O problema, contudo, pode ser mais grave. Hipótese plausível é que
os investigadores poupem o PSDB exatamente porque sabem que não contariam com a
simpatia da mídia se apertassem o cerco aos tucanos. Conforme deixa claro o
juiz Sergio Moro no artigo de 2004 sobre a "mãos limpas" na Itália, a
aliança com a imprensa é crucial para o sucesso desse tipo de empreitada. Trata-se
de um sistema justiça-imprensa, que aqui tem agido de modo gritantemente
seletivo.
André
Singer
O pagamento de R$ 60 milhões por parte da
Alstom, como indenização por uso de propina no mandato do pessedebista Mário
Covas em São Paulo (Folha, 22/12), a revelação de que a dobradinha Nestor
Cerveró-Delcídio do Amaral remonta ao tempo em que ambos serviam ao governo
Fernando Henrique Cardoso (Folha, 18/12) e a condenação do ex-presidente tucano
Eduardo Azeredo a 20 anos de prisão (Folha, 17/12), por esquema análogo ao que
levou José Dirceu à cadeia em 2012 (condenado à metade do tempo), confirmam que
há dois pesos e duas medidas no tratamento que a mídia dá aos principais
partidos brasileiros.
Enquanto o PT aparece,
diuturnamente, como o mais corrupto da história nacional, o PSDB, quando
apanhado, merece manchetes, chamadas e registros relativamente discretos. O
primeiro transita na área do megaescândalo, ao passo que o segundo ocupa a
dimensão da notícia comum.
Isso não alivia a
situação do PT, o qual, como antigo defensor da ética, tinha compromisso de não
envolver-se com métodos ilícitos de financiamento. No entanto, o destaque
desequilibrado distorce o jogo político, gerando falsa percepção de
excepcionalidade do Partido dos Trabalhadores. A salvaguarda do PSDB pelos
meios de comunicação reforça a tese de que o objetivo é destruir a real opção
popular e não regenerar a República.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2015/12/1723135-seletividade.shtml
(ou http://jornalggn.com.br/noticia/as-diferencas-no-tratamento-da-midia-ao-pt-e-psdb-por-andre-singer#.Vn6WzOCG_8Q.facebook
)
André
Singer –
Cientista Político e professor da USP – 26.12.2015.
IN Folha de São Paulo (republicado no Jornal GGN).