quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Para quem não gosta da 'detestável' matemática


A matemática intimida, desmotiva, cria ansiedades, reforça preconceitos, diminui aspirações, consolida barreiras de gênero e de raça para milhões de crianças e jovens no Brasil, principalmente as que estão nas escolas públicas. Esse hiato cognitivo (e psicosocial) apenas cresce durante a vida escolar de nossas crianças e jovens. De fato, 90% delas concluem o ensino médio sem o aprendizado desejável na matéria.


Flávio Comim
Se você não gostava e tem más lembranças das suas aulas de matemática dos tempos da escola, você não está sozinho. Uma pesquisa feita pelo Instituto TIM/O Círculo da Matemática do Brasil mostrou que 65% dos brasileiros maiores de 25 anos têm lembranças desagradáveis das aulas de matemática da escola. Percentual idêntico disse simplesmente que não gostava e não achava fácil essas aulas. Isso fez com que a matemática fosse eleita por 43% das pessoas como a “matéria mais detestada” da escola. Curioso que 91% das pessoas expressaram a opinião de que o conhecimento da matéria não é decisivo para encontrar um bom trabalho. De modo similar, 89% delas aformaram que não usa a matemática que aprenderam na escola nos problemas do dia-a-dia.
A triste realidade é que vivemos em um país onde as pessoas não apenas não sabem matemática, mas parecem não se importar muito com isso. Seguimos como “zumbis de matemática” levando vidas socialmente e economicamente incompletas. Não é nenhum exagero dizer que o berço da desigualdade social no Brasil hoje é o ensino de matemática. Já no 3º ano do ensino fundamental 57% das crianças de 8-9 anos não tem conhecimento adequado de matemática.
(...)






Flávio Comim – Professor de economia associado da UFRGS e professor visitante da Universidade de Cambridge – 26.10.2015
IN Valor Econômico, ed. impressa.