Um estudo da
Universidade de Brasília (UnB) publicado no segundo semestre de 2015 analisou
os 983 deputados federais eleitos entre 2002 e 2010 para concluir que, no
período, houve um crescimento de 10,7 pontos percentuais no número de deputados
herdeiros de famílias de políticos, atingindo 46,6% em 2010 – número próximo
aos 44% encontrados pela Transparência Brasil no mesmo ano. Logo após a última
disputa eleitoral, a ONG divulgou outro levantamento
que concluiu que 49% dos deputados federais eleitos em 2014 tinham pais, avôs,
mães, primos, irmãos ou cônjuges com atuação política – o maior índice das quatro
últimas eleições.
Étore Medeiros
Conhecida
por debates acalorados quando se trata de discussões sobre a “família
tradicional”, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da
Câmara foi cenário de um debate inusitado sobre outros tipos de famílias – as
de políticos – no fim de outubro, durante a votação do Projeto de Lei nº 6.217,
de 2013. Proposta pelo deputado Esperidião Amin (PP-SC), a iniciativa pretende
chamar a BR-101 em Santa Catarina de Rodovia Doutora Zilda Arns, excluindo
naquele trecho a homenagem ao ex-governador Mário Covas. O nome do paulista
batiza todos os quase 5 mil quilômetros da estrada desde setembro de 2001, seis
meses após o falecimento do político.
O clima
ficou tenso na CCJ. Ninguém diminuía a importância de Zilda Arns, brasileira
indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 1999, mas muitos se mostravam incomodados
com a retirada do nome de um político de uma obra. Durante as discussões, houve
exemplos – críticos ou elogiosos – de pontes no Piauí e em Santa Catarina com
dois nomes: cada sentido da via para um cacique local. “Há certamente novas
rodovias, novas obras que serão construídas em Santa Catarina e a que, de forma
consensual, o nome da Zilda Arns poderia ser definido. Se começarmos a abrir
aqui um precedente de ratear uma rodovia, uma estrada, para homenagear vários
nomes, vai se criar, além de uma atitude desagradável, até um conflito para
quem vai pegar o endereço”, protestou o deputado Mainha (SD-PI).
José de
Andrade Maia Filho, o Mainha, é filho de José de Andrade Maia, que foi prefeito
de municípios do Piauí e suplente de senador. Em Itainópolis, a herança paterna
na prefeitura garantiu a Mainha o início da carreira política, em 1996, quando
também se elegeu prefeito do município, aos 22 anos. Mas, justiça seja feita,
ele não foi o único membro da CCJ a protestar, o que levou ao adiamento da
apreciação do projeto. Deputado mais votado na Paraíba em 2014, aos 25 anos,
Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), filho do ex-governador e hoje senador Cássio Cunha
Lima (PSDB-PB), foi um dos que também se posicionaram contra a medida.
(...)
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Étores Medeiros – 06.02.2016.
IN
Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo.