Nessa
triste imaginação aqui proposta, o importante não é discutir se a maioria do PT
participará ou não da eleição indireta. O fundamental está na própria
existência dessa dúvida. Não que nos anos 1980 a posição do PT de não ajudar na
eleição de Tancredo Neves tenha sido um consenso absoluto. É sabido que três
dos oito parlamentares petistas votaram no Colégio Eleitoral, e pouca gente se
lembra que o partido fez um plebiscito junto às bases para decidir se
participava ou não daquele processo, com vitória de mais de 80% pelo boicote ao
pacto das elites. A situação atual, contudo, é totalmente diferente. Nenhum
petista tem certeza de que o PT recusaria esse tipo de conciliação. Pelo
contrário, a maioria do PT vem dando seguidos sinais de que pretende reverter a
sua expulsão do sistