sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Sem parâmetros


A eleição da “pós-verdade” (“circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que a emoção e as crenças pessoais”) como a palavra do ano pelo Dicionário Oxford não podia ser mais adequada para definir um ano em que os movimentos de direita se definem anti-establishment. No Brasil, diante de uma esquerda enfraquecida, mentiras que impulsionam a ação:  reinventam a ameaça comunista e a necessidade de sua contenção. Essa narrativa, em última instância, legitima a ascensão do autoritarismo e do regime de exceção.

Rosana Pinheiro Machado
Nada mais perturbador do que o sentimento de perda dos parâmetros, de verdade, de justiça, de bom senso, de autoridade de tempo e direção. Não há mais regra, ou segurança, de que o voto e os direitos sejam garantidos. É um desmonte dos direitos e da segurança que traziam. É como se todas as peças do sistema estivessem frouxas. Hanna Arendt lembra-nos que as crises republicanas (o abalo da tradição, da verdade e da autoridade) deixam uma lacuna desconcertante entre o passado e o futuro. É o limbo histórico, descompasso do tempo.
Crises econômicas tornam-se também políticas e morais. O colapso é multidimensional e ocorre em múltiplos níveis e contextos.
Perdemos alguns modelos de projeção. Os países que possuíam agenda mais consolidada de direitos humanos dão um passo atrás.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/






Rosana Pinheiro-Machado – Cientista Social e antropóloga, professora visitante da USP e colunista da Carta Capital – 28.12.2016.
IN Carta Capital.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Why Referendums Aren’t as Democratic as They Seem


Politicians or other powerful actors will often reframe the referendum into simplistic, straightforward narratives. The result is that votes become less about the actual policy question than about contests between abstract values, or between which narrative voters find more appealing.
 (…)
Though presented as putting power in the hands of the people, referendums are often intended to put a stamp of popular legitimacy on something leaders have already decided to do.

Amanda Taub and Max Fisher
The voters of the world have had quite a year: They rejected Colombia’s peace dealsplit Britain from the European Union; endorsed a Thai Constitution that curtails democracy; and, in Hungary, backed the government’s plan to restrict refugees, but without the necessary turnout for a valid result.
Each of these moves was determined by a national referendum. Though voters upended their governments’ plans, eroded their own rights and ignited political crises, they all accomplished one thing: They demonstrated why many political scientists consider referendums messy and dangerous.
When asked whether referendums were a good idea, Michael Marsh, a political scientist at Trinity College Dublin, said, “The simple answer is almost never.”
(...)




Amanda Taub and Max Fisher – 04.10.2016.

In NY Times.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Quando a justiça falha


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Depois da fome, a obesidade


Agregar educação alimentar ao cardápio de proteínas e carboidratos é um requisito para que a vitória contra a carência não se torne no momento seguinte em derrota para o excesso. A dieta saudável como política pública é a nova fronteira da segurança alimentar no mundo.

José Graziano da Silva
A obesidade e a forme enquadram-se numa matriz de falsos opostos. Trata-se de um paradoxo que marca importante dimensão da segurança alimentar e nutricional na atualidade, especialmente nos países desenvolvidos e de renda média, como a maioria dos páises latino-americanos e caribenhos hoje.
Dos 42 milhões de menores de cinco anos que apresentam sobrepeso no mundo, 35 milhões (83%) vivem em países com esse perfil, explica a Organização Mundial da Saúde (OMS).
 A lição é clara: em sociedades que fizeram grandes progressos na erradicação da fome, e o Brasil é um caso, há que se prevenir retrocessos e aumentar a resiliência do que foi conquistado. Isso inclui reverter a curva ascendente que faz do sobrepeso e da obesidade uma contrapartida da maior quantidade disponível de calorias.
(...)




José Graziano da Silva – Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) – 04.02.2016
IN Valor Econômico, edição impressa.



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

As ocupações se espalham...


A nacionalização da tática das ocupações colocou um desafio aos dispositivos de repressão e aos governos de diferentes estados, que reagem de acordo com certos padrões que parecem se repetir. Em São Paulo, o aprendizado da derrota de 2015 representou para o governo uma sofisticação e um endurecimento do autoritarismo: ao mesmo tempo que faz a ‘reorganização’ de maneira menos visível, ele investe na organização de grêmios aparelhados como instrumento de verniz democrático. Quanto à repressão, aposta-se na individualização da perseguição/criminalização dos secundaristas (...) e, sobretudo, na realização das reintegrações de posse pela polícia militar sem necessidade de mandado judicial.

