
Voltando às origens da distinção, na Assembleia
Nacional Francesa durante o período revolucionário, os que se sentavam à
direita de seu presidente eram os apoiadores do antigo regime e das
desigualdades que lhe caracterizavam, alicerçadas nas distinções estamentais
que conferiam privilégios aos ocupantes dos estratos sociais superiores. À sua
esquerda sentavam-se os que defendiam o fim do antigo regime e, com ele, das distinções
estamentais que engendravam desigualdades. Desse modo, não só foi estabelecida
ali a terminologia, como também a associação entre os dois termos e as
preferências em relação à dicotomia igualdade/desigualdade. A direita se
compunha dos conservadores, defensores da manutenção da velha ordem; a esquerda
era integrada pelos liberais, que advogavam pela mudança simbolizada pelo lema
"liberdade, igualdade, fraternidade".
(...)
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Cláudio Gonçalves Couto – Cientista político, professor da FGV-SP – 09.05.2014
IN Valor
Econômico.