Em vez de manuais com a história de alguns autores, seria
melhor submeter aos estudantes textos de Platão, Kant, Descartes, Rousseau...
Vladimir Safatle
Há
poucos anos, o ensino de filosofia tornou-se matéria obrigatória para os alunos
do ensino médio. Uma decisão acertada que leva em conta a necessidade de estudantes
adolescentes desenvolverem habilidades críticas, além de compreenderem a
complexidade da gênese de conceitos fundamentais para nossas formas de vida.
De
fato, a filosofia, tal como a conhecemos hoje, é o discurso que permite à
chamada “experiência do pensamento ocidental” criticar seus próprios valores
morais, estéticos, normas sociais e evidências cognitivas. A cláusula
restritiva relativa ao “ocidente” justifica-se pelo fato de conhecermos muito pouco
a respeito dos sistemas não ocidentais de pensamento. Temos, em larga medida,
uma visão estereotipada de que eles ainda seriam fortemente vinculados ao pensamento
mítico e, por isso, não teriam algo parecido à nossa razão desencantada, que
baseia seus princípios na confrontação das argumentações a partir da procura do
melhor argumento. É provável que em alguns anos tenhamos de rever tal análise.
Vladimir Safatle
– Professor de Filosofia da USP – 07.08.2013
IN
Carta Capital, nº 760.