A eleição da “pós-verdade” (“circunstâncias em que os fatos
objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que a emoção e as
crenças pessoais”) como a palavra do ano pelo Dicionário Oxford não podia ser
mais adequada para definir um ano em que os movimentos de direita se definem
anti-establishment. No Brasil, diante de uma esquerda enfraquecida, mentiras
que impulsionam a ação: reinventam a ameaça
comunista e a necessidade de sua contenção. Essa narrativa, em última
instância, legitima a ascensão do autoritarismo e do regime de exceção.
Rosana Pinheiro Machado
Nada mais perturbador do que o sentimento de perda dos parâmetros, de
verdade, de justiça, de bom senso, de autoridade de tempo e direção. Não há
mais regra, ou segurança, de que o voto e os direitos sejam garantidos. É um
desmonte dos direitos e da segurança que traziam. É como se todas as peças do
sistema estivessem frouxas. Hanna Arendt lembra-nos que as crises republicanas
(o abalo da tradição, da verdade e da autoridade) deixam uma lacuna
desconcertante entre o passado e o futuro. É o limbo histórico, descompasso do
tempo.
Crises econômicas tornam-se também políticas e morais. O colapso é
multidimensional e ocorre em múltiplos níveis e contextos.
Perdemos alguns modelos de projeção. Os países que possuíam agenda mais
consolidada de direitos humanos dão um passo atrás.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/
Rosana Pinheiro-Machado – Cientista Social e antropóloga, professora visitante da USP e colunista
da Carta Capital – 28.12.2016.
IN Carta Capital.