Normas e técnicas jornalísticas não são
meros enfeitos para códigos ou lições esquecidas nos bancos da escola. São
peças essenciais para a sobrevivência da democracia. Na lava-jato, o que deveria motivar uma
custosa operação de checagem independente e edição autônoma derivou numa
repetição inglória dos piores momentos do jornalismo do passado. A audição
generosa e justa do chamado outro lado das denúncias, tanto na apuração de
informações como em sua edição, não existiu.
O abuso de reportagens baseadas exclusivamente em fontes mantidas em
sigilo tornou-se regra. Vazamentos com objetivo manipulatório foram a tônica. (...)
Não pode haver fracasso maior para quem
ao longo dos anos aspirou a se legitimar como instituição pilar de uma jovem
democracia. Veículos de mídia cederam ao populismo que inflama os ódios de
classe e leva o país a vivenciar mais um golpe contra as instituições.
Mário Vítor Santos
A ruptura institucional em via de ser completada no Brasil é resultado
direto da degradação do jornalismo posto em prática por quase todos os meios de
comunicação no país. Os cuidados éticos foram sacrificados a tal ponto que o
jornalismo promove a derrubada de uma presidente até agora considerada honesta.
Jornalismo deve informar os fatos de pontos de vista diferentes e
contrários, encarnar ideias em disputa, canalizar o entrechoque de versões,
sublimar antagonismos.
Veículos brasileiros, ao contrário, quase todos em dificuldades
financeiras e assediados pelos novos hábitos do público, uniram esforços na
defesa de uma ideia única. Compactaram-se em exageros, catastrofismo e
idiossincrasias. Agruparam-se de um lado só da balança, fortes para nocautear
um governo, mas fracos para manter sua própria razão de existir, a autonomia.
Poderia ser diferente.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/05/1772331-apocalipse-do-jornalismo.shtml
Mário Vítor Santos – Jornalista ex-Ombudsman da Folha de São Paulo – 18.05.2016.
IN Folha de São Paulo.