André Singer – “Com
relação ao governo Dilma, ela assume numa situação muito difícil, porque ela é
tomada, digamos, por três fatores extremamente adversos e em conjunção.
Primeiro, é o fato de que ela prometeu uma coisa na campanha e fez o contrario
no que diz respeito à política econômica. Isso acho que é um erro, porque me
parece que, se precisava arriscar, era melhor arriscar no sentido contrario,
que era, vamos dizer, o compromisso programático dela e do partido. E também
por uma razão, eu diria – tem a ver com o meu campo de estudos -, que é o
comportamento eleitoral. O eleitorado não perdoa esse tipo de comportamento, de
você dizer que vai fazer uma coisa e faz o oposto. (…) Em segundo lugar, vocÊ
tem essas denuncias, que não são denuncias recentes, já vem de varios e vários
meses, há mais de um ano. E é claro que isso pega o governo, pega o PT. (…) E o
terceiro fator é justamente a eleição de um presidente da Câmara, que volto a
dizer, parece um ponto fora da curva. É uma liderança conservadora, mas
conservadora do que a média do PMDB, na minha opinião, e que tem uma rara
capacidade tanto de articulação política como de audácia”.
Aray
Nabuco, Lilian Primi e Lúcia Rodrigues
“Acho
que há um risco de ruptura institucional, baixo, mas existe”, diz o
cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP), André
Singer, sobre a situação política do País, alimentada pela crise
econômica e a atuação radical e raivosa da direita e da “nova direita”,
como vêm sendo chamados os pequenos grupos no extremo do espectro conservador
e que tem dado as caras com ofensas, agressões e toda sorte de baixarias.
A avaliação, porém, não exime de responsabilidade o seu próprio
partido, o PT, nem o governo Dilma. Como estudioso, separa análise de
militância e reafirma o processo, não só de riscos, mas também de
amadurecimento da democracia. Na entrevista, ele fala dos casos de
corrupção, da operação Lava Jato, da tentativa dos
setores conservadores, iluminados no noticiário da mídia hegemônica,
de evitar, a qualquer custo, uma possível vitória de Lula em 2018,
entre outros assuntos.
Confira
abaixo.
Caros
Amigos – Em última instância, o Lula seria a figura que poderia ganhar as
eleições de 2018. O plano com a Lava Jato e as ações seletivas de
promotores e juízes não seria pegar lá na frente o Luiz Inácio?
André
Singer – Não, eu acho que essa Operação Lava Jato, sem
dúvida alguma, desvendou um esquema muito grave. E nós não sabemos
até este momento, com clareza, quais são os limites desse esquema e o
que representou.
Eu
sempre insisto no ponto de que uma posição republicana, e eu acredito que
a esquerda precisa ter uma posição republicana, não pode fugir de
enfrentar este tipo de denúncia. Agora, é claro também que nós
estamos vivendo um processo que vem desde o mensalão, em que todo
ônus de um sistema político muito comprometido com financiamento
empresarial está recaindo sobre o PT, e de maneira quase que
exclusiva. Não é que não tenham sido envolvidos políticos de outros
partidos, a gente sabe que nas próprias denúncias há também o
envolvimento de políticos do PSDB. Mas o ônus político principal está
recaindo pesadamente sobre o PT, e em notório desequilíbrio com todos os
outros. É evidente; e há uma enorme publicidade em torno das
denúncias que envolvem o PT.
(…)
Para continuar a leitura – e ler a entrevista
completa –, acesse http://www.carosamigos.com.br/ index.php/revista/189-edicao- 220/5190-andre-singer-solucao- a-esquerda
Aray Nabuco, Lilian
Primi e Lúcia Rodrigues – julho de 2015.
André Singer – Cientista Político
e professor do Departamento de Ciência
política da FFLCH/USP.
IN Caros Amigos, ed. 220.