terça-feira, 29 de setembro de 2015

Os adolescentes e a filosofia


Em vez de manuais com a história de alguns autores, seria melhor submeter aos estudantes textos de Platão, Kant, Descartes, Rousseau...

Vladimir Safatle
Há poucos anos, o ensino de filosofia tornou-se matéria obrigatória para os alunos do ensino médio. Uma decisão acertada que leva em conta a necessidade de estudantes adolescentes desenvolverem habilidades críticas, além de compreenderem a complexidade da gênese de conceitos fundamentais para nossas formas de vida.
De fato, a filosofia, tal como a conhecemos hoje, é o discurso que permite à chamada “experiência do pensamento ocidental” criticar seus próprios valores morais, estéticos, normas sociais e evidências cognitivas. A cláusula restritiva relativa ao “ocidente” justifica-se pelo fato de conhecermos muito pouco a respeito dos sistemas não ocidentais de pensamento. Temos, em larga medida, uma visão estereotipada de que eles ainda seriam fortemente vinculados ao pensamento mítico e, por isso, não teriam algo parecido à nossa razão desencantada, que baseia seus princípios na confrontação das argumentações a partir da procura do melhor argumento. É provável que em alguns anos tenhamos de rever tal análise.
(...)

Para continuar a leitura, acesse: http://www.cartacapital.com.br/colunistas/Vladimir-Safatle









Vladimir Safatle – Professor de Filosofia da USP – 07.08.2013
IN Carta Capital, nº 760. 

sábado, 26 de setembro de 2015

Ásia, milagres e miragens




O êxito do Japão e dos tigres asiáticos, como Coreia e Taiwan, não pode ser explicado apenas pelas ‘virtudes econômicas’ dos seus modelos. A geopolítica intrometeu-se.

Luiz Gonzaga Belluzzo
Publicado na “Folha de São Paulo”, na edição de domingo (02.08.2015), o artigo de Samuel Pessoa sobre a experiência asiática suscitou minhas dúvidas e discordâncias.
Volto a 1993, ano da publicação pelo Banco Mundial do estudo “The East Asia Miracle”. Ao investigar o desempenho das economias asiáticas os economistas do banco escreveram:
“Nós sustentamos (neste estudo) que as Economias de Alto Crescimento da Ásia criaram condições e desafios que combinam a concorrência com os benéficos da cooperação entre as empresas e entre o governo e o setor privado. Tais condições vão desde simples normas de alocação de recursos não baseadas no mercado, como é o caso do acesso facilitado ao crédito para os experotadores, até a completa coordenação do investimento privado, no Japão e na Coreia, executada pelos conselhos formados por empresários e representantes do governo. A característica central de tais ‘concursos’ é que o governo distribui prêmios – acesso a crédito ou a divisas – sob critérios de avaliação de desempenho”.
(…)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/opiniao/4162492/asia-miragens-e-milagres





Luiz Gonzaga Belluzzo – Economista, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp – 04.08.2015.
IN Valor Econômico, ed. Impressa.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Brasil investe pouco em energias alternativas



Pesquisador do Ipea [gesmar rosa dos santos] lança estudo inédito com panorama sobre os investimentos em energias renováveis na última década.
No Brasil, essa infraestrutura de pesquisa em energias renováveis, por exemplo, só passou a ser construída com forte direcionamento a partir de 2004, bem depois da Alemanha e dos Estados Unidos, os países comparados. O principal problema, segundo ele, está no fato de as empresas e o país ainda enxergarem a pesquisa como gasto sem retorno e não como investimento.



Renata de Paula
O Brasil investiu em 13 anos (de 1999 a 2012) apenas R$ 806 milhões em energias renováveis, o equivalente a 0,0013% do PIB, enquanto os Estados Unidos investiram US$ 1,78 bilhão apenas em 2012 (0,0118% do PIB) e a Alemanha € 265 milhões (cerca de R$ 715 milhões), 0,0095% do PIB, também no mesmo ano.
A revelação é do estudo do Ipea Financiamento público da pesquisa em energias renováveis no Brasil: a contribuição dos fundos setoriais de inovação tecnológica, o primeiro a analisar o investimento em energias alternativas, entre os mais de 35 mil projetos de pesquisa aprovados pelo Fundo de Apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Por causa da falta de investimentos, os brasileiros estão pagando mais caro pelas contas de luz desde março deste ano, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reajustou as tarifas devido ao aumento dos custos de geração de energia elétrica. Com o baixo nível de água dos reservatórios das usinas, as termoelétricas precisaram ser acionadas e as contas subiram, em média, 23,4%. Para o autor do estudo, o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Gesmar Rosa dos Santos, essa realidade reflete o baixo investimento do Brasil em energias renováveis.
(…)






