depois de perder o poder de que desfrutava na
República Velha, a elite paulista se tornou um poder moderador no país. Ela se
crê um corpo separado da sociedade, dotado de virtudes únicas e com um direito
especial de intervir na vida política quando sente contrariados seus
interesses, os quais naturalmente, se confundem com os da nação.
(...)
A dominação hoje não se assenta imediatamente nas
Forças Armadas, e se erigiu uma sociedade civil muito mais complexa. O
desenvolvimento paulista se interiorizou e integrou as fímbrias de outras
regiões. Uma enorme classe média do mundo corporativo, baseada em nova tecnologia
de difusão de seus pensamentos mais recônditos, tornou-se muito mais influente
do que aquela que saiu às ruas em 1964.
Lincoln
Secco
Desde que os escândalos de 2005 jogaram
o governo Lula no canto do ringue, cresceu infrene a mobilização dos setores
médios contra ele. Mas, apesar do desgosto com a aproximação dos mais pobres
aos seus espaços de sociabilidade exclusiva, protestos como o “Cansei” se
esvaziaram rapidamente.
Hoje, entretanto,
é nítido que o portão do zoológico se abriu, e a subcultura da extrema direita
levou a agressões de todo tipo. O líder do MST não pode ir ao aeroporto, e
mesmo policiais militares se sentem à vontade para intimidar professores de uma
escola de Sorocaba por discutirem publicamente a obra “Vigiar e Punir”, de
Foucault. Há ainda os que conseguiram associar a política de mobilidade urbana
da Prefeitura de São Paulo a Cuba. Embora seja risível que certas pessoas
confundam “ciclista” com “comunista”, não deixa de ser preocupante quando o ovo
da serpente se insinua.
É verdade que as
manifestações desse tipo são de grupos esdrúxulos e tão pequenos quanto eram os
separatistas paulistas em 1932. Na Guerra Civil contra Getúlio Vargas, a elite
paulista queria retomar a liderança do país, e não se separar dele. Mas, para
mobilizar as classes médias, ela foi obrigada soltar as “feras” e, depois, não
havia como recolocá-las na jaula.
Seria, no entanto,
muito cômodo achar que o extremismo de direita não compartilha um terreno comum
com o liberalismo moderado. Em 1938 lá estavam os próceres do
constitucionalismo paulista envolvidos na intentona integralista contra Vargas.
Em 1964 participaram das marchas contra João Goulart e, hoje, não enrubescem
nas manifestações de ódio contra Dilma Rousseff.
(...)
Para continuar
a leitura, acesse http://www.viomundo.com.br/politica/lincoln-secco-se-o-pt-perde-sua-funcao-de-polo-negativo-a-direita-entra-em-curto-circuito.html
Lincoln
Secco – Historiador, professor
livre-docente de história da USP – 04.12.2015
IN Folha de São Paulo (republicado
no site “Vi o Mundo”).