Antônia M. Campos, Jonas Medeiros e Márcio M. Ribeiro
No dia 23 de setembro de 2016, o governo federal oficializou, por meio de medida provisória (MP), a nova política de fomento às escolas de ensino médio em tempo integral. Exatamente um ano antes era anunciada a “reorganização” da rede de ensino do estado de São Paulo. Como a MP, a reorganização foi apresentada de maneira autoritária: estudantes e professores receberam a notícia pela imprensa. Em ambos os caos, a reação não tardou:  no ano passado foram cerca de duzentas ocupações de escolas pelos estudantes paulistas: este ano, vemos novo movimento de ocupações de escolas públicas, universidades e institutos federais, contrário tanto à reforma do ensino médio, como à PEC n. 241, outra medida de ataque à educação pública, mas que não se restringe a esse campo.
Embora o anúncio do governador paulista, Geraldo Alckmin, de adiar por um ano a reorganização tenha sido uma vitória inegável do movimento secundarista, isso demonstrou que a administração continua defendendo que “uma série de boatos” teria “confundido a população”. Além disso, o governo segue realizando a “reorganização” disfarçada e silenciosamente, fechando salas em vez de ciclos e escolas inteiras.
(...)







Antônia M. Campos – Mestre em Sociologia na Unicamp; Jonas Medeiros – Doutorando em Educação na Unicamp; Márcio M. Ribeiro – Professor da EACH-USP – Novembro 2016.
IN Le Monde Diplomatique Brasil.


domingo, 18 de dezembro de 2016

Brasil é paraíso tributário para super-ricos, diz estudo de centro da ONU

 

Mais ricos representam 71 mil pessoas (0,05% da população adulta brasileira) e se beneficiam de isenções de impostos sobre lucros e dividendos, uma de suas principais fontes de renda. Entre os países da OCDE, além do Brasil somente a Estônia oferece esse tipo de isenção tributária ao topo da pirâmide.

Nações Unidas no Brasil
Os brasileiros super-ricos pagam menos imposto, na proporção da sua renda, que um cidadão típico de classe média alta, sobretudo assalariado, o que viola o princípio da progressividade tributária, segundo o qual o nível de tributação deve crescer com a renda.
Essa é uma das conclusões de artigo publicado em dezembro pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O estudo, que analisou dados de Imposto de Renda referentes ao período de 2007 a 2013, mostrou que os brasileiros “super-ricos” do topo da pirâmide social somam aproximadamente 71 mil pessoas (0,05% da população adulta), que ganharam, em média, 4,1 milhões de reais em 2013.
De acordo com o levantamento, esses brasileiros pagam menos imposto, na proporção de sua renda, que um cidadão de classe média alta. Isso porque cerca de dois terços da renda dos super-ricos está isenta de qualquer incidência tributária, proporção superior a qualquer outra faixa de rendimento.
“O resultado é que a alíquota efetiva média paga pelos super-ricos chega a apenas 7%, enquanto a média nos estratos intermediários dos declarantes do imposto de renda chega a 12%”, disseram os autores do artigo, Sérgio Gobetti e Rodrigo Orair, que também são pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
(...)






Nações Unidas no Brasil – 31.03.2016.
IN Nações Unidas no Brasil.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Segurança pública no Brasil contemporâneo: paradigma equivocado



Argumento há alguns anos, junto a uma série extensa de pesquisadores do tema, que o modelo de encarceramento ofereceu todas as condições fundamentais para a expansão do PCC no estado. E que a facção, instrumentalizando esse modelo para crescer, foi a principal responsável pela redução drástica dos homicídios de jovens negros inscritos no “crime” em São Paulo durante os anos 2000, época em que todas as outras taxas de criminalidade cresceram no estado (inclusive latrocínios e homicídios policiais).
Não há soluções mágicas para o problema da criminalidade violenta no país. Ela se nutre da desigualdade e da intensa lucratividade dos mercados ilegais, que, por sua vez, também fomentam a economia legal. (...)
Proteção social contra a desigualdade e regulação pública dos mercados ilegais são as melhores políticas de segurança pública.

