a crise expõe de maneira dramática o
calcanhar de Aquiles há muitos anos detectável em nossa política: o
financiamento de nossas campanhas eleitorais, principalmente as legislativas.
(...)
Damos uma vantagem insuperável a quem conta
com financiadores poderosos, num sistema precariamente governável pelos
tribunais eleitorais, e fortemente inflacionário pela competição entre centenas
de candidaturas individuais.
Só por milagre não produziríamos um jogo
cada vez mais corrupto.
Bruno
P. W. Reis
A premissa básica de
quase toda narrativa ou caracterização da crise corrente é a existência de um
monte de políticos corruptos em Brasília. Saída do nada, talvez de alguma
propensão atávica, "cultural" dos brasileiros para a malandragem e a
vigarice. Se quisermos no entanto nos livrar deste estado de coisas, ou
superarmos a corrupção endêmica na retaguarda das campanhas eleitorais, temos
de tomá-la não como dado da análise, mas como, ela mesma, o fenômeno a ser
explicado. Insistir na tese da "crise moral" é antes sintoma de
perplexidade intelectual, e nos condena a eternizar a bagunça. Precisamos
endogeneizar a conduta dos políticos, dirá um metodólogo.
Não é difícil fazê-lo.
Afinal, a elite política é rotineiramente selecionada em eleições periódicas, e
suas características, bem como os traços básicos do quadro partidário,
decorrerão das regras das eleições. Desde há uns vinte anos, a ciência política
brasileira tem mostrado de maneira persuasiva (a nós e ao mundo todo) que,
apesar do nosso hábito da autodepreciação, nosso sistema político era
relativamente "normal" na operação do Congresso Nacional, com
plenários preditíveis a partir de alinhamentos partidários, maiorias viáveis
construídas com os recursos institucionalmente disponíveis para a Presidência
da República e uma rede de instituições de controle apta a vigiar a conduta dos
protagonistas.
Agora, porém, a formação
de uma tempestade perfeita na interação desses atores, com crise política,
econômica e investigação criminal incidindo ao mesmo tempo sobre nosso sistema
político, tem abalado a fé de muitos na força do diagnóstico predominante. De
fato, entendo que a crise expõe de maneira dramática o calcanhar de Aquiles há
muitos anos detectável em nossa política: o financiamento de nossas campanhas
eleitorais, principalmente as legislativas.
(...)
Para continuar
a leitura, acesse https://web.facebook.com/notes/bruno-p-w-reis/o-n%C3%B3-g%C3%B3rdio/10154118483848276
Bruno P. W. Reis – Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFMG –
11.04.2016
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