segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Lemingues e austericidas


Quem entendeu Keynes sabe que o governo não deve poupar mais quando o setor privado luta para cortar gastos.

Pedro Paulo Zahluth Bastos
Os lemingues são roedores do Ártico que, induzidos pelo crescimento populacional, fazem migrações em massa nas quais muitos se afogam. Já se imaginou que realizavam suicídio coletivo ao se atirar no mar ou em rios. Hoje, a hipótese mais aceita é que apenas subestimam os riscos da travessia.
Os austericidas são economistas que pregam a austeridade como remédio para atravessar uma recessão. Foram quase extintos na década de 1930 quando, sob sua influência, várias nações quase cometeram suicídio coletivo. Passam por explosão populacional na década de 1970 e, no final de 2014, chegaram ao poder no Brasil com o discurso de que não havia alternativa para recuperar o crescimento e ajustar as contas públicas a não ser cortar gastos.
De nada adiantou o alerta Keynesiano que era melhor trocar a política anticíclica desastrada que fora sugerida pela Fiesp e seus intelectuais, ou seja, mais e mais subsídios, por uma política anticíclica baseada no investimento público e no gasto social, como em 2009. Ou que o clamor austericida nos levaria ao despenhadeiro: a deterioração das contas públicas resultava da desaceleração do PIB e da queda das receitas tributárias, o que seria agravado caso o governo realizasse uma política prócíclica.
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Pedro Paulo Zahluth Bastos – Professor associado (Livre Docente) da Unicamp e ex-presidente da Associação Brasileira de História Econômica – 24.11.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa.