Viviane
Mosé – “Em
períodos de grande impunidade, em que políticos e criminosos comuns não são
presos, também se gera violência. Mas a questão é que nós estamos vivendo um
tempo histórico de punições, e não de impunidade. Pela primeira vez, políticos
e até empresários estão indo para a cadeia. É um fenômeno único na história do
Brasil. A gente deveria estar feliz. Portanto, o que está gerando violência não
é a impunidade, mas a ausência de perspectiva e vazão de uma força que desde
2013 se manifestou e ninguém conseguiu ainda canalizar. Agora é hora de os
formadores de opinião manterem a coerência e ajudarem a sociedade a se
localizar, a pensar, porque caminhamos para o caos. É preciso ter coragem de
intervir, de esclarecer honestamente a situação, mesmo sabendo que se pode
sofrer represália. Temos que produzir acordos, não apostar no caos. O
impeachment da presidente significaria a desestruturação ainda maior das
instituições. Acho essa conversa de impeachment uma irresponsabilidade”.
André de Oliveira
Intolerância. Significa
intransigência em relação a opiniões, atitudes, crenças ou modos de ser que
reprovamos e julgamos falsos. Mas também quer dizer repressão, por meio de
coação e uso da força, das ideias que desaprovamos. A famosa afabilidade pela
qual o provo brasileiro é cantado e poetizado já foi bem questionada; afinal,
um passado recente de convivência pacífica com escravidão e outras violências
praticadas institucionalmente tiram a graça de qualquer rima. No entanto, de
uns tempos para cá, parece que uma caixa de novas práticas de intolerância foi
aberta na sociedade.
Em 1º de agosto, seis
imigrantes haitianos foram baleados com chumbinho, em São Paulo. O caso é
nebuloso e segue inconcluso. Em uma das versões, os agressores teriam passado
em um carro gritando: “Haitianos! Haitianos!”. Dias antes, um carro havia
arremessado uma bomba caseira de pregos e parafusos na porta do Instituto Lula,
também em São Paulo. Ninguém ficou ferido, mas o artefato abriu um buraco no
portão de metal do escritório de trabalho do ex-presidente. Os autores do atentado
ainda não foram identificados. Nos dias 8 e 11 de agosto, usuários e motoristas
do Uber relataram ter sofrido intimidação e agressão física por estarem usando
o serviço, em Belo Horizonte e São Paulo. Nenhum dos agressores foi encontrado.
E a tensão em torno do aplicativo não para de crescer.
Para a filósofa, poeta e
psicanalista Viviane Mosé, os intolerantes não são exclusividade brasileira. O
mundo passa por um período de mudanças culturais propiciadas pelas novas
tecnologias, e o futuro, constantemente retratado como distopia, nunca foi tão
incerto. Ninguém sabe direito como lidar com o momento e a resposta da
sociedade tem sido, muitas vezes, violenta. No caso brasileiro, contudo, ela vê
um agravante: a polarização política, a falta de lideranças, a ausência de
propostas. Quão fundo é o buraco? Como sair dele? “Produzindo acordos, pactos
sociais. Estamos sem direção e só vamos tê-las se compusermos forças, em vez de
tentar encontrar um salvador”, ela diz. E concordando com a escritora italiana
Natalia Ginzburg (1916-1991), cujo livro As Pequenas Virtudes (Cosac Naify) acaba de ser relançado, salienta que
ou valorizamos as grandes virtudes ou não haverá sociedade.
(...)
Para continuar a leitura – e ler toda a
entrevista –, acesse http://m.alias.estadao.com.br/noticias/geral,as-grandes-virtudes,1744483
Viviane Mosé – Filósofa, poeta e psicanalista.
André de Oliveira – 15.08.2015.
IN O Estado de São Paulo,
caderno Aliás.