terça-feira, 8 de setembro de 2015

As grandes virtudes


Viviane Mosé – “Em períodos de grande impunidade, em que políticos e criminosos comuns não são presos, também se gera violência. Mas a questão é que nós estamos vivendo um tempo histórico de punições, e não de impunidade. Pela primeira vez, políticos e até empresários estão indo para a cadeia. É um fenômeno único na história do Brasil. A gente deveria estar feliz. Portanto, o que está gerando violência não é a impunidade, mas a ausência de perspectiva e vazão de uma força que desde 2013 se manifestou e ninguém conseguiu ainda canalizar. Agora é hora de os formadores de opinião manterem a coerência e ajudarem a sociedade a se localizar, a pensar, porque caminhamos para o caos. É preciso ter coragem de intervir, de esclarecer honestamente a situação, mesmo sabendo que se pode sofrer represália. Temos que produzir acordos, não apostar no caos. O impeachment da presidente significaria a desestruturação ainda maior das instituições. Acho essa conversa de impeachment uma irresponsabilidade”. 

André de Oliveira
Intolerância. Significa intransigência em relação a opiniões, atitudes, crenças ou modos de ser que reprovamos e julgamos falsos. Mas também quer dizer repressão, por meio de coação e uso da força, das ideias que desaprovamos. A famosa afabilidade pela qual o provo brasileiro é cantado e poetizado já foi bem questionada; afinal, um passado recente de convivência pacífica com escravidão e outras violências praticadas institucionalmente tiram a graça de qualquer rima. No entanto, de uns tempos para cá, parece que uma caixa de novas práticas de intolerância foi aberta na sociedade.
Em 1º de agosto, seis imigrantes haitianos foram baleados com chumbinho, em São Paulo. O caso é nebuloso e segue inconcluso. Em uma das versões, os agressores teriam passado em um carro gritando: “Haitianos! Haitianos!”. Dias antes, um carro havia arremessado uma bomba caseira de pregos e parafusos na porta do Instituto Lula, também em São Paulo. Ninguém ficou ferido, mas o artefato abriu um buraco no portão de metal do escritório de trabalho do ex-presidente. Os autores do atentado ainda não foram identificados. Nos dias 8 e 11 de agosto, usuários e motoristas do Uber relataram ter sofrido intimidação e agressão física por estarem usando o serviço, em Belo Horizonte e São Paulo. Nenhum dos agressores foi encontrado. E a tensão em torno do aplicativo não para de crescer.
Para a filósofa, poeta e psicanalista Viviane Mosé, os intolerantes não são exclusividade brasileira. O mundo passa por um período de mudanças culturais propiciadas pelas novas tecnologias, e o futuro, constantemente retratado como distopia, nunca foi tão incerto. Ninguém sabe direito como lidar com o momento e a resposta da sociedade tem sido, muitas vezes, violenta. No caso brasileiro, contudo, ela vê um agravante: a polarização política, a falta de lideranças, a ausência de propostas. Quão fundo é o buraco? Como sair dele? “Produzindo acordos, pactos sociais. Estamos sem direção e só vamos tê-las se compusermos forças, em vez de tentar encontrar um salvador”, ela diz. E concordando com a escritora italiana Natalia Ginzburg (1916-1991), cujo livro As Pequenas Virtudes (Cosac Naify) acaba de ser relançado, salienta que ou valorizamos as grandes virtudes ou não haverá sociedade.
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Viviane Mosé – Filósofa, poeta e psicanalista.
André de Oliveira – 15.08.2015.
IN O Estado de São Paulo, caderno Aliás.