É fácil
enxergar o que fazem os políticos em Brasília e defender que eles sejam
punidos. Eles estão longe, são “aqueles mesmos carinhas lá” que fazem as leis.
Difícil e ver quando nós mesmos não seguimos as regras e as leis. Não somos
capazes de ver, e quando o fazemos, temos uma boa justificativa, da mesma maneira
que as têm os políticos de Brasília. O desafio é identificarmos nossas
transgressões e as combatermos.
Alberto Carlos Almeida
O que cidadãos em geral, empresários e alguns políticos gostariam é que
a corrupção no Brasil fosse reduzida. Sonhar não custa nada, há aqueles que
desejam que ela simplesmente acabe. Nada é mais comum em época de escândalo da
Lava-Jato do que estarmos em conversas sociais, em festas de aniversário,
eventos, confraternizações, e dialogarmos sobre a corrupção no país. Com
rapidez, surgem afirmações do tipo: que absurdo é a política, quanta
roubalheira, o Brasil não tem jeito mesmo, a corrupção é deslavada, me sinto
envergonhado, pesam sobre todos os políticos escândalos e denúncias de
corrupção.
O diálogo social caminha, com muita frequência, para o nome do juiz
Sérgio Moro. Ele é elogiado como sendo exemplo de quem colocará o país nos
eixos, como a pessoa e o profissional que mudará a história do Brasil, e então
as esperanças de mudança são depositadas na Justiça Federal de Curitiba. Há
ainda aqueles que, mais informados, consideram que o fatiamento da Lava-Jato no
Supremo Tribunal Federal (STF) é um grande revés no combate à corrupção. As
realizações de Moro são, para essas pessoas, inebriantes: ele é o cara, somente
ele será capaz de fazer justiça.
Em tais diálogos sociais é praticamente impossível levantar um tema
correlato, aquele que relaciona a corrupção no mundo político aos pequenos e
diários atos de corrupção de toda a sociedade brasileira. Vale aqui um
parêntese. A palavra corrupção é aplicada neste artigo de maneira ampla, não
caracteriza atos relacionados somente ao setor público, mas também ações
moralmente correlatas praticadas na vida diária e no setor privado. Pois bem, a
grande questão que o Brasil precisa discutir é até que ponto seremos capazes de
combater a corrupção em Brasília, nos governos estaduais, nas prefeituras, se
toda a sociedade comete constantemente delitos ou tão somente quebras de regas
que são funcionalmente idênticas a um ato de corrupção.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/cultura/4271122/o-dia-dia-da-nossa-corrupcao (ou http://avaranda.blogspot.com.br/2015/10/o-dia-dia-da-nossa-corrupcao-alberto.html )
Alberto Carlos Almeida – Sociologo e professor universitário –
16.10.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa (republicado
no Blog A varanda).