Gabriel Feltran
Se a desigualdade tem múltiplas dimensões – renda e propriedade, relações raciais e de gênero, território, acesso e qualidade da educação, serviços de saúde e políticas sociais, entre outras –, o debate específico tem considerado pouco as implicações da segurança pública na conformação atual de nossa ordem desigual. Geralmente, a violência é vista como subproduto da pobreza, mesmo que esse argumento seja refutado com energia pelos estudos especializados: Michel Misse considera essa a primeira das “cinco teses equivocadas sobre a violência urbana no Brasil”. O Brasil, inclusive, já foi muito mais pobre e muito menos violento.
Ao contrário do que se poderia intuir, sabemos que as taxas de crescimento da criminalidade violenta têm acompanhado, no Brasil, o crescimento da economia e dos mercados de consumo: a maior capacidade de consumir bens e serviços estimula tanto atividades legais quanto ilegais da economia. Ambas já estão bastante consolidadas no país. Com mais dinheiro no bolso, as pessoas compram mais casas, carros e celulares, mas também mais drogas e armas, já que estas também estão disponíveis. Ademais, onde há mais dinheiro circulante – como nas metrópoles e nas fronteiras de expansão do agronegócio –, há mais criminalidade violenta. Mas como melhorar o problema? Seguramente, não no caminho que temos trilhado nas últimas décadas. O paradigma das “políticas de segurança pública” no país tem, na verdade, produzido mais criminalidade violenta.
O Brasil apresentou, nas últimas duas décadas, dois modelos de enfrentamento da “violência urbana” com pretensão de generalização para outros estados. 
(...)





Gabriel Feltran – Sociólogo, Professor da UFSCAR – s.d.
In Oxfam.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O destino de Pedro Torres e as eleições de 2016


Nosso amigo não cobrava vitórias eleitorais do PT. Cobrava ideologia. Entre a crise de deposição da Dilma e as eleições de 2016, queria um partido aguerrido e não acuado. Supunha que estávamos perdendo a sociedade. Como se algum dia tivéssemos ganhado a sociedade e não apenas as eleições.

Luis Fernando Vittagliano
“Pedro ondecê vai eu também vou,
Mas tudo acaba onde começou.”
(Meu amigo Pedro – Raúl Seixas)
Usarei PedroTorres como nome fictício de um professor universitário já sexagenário. Sua trajetória política não deixa dúvidas em relação aos seus ideais: lutou contra a ditadura de 1964, viu amigos presos, colegas desaparecidos, conheceu forçosamente o mundo através do exílio e voltou ao Brasil para recuperar seus direitos políticos quando participou da fundação do PT.
Meu encontro com ele em um debate pode sintetizar em boa medida o inconformismo de parte das figuras de esquerda com a conjuntura política. Suas posições beiravam a ação desenfreada de uma metralhadora que busca o alvo aleatoriamente. Então, qualquer esquerda que tenha se postado na linha de frente de 2016 tornava-se objeto de sua crítica.
É compreensível sua atitude – como de muitos outros que em público ou em particular se dedicam ao exame político de 2016. Em parte, há uma verdade nessas reverberações: as esquerdas estão fragilizadas e acuadas. O avanço da direita não é apenas no campo eleitoral, atinge também o projeto social e salta aos olhos a disseminação de preconceitos.
(...)






Luis Fernando Vittagliano – Sociólogo e Professor Universitário – 20.10.2016.
IN Brasil Debate.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Contra o “Escola sem Sentido”

O projeto em questão não só está distante dos verdadeiros problemas da educação do país e da experiência internacional bem sucedida. Ele também atrapalha a busca de soluções. Como os estudos em todo o mundo têm mostrado, o professor é figura-chave do processo educativo. A “Escola sem partido” propõe um tal clima de perseguição – como seus cartazes ameaçadores -, numa espécie de “macarthismo pedagógico”, que seria muito difícil recrutar docentes de qualidade, capazes de exercer seu ofício com criatividade e paixão, elementos essenciais nessa profissão.

 

