Uma
das maiores dificuldades atuais do Podemos é conseguir encontrar uma forma
institucional democrática capaz de permitir que agrupamentos organizados em
torno de reivindicações como essas continuem compartilhando a mesma plataforma
política. Das 69 cadeiras (de um total de 350) conquistadas na eleição pela
plataforma Podemos, nada menos do que 27 delas foram obtidas por diferentes
organizações que se reuniram em torno de movimentos por autonomia na Catalunha,
na Comunidade Valenciana e na Galícia. E cada um desses nós organizativos
aspira ter uma bancada própria no parlamento. Processos semelhantes se dão em
relação aos demais coletivos reunidos no Podemos.
O atual
esforço é para manter essa multiplicidade de grupos dentro da mesma plataforma
política.
Marcos Nobre
No
século 20, a democracia de massas deu as caras em poucos momentos e em bem
poucos lugares do planeta. Sua forma habitual foi a da representação por meio
de partidos políticos organizados de maneira hierárquica e burocratizada.
Progressivamente, esses partidos foram se tornando verdadeiras entidades
paraestatais, com laços cada vez mais frouxos com a base da sociedade. Na
passagem para o século 21, é a própria forma partido, típica do século passado
que está em questão, duvidando-se de sua capacidade de representar sociedades
que experimentaram novas formas de vida democráticas.
Um dos
mais importantes laboratórios da nova experimentação se encontra na Espanha.
Acontece ali um embate aberto entre as velhas formas partidárias do século 20 e
as novas plataformas políticas do século 21. Do lado da "velha
política" estão o Partido Popular (PP, direita) e o Partido Socialista
Operário Espanhol (PSOE, esquerda). Do lado da "nova política",
Podemos e Cidadãos. Na mais recente eleição, ocorrida em 20 de dezembro, deu
impasse. Nenhuma formação consegue construir alianças de modo a obter maioria
para governar. Visto da maneira tradicional, nenhum problema. Como se trata de
uma monarquia parlamentarista, basta realizar novas eleições. Só que o impasse
já não se dá mais em termos tradicionais.
De
todas as revoltas democráticas que se espalharam pelo planeta a partir de
janeiro de 2011, a Espanha conta entre os poucos lugares em que as energias de
contestação tomaram forma capaz de mudar a institucionalidade. Os países da
primavera árabe tiveram suas revoltas sufocadas por novas ditaduras e por
guerras civis. Ou, como na Tunísia, estão com sua jovem democracia na UTI. A
experiência grega foi sufocada pela austeridade. No Brasil, a adesão das
principais forças políticas ao "centrão pemedebista" formado a partir
do Plano Real travou temporariamente a mudança.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/politica/4396408/laboratorio-espanha (ou http://www.josenildomelo.com.br/news/marcos-nobre-laboratorio-espanha/ )
Marcos Nobre –
Professor da Unicamp e Pesquisador do CEBRAP – 201
IN
Valor Econômico, edição impressa (republicado em blog do Josenildo Melo)