Considero que o MPL [Movimento Passe
Livre], ao não se pensar como um movimento inserido nas dinâmicas de lutas mais
amplas dos trabalhadores e trabalhadoras, foi incapaz de superar seus próprios
limites. Pensávamos que estaríamos imunes aos processos de
burocratização que ocorrem em mobilizações vitoriosas. Entendo que a
potencialidade transformadora de um movimento não é medida pela radicalidade de
sua pauta, mas sim pela maneira como a mobilização em torno dela é capaz de
produzir novas dinâmicas e experiências de luta. Por isso entendo que ao olhar
para o próprio movimento e não para o transporte inserido na dinâmica da luta
de classes, o MPL deixou de ser capaz de criar novas estruturas políticas e
sociais, chegando ao seu fim.
Legume
Lucas
Após 11 anos de dedicação ininterrupta ao Movimento Passe Livre (MPL)
afirmo que o MPL chegou ao seu fim. Parece-me evidente que isso se deu após a
maior mobilização da classe trabalhadora no Brasil dos últimos 30 anos. A
participação do MPL nas mobilizações ocorridas em junho de 2013 foi fundamental
e fruto de anos de trabalho regular na luta por transporte. Entendo que esse
processo já foi analisado e está documentado em diferentes textos e
entrevistas, por isso não o retomarei nesse texto.
Considero que após realizar sua maior potencialidade ao iniciar o
processo que barrou o aumento em mais de 100 cidades no Brasil, o movimento não
conseguiu caminhar para a reorganização – nacional e local
– necessária para superar seus limites anteriores e, ao sermos incapazes
de fazer isso, nos fechamos entre nós mesmos. Analisar o MPL é,
necessariamente, olhar para os limites do movimento autônomo, pois ele foi o
que de mais avançado existiu na tentativa de organizar um movimento social que
se pautasse pela horizontalidade, autonomia e independência. O fim do MPL
implica uma revisão de quais práticas pretendemos adotar para continuarmos em
luta.
O MPL sempre teve como uma de suas características centrais a crítica à
“velha esquerda”, o surgimento do movimento foi fruto de uma heterodoxia na
qual ex-militantes leninistas se aproximaram de práticas dos grupos autônomos.
Não era uma revisão doutrinária ou de princípios abstratos, mas uma reflexão
vinda da experiência concreta de luta. Os agrupamentos partidários viam as
demandas por transporte de maneira instrumental, por isso as aparelhavam ou as
boicotavam de acordo com as análises de seus comitês centrais. Foi para romper
com essas práticas que estabelecemos como princípios a autonomia, a
independência, o apartidarismo e a horizontalidade. Princípios esses que foram
fundamentais para nosso desenvolvimento, tanto para ser uma referência prática
para aqueles que recusavam a organização política por meio de doutrinas, quanto
para permitir o aprofundamento da discussão sobre transporte e sua relação com
estruturação da cidade.
(...)
Para continuar a leitura,
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Legume
Lucas – 04.08.2015
IN Passa Palavra.