Fernando Abrúcio

Nesse momento de grande crise, o país enfrenta vários desafios. Melhorar a gestão pública, reformular o sistema político, aperfeiçoar e ampliar o combate à desigualdade, tornar a Previdência Social mais justa e sustentável ao longo do tempo, enfim, são tantas as questões, complexas e de difícil resolução, que nem sabemos se teremos condições políticas de realiza-las com a urgência que merecem ser tratadas. Numa hora como essa, não deveria se gastar muito tempo com a discussão de temas irrelevantes e anacrônicos. Mas não é que surge na agenda legislativa um projeto propondo a chamada “Escola sem partido” como um item importante para melhorar o Brasil? Ao procurar entende-lo, constatei que melhor seria chama-los de “Escola sem sentido”, dado que sua concepção não se baseia em evidências e estudos, nem na experiência internacional, atrapalha a construção de uma reforma educacional condizente com nossos males e, pior, pode asfixiar a escola, acabando por matar o seu sentido.
Um diagnóstico honesto sobre a educação brasileira deveria dizer, em primeiro lugar, que houve uma série de melhorias nos últimos 20 anos, como a universalização do ensino fundamental, a ampliação do número de alunos nas universidades e a criação de amplos sistemas de avaliação, mas que o modelo de ensino ainda tem vários problemas. Nenhum deles, no entanto, se deve prioritariamente ao que argumenta a Escola sem Partido. Isto é, o nível de ideologização dos professores, algo a ser comprovado cientificamente, não se constitui uma das principais causas das fragilidades e carências da política educacional do país.
(...)

Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/cultura/4659425/contra-escola-sem-sentido







Fernando Abrúcio – Cientista Político – 05.08.2016.
IN Valor Econômico, Cad. Eu e fim de semana.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Uma boa ideia para o sistema político



A proposta [do "Quero Prévias!"] tem duas grandes vantagens.
Em primeiro lugar, ela parte do pressuposto de que os partidos terão protagonismo nesse processo e que, portanto, nenhuma saída para o impasse que vivemos poderá ser alcançada sem que eles estejam de algum modo envolvidos.
Em segundo lugar, as prévias são inclusivas: a adesão a elas não implica a adesão a uma pauta específica. Basta que todos estejam comprometidos com os direitos garantidos pela Constituição e que as conquistas democráticas sejam respeitadas.




Raphael Neves
Foi lançada neste mês uma iniciativa pela realização de prévias eleitorais. A proposta é simples e objetiva: prévias para a campanha presidencial de 2018.
Essa proposta não define como as prévias serão realizadas, não estipula nomes para as candidaturas e nem mesmo quais serão os partidos incluídos, deixando um espaço de negociação para que essas decisões sejam tomadas conjuntamente com os atores políticos.
Valendo-se de um modelo colaborativo, horizontal e, em si, bastante democrático, o Quero Prévias! tem sido organizado por diferentes grupos da sociedade civil, ativistas e pessoas interessadas em melhorar nossa democracia.
(...)






Raphael Neves – Cientista Político, membro do Núcleo Direito e Democracia do CEBRAP e integrante do Quero Prévias – 25.11.2016.
IN Folha de São Paulo.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Transição à ditadura


Essa ditadura não será o regime de um ditador pessoal, até porque nenhum dos possíveis candidatos ao posto tem força suficiente para alcançá-lo. Não será uma ditadura das forças armadas, ainda que sua participação na repressão tenda a crescer. Provavelmente, muitos dos rituais do Estado de direito e da democracia eleitoral serão mantidos, mas cada vez mais esvaziados de sentido.
Ou seja: a transição que vivemos é de uma democracia insuficiente para uma ditadura velada. As debilidades do arranjo democrático anterior, que era demasiado vulnerável à influência desproporcional de grupos privilegiados, não serão desafiadas, muito pelo contrário. Ao mesmo tempo, alguns procedimentos até agora vigentes estão sendo cortados, seletivamente, de maneira que mesmo o arranjo formal da democracia liberal vai sendo desfigurado.
A Constituição não foi revogada, mas opera de maneira deturpada e irregular. 

Luis Felipe Miguel
Entrei na universidade no mesmo mês em que um civil voltou à presidência da República no Brasil. Depois de mais de vinte anos de regime autoritário, estávamos frente à possibilidade de reconstruir um governo baseado na soberania popular. Esta conjuntura impactou o ambiente em que eu estava entrando; em toda a minha formação acadêmica, da graduação ao doutorado, um tema central de debate, se não o tema central do debate, foi a transição à democracia. Pois na quadra atual da vida brasileira, uma nova agenda de pesquisa se abre: a transição à ditadura.
A palavra “ditadura” pode parecer excessiva, mas é exatamente disto que se trata. Sem discutir extensamente o conceito, é possível afirmar que “ditadura” remete a dois sentidos principais, aliás interligados. Por um lado, como oposto de democracia, indica um governo que não tem autorização popular. Por outro, em contraste com o império da lei, sinaliza um regime em que o poder não é limitado por direitos dos cidadãos e em que a igualdade jurídica é abertamente desrespeitada. O Brasil após o golpe de 2016 caminha nas duas direções.
A destituição da presidente Dilma Rousseff, sem respaldo na Constituição, representou um golpe de novo tipo, desferido no parlamento, com apoio fundamental do aparato repressivo do Estado, da mídia empresarial e do grande capital em geral. Foi um golpe sem tanques, sem tropas nas ruas, sem líderes fardados. Mas foi um golpe, ainda assim, uma vez que representou o processo pelo qual setores do aparelho de Estado trocaram os governantes por decisão unilateral, modificando as regras do jogo em benefício próprio.
(...)