Renata de Paula – 19.06.2015.
IN Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA, ed. 83.

domingo, 20 de setembro de 2015

Solução à esquerda



André Singer – “Com relação ao governo Dilma, ela assume numa situação muito difícil, porque ela é tomada, digamos, por três fatores extremamente adversos e em conjunção. Primeiro, é o fato de que ela prometeu uma coisa na campanha e fez o contrario no que diz respeito à política econômica. Isso acho que é um erro, porque me parece que, se precisava arriscar, era melhor arriscar no sentido contrario, que era, vamos dizer, o compromisso programático dela e do partido. E também por uma razão, eu diria – tem a ver com o meu campo de estudos -, que é o comportamento eleitoral. O eleitorado não perdoa esse tipo de comportamento, de você dizer que vai fazer uma coisa e faz o oposto. (…) Em segundo lugar, vocÊ tem essas denuncias, que não são denuncias recentes, já vem de varios e vários meses, há mais de um ano. E é claro que isso pega o governo, pega o PT. (…) E o terceiro fator é justamente a eleição de um presidente da Câmara, que volto a dizer, parece um ponto fora da curva. É uma liderança conservadora, mas conservadora do que a média do PMDB, na minha opinião, e que tem uma rara capacidade tanto de articulação política como de audácia”.

Aray Nabuco, Lilian Primi e Lúcia Rodrigues
“Acho que há um risco de ruptura institucional, baixo, mas existe”, diz o cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP), André Singer, sobre a situação política do País, alimentada pela crise econômica e a atuação radical e raivosa da direita e da “nova direita”, como vêm sendo chamados os pequenos grupos no extremo do espectro conservador e que tem dado as caras com ofensas, agressões e toda sorte de baixarias. A avaliação, porém, não exime de responsabilidade o seu próprio partido, o PT, nem o governo Dilma. Como estudioso, separa análise de militância e reafirma o processo, não só de riscos, mas também de amadurecimento da democracia. Na entrevista, ele fala dos casos de corrupção, da operação Lava Jato, da tentativa dos setores conservadores, iluminados no noticiário da mídia hegemônica, de evitar, a qualquer custo, uma possível vitória de Lula em 2018, entre outros assuntos.
Confira abaixo.
Caros Amigos – Em última instância, o Lula seria a figura que poderia ganhar as eleições de 2018. O plano com a Lava Jato e as ações seletivas de promotores e juízes não seria pegar lá na frente o Luiz Inácio?
André Singer – Não, eu acho que essa Operação Lava Jato, sem dúvida alguma, desvendou um esquema muito grave. E nós não sabemos até este momento, com clareza, quais são os limites desse esquema e o que representou.
Eu sempre insisto no ponto de que uma posição republicana, e eu acredito que a esquerda precisa ter uma posição republicana, não pode fugir de enfrentar este tipo de denúncia. Agora, é claro também que nós estamos vivendo um processo que vem desde o mensalão, em que todo ônus de um sistema político muito comprometido com financiamento empresarial está recaindo sobre o PT, e de maneira quase que exclusiva. Não é que não tenham sido envolvidos políticos de outros partidos, a gente sabe que nas próprias denúncias há também o  envolvimento de políticos do PSDB. Mas o ônus político principal está recaindo pesadamente sobre o PT, e em notório desequilíbrio com todos os outros. É evidente; e há uma enorme publicidade em torno das denúncias que envolvem o PT.
 (…)
Para continuar a leitura – e ler a entrevista completa –, acesse http://www.carosamigos.com.br/index.php/revista/189-edicao-220/5190-andre-singer-solucao-a-esquerda





Aray Nabuco, Lilian Primi e Lúcia Rodrigues – julho de 2015.
André Singer – Cientista Político e  professor do Departamento de Ciência política da FFLCH/USP.
IN Caros Amigos, ed. 220.