Devemos sim nos chocar com a grave
crise humanitária que se desenrola na Europa, com a inoperância dos Estados e
até mesmo com o atual descaso político-jurídico europeu, mas devemos, acima de
tudo, perguntar também até que ponto isso já não foi sedimentado pela nossa
própria história. Com isso, não se busca nem deixar de reconhecer que soluções
políticas, práticas, são sempre difíceis, nem muito menos refutar o potencial
universal dos direitos humanos, mas sim reforçar sua essencialidade global,
como resposta ao inúmeros mecanismos de exclusão, procurando novas orientações
para prevenir violações futuras.
Vanessa Capistrano
A imagem de Aylan Kurdi, o menino sírio-curdo de três anos, cuja
morte por afogamento durante a viagem da Turquia para a Grécia se
transformou em um símbolo da crise humanitária que se alastra pela
Europa. Como declarou a ONG Save The Children, “deu um rosto à tragédia”.
Apesar dos recentes esforços do Conselho Europeu para o acolhimento
urgente de pelo menos 100 mil refugiados pelos Estados-membros da União – por
intermédio do estabelecimento de cotas de distribuição –, a Hungria, por
exemplo, continua a erigir um muro de quatro metros de altura e cercas de
arame farpado na fronteira com a Sérvia, com o objetivo de garantir sua “segurança
fronteiriça” e sua “ordem social”. Países como Dinamarca, Irlanda, Inglaterra,
República Tcheca e Eslováquia continuam a se opor às cotas de distribuição.
Uma análise apressada poderia nos levar, quase que imediatamente, a uma
condenação moralista seja da postura húngara pelo estabelecimento das
fortificações seja da oposição de alguns países europeus às cotas. Somos
muitas vezes movidos pela preocupação com o destino dos seres humanos e pela
busca por “culpados”. E nem sempre conseguimos avaliar bem o impacto que
certos dramas humanos causam nas sociedades, especialmente quando se trata,
como no caso, de sociedades que recebem de modo continuado massas de milhares
de refugiados. Tudo nelas se desloca e sai do lugar. Os ânimos se acirram, consensos
se desorganizam, a rede institucional de apoio e proteção fica fragilizada, as
soluções tornam-se mais difíceis.
(...)
Para
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Vanessa Capistrano – - Doutoranda pelo PPGRI San Tiago Dantas. Mestre em Ciências Sociais
e bacharel em Relações Internacionais pela UNESP/Marília-SP – 04.09.2015
IN Núcleo de Estudos e Análises Internacionais (NEAI-IPPRI-UNESP).