Luis Felipe Miguel – Cientista Político, Professor da UNB – 28.10.2016.
In Blog Boitempo.   


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Uma crítica aos pressupostos do ajuste econômico


Autores repelem argumentos de economistas clássicos acerca do papel da austeridade na redução da relação dívida/PIB e na retomada do crescimento. O texto critica a proposta de teto para gastos públicos, que adiaria o reencontro do país com a prosperidade.

Pedro Paulo Zahluth Bastos e Luiz Gonzaga Belluzzo
Fomos honrados pela citação de nosso artigo (publicado no site da "Ilustríssima") por Luiz Fernando de Paula e Elias Jabbour, que responderam a um artigo polêmico de Marcos Lisboa e Samuel Pessôa a respeito da diferença entre direita e esquerda em economia. Concordamos em geral com a resposta, mas pretendemos levantar novos elementos para reflexão.
O argumento central de Lisboa e Pessôa é que, nos EUA, os debates entre direita e esquerda são resolvidos com o uso de métodos quantitativos de verificação de hipóteses e que, no Brasil, isso não se faz. Nesse sentido, o fenômeno da heterodoxia "sem uso de dados" seria tipicamente brasileiro, como reiterado em novo artigo de Lisboa e Pessôa em 04/09.
Os equívocos de Lisboa e Pessôa são diversos e alguns deles foram apontados por de Paula e Jabbour. Primeiro, não é verdade que praticamente não existam heterodoxias fora do Brasil, mas apenas divisões entre esquerda e direita no seio da "economia tradicional". Esse desconhecimento reflete o fato de que as faculdades neoclássicas não estudam as heterodoxias, embora os heterodoxos estudem e saibam bem por que rejeitam a ortodoxia neoclássica.
(...)




Pedro Paulo Zahluth Bastos – Economista e Professor da Unicamp.
Luiz Gonzaga Belluzzo – Economista e Professor da Unicamp – 18.10.2016.
In Folha de São Paulo, Ilustríssima.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Muere Fidel Castro, ¿el político más astuto del siglo XX?



Por medio siglo, la habilidad de Fidel para dar zancadas en el escenario mundial lo hicieron parecer por momentos un semidiós.
Y durante esos años, fuera que lo amaran o lo despreciaran, la mayoría de los cubanos había compartido la sensación de que ellos también eran especiales.
Ahora que no está, Cuba parece empequeñecerse, convertirse en un estado post-socialista más, plagado de problemas mundanos y contradicciones, aunque imbuido en una pátina de exotismo, y hasta de cierto romanticismo histórico por el país que fue bajo la égida de Fidel.
Sin él, nada en Cuba volverá a ser igual.

Jon Lee Anderson
El fallecido escritor colombiano Gabriel García Márquez escribió que en una ocasión vio a Fidel Castro, gran amante de los helados, comerse no menos de 28 bolas en una sola sentada.
Probablemente se trataba de una historia apócrifa, pero en su exageración García Márquez dijo una verdad fundamental sobre el comportamiento legendario de Castro, que alimentaba el estatus cuasi mitológico del que gozó durante gran parte de su vida adulta.
Después de que su Ejército Rebelde derrocara al dictador Fulgencio Batista en 1959, Castro no perdió tiempo en hacer sentir su presencia más allá de los confines de su isla natal. Su principal estrategia fue desafiar de manera abierta, con palabras y hechos, la hegemonía de Estados Unidos en América Latina.
(...)







Jon Lee Anderson – Jornalista e escritor – 20.11.2016.
IN BBC Brasil.




E seus inimigos não dizem que apesar de todos os pesares, das agressões de fora e das arbitrariedades de dentro, essa ilha sofrida mas obstinadamente alegre gerou a sociedade latino-americana menos injusta.


