segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A próxima vítima


 
Para antropóloga [Beatriz Accioly Lins], violência sexual persiste porque ensinamos as mulheres a se protegerem, mas nunca os homens a não estuprar.

Paula Sacchetta
Trinta e cinco mulheres vestidas de preto, com idades entre 44 e 80 anos e uma lembrança em comum: elas teriam sido estupradas pelo comediante Bill Cosby entre 1960 e 2000. Dentre aquelas que contam sua história na matéria “Cosby: As Mulheres, uma Irmandade Indesejada”, tema de capa da revista New York Magazine, estão as atrizes Beverly Johnson e Lili Bernard e a modelo Janice Dickinson, ao lado de outras modelos, atrizes, jornalistas, esportistas e até colegas de trabalho de seu programa de TV, A Hora de Bill Cosby.
Em 2005, Andrea Constand, antiga estrela do basquete, denunciou que havia sido abusada por Cosby quando trabalhava no departamento atlético da Universidade de Temple, na qual ele fazia parte do conselho curador. Ela afirmou ter sido drogada e, ao ficar inconsciente, apalpada e penetrada por ele. Depois de sua denúncia, uma advogada também foi à televisão: afirmava ter sido estuprada por Cosby trinta anos antes. Logo apareceram outras mulheres dizendo coisa parecida, mas seus depoimentos, à época, não foram levados a sério e os casos, logo esquecidos. No mesmo ano, face a face com a polícia, Cosby assumiu que usava o sedativo quaaludes para manter relações sexuais com algumas mulheres. Mas afirmou que era sempre com o consentimento delas.
Tâmara Green, uma das fotografadas na New York Magazine, disse que até hoje as pessoas perguntam “mas por que você não procurou a polícia? Andrea foi à polícia em 2005, como foi para ela?”. “Não serviu de nada. Em 2005, Bill Cosby tinha o controle da mídia”, responde. O ator, que encarnou o ginecologista Doctor Cliff nos anos 1980, gozava de grande popularidade e chegou a ser chamado de “pai da América” por causa de uma série de TV na qual era o pai de uma família. “Em 2015, nós temos as redes sociais. Não podemos ser desaparecidas. Está online e nunca mais vai embora”, afirma Tâmara.
Na mesma semana em que a New York Magazine encampava essa capa, o Instituto Patrícia Galvão divulgou para jornalistas o Dossiê Violência contra as Mulheres, disponível no site a partir de quarta-feira, dia 5. Feito com o apoio do Fundo Social Elas, em parceria com o Instituto Avon, o dossiê pretende ser acessível, tem ferramenta de busca facilitada e apresenta mais de cem nomes de fontes - especialistas que podem ser consultados e entrevistados. No geral, levanta as várias formas de violência contra a mulher, como a doméstica e a familiar, a sexual e o feminicídio, e chega à conclusão de que o tema está em pauta, é divulgado, mas não contextualizado. Aparece como crime nas páginas do dia a dia, porém em cima de fatos apenas, e não relacionando a questão com o problema social. Passa-se ao largo, em resumo, da origem e do porquê da violência. 
Beatriz Accioly Lins, uma das colaboradoras do trabalho, doutoranda em antropologia social da USP e membro do Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença (Numas), também da USP, está na lista das fontes. Tem seu foco na violência contra as mulheres em tempos de internet. Nesta entrevista, ela busca explicar o que leva as vítimas a se silenciarem diante do estupro, como as redes sociais podem ajudá-las a enfrentar esse trauma e fazer justiça e como, no entanto, existem novas formas de violência contra a mulher que se dão exatamente no ambiente virtual. 
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Para continuar a leitura – e ler a entrevista completa -, acesse http://m.alias.estadao.com.br/noticias/geral,a-proxima-vitima,1736242







Beatriz Accioly Lins – Doutoranda em antropologia social da USP e membro do Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença (Numas), também da USP, colaboradora da pesquisa referida.
Paula Sacchetta – 01.08.2015
IN O Estado de São Paulo, caderno Aliás.