Eduardo Galeano
Seus inimigos dizem que foi rei sem coroa e que confundia a unidade com a unanimidade.
E nisso seus inimigos têm razão.
Seus inimigos dizem que, se Napoleão tivesse tido um jornal como o Granma, nenhum francês ficaria sabendo do desastre de Waterloo.
E nisso seus inimigos têm razão.
Seus inimigos dizem que exerceu o poder falando muito e escutando pouco, porque estava mais acostumado aos ecos que às vozes.
E nisso seus inimigos têm razão.
Mas seus inimigos não dizem que não foi para posar para a História que abriu o peito para as balas quando veio a invasão, que enfrentou os furacões de igual pra igual, de furacão a furacão, que sobreviveu a 637 atentados, que sua contagiosa energia foi decisiva para transformar uma colônia em pátria e que não foi nem por feitiço de mandinga nem por milagre de Deus que essa nova pátria conseguiu sobreviver a dez presidentes dos Estados Unidos, que já estavam com o guardanapo no pescoço para almoçá-la de faca e garfo.
(...)






Eduardo Galeano – Intelectual e escritor Uruguaio – 2008.
Do livro “Espelhos: uma história universal”.
Trad. Éric Nepomuceno.
IN Outras Palavras.


sábado, 26 de novembro de 2016

A esquerda optou pela obsolescência da transformação social e se rendeu à ideia de que as coisas são feitas aqui e agora




Henrique Costa – “A negação da condição operária significa dizer que os pais deles [de um grupo de jovens de cursos tecnológicos beneficiários do PROUNI pesquisados] tinham empregos que hoje são considerados de segunda categoria, mas que à época permitiam que eles pudessem ter carteira assinada e uma certa estabilidade. Hoje em dia, no entanto, esses jovens têm uma vida muito mais atarefada, e não só trabalham e estudam sábado ou domingo, mas a pressão pelo trabalho produz algo muito forte na subjetividade dessas pessoas de modo que elas não têm nem tempo de pensar a respeito disso. Como as pedagogas [outro grupo de beneficiários do PRouni investigados] já são mais velhas e entendem o problema da precariedade do trabalho de modo diferente, elas compreendem que são penalizadas pela desigualdade social e acabam desenvolvendo um senso de coletividade e identidade diferente, que acaba sendo condicionante para outras percepções da vida.
Se esses jovens não conseguem fazer essa identificação entre eles, não conseguem se ver parte de alguma coisa, fica complicado fazer um trabalho político porque eles não se veem dessa maneira. Os velhos discursos da esquerda têm muita dificuldade de atingi-los. Quem os atinge de alguma maneira são os partidos “pós-materialistas”, que não trabalham necessariamente a questão de classe”.
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IHU On-Line
O sentimento geral entre os jovens 'prounistas' entrevistados para pesquisa de dissertação de mestrado Entre o lulismo e o ceticismo: um estudo de caso com prounistas de São Paulo “não é nem de agradecimento, nem de reconhecimento de que o governo estava trabalhando para eles”, diz Henrique Costa à IHU On-Line.
Segundo o autor da pesquisa, apesar de a narrativa “criada pelo próprio governo e repercutida” amplamente, “de que o Prouni implicou no acesso de grandes massas e de uma grande fatia da classe trabalhadora jovem à universidade, algo que não lhes era permitido anteriormente”, entre os jovens entrevistados essa política pública não repercute positivamente na imagem que se tem do lulismo.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Costa ressalta que sua hipótese inicial era a de que os estudantes “reconhecessem o ProUni como uma política que os beneficiou”, mas se “surpreendeu um pouco, porque não foi exatamente assim. Eles veem o ProUni como uma obrigação do governo e de qualquer governo”, frisa.
Na avaliação dele, o resultado da pesquisa está condicionado a outros fatores, entre eles, o fato de os prounistas terem de trabalhar o dia todo, estudar à noite para poderem se manter no emprego, que também depende da conclusão do curso superior. “As pessoas começaram a ver que ganham 1,5 salário mínimo e continuarão ganhando esse mesmo salário, se não perderem seus empregos. (...) Isso tem a ver com a percepção dos jovens de como todo esse arranjo que o PT criou em torno dos programas sociais serve para a gestão social e não necessariamente para a mobilidade social. Foram criadas muitas vagas de emprego, mas se todas pagam muito pouco, isso demonstra que essas vagas ajudam as pessoas a se manter, mas elas dificilmente conseguirão modificar radicalmente seu padrão de vida”, avalia.
(...)






Henrique Costa – Doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo – 14.06.2016.
IN IHU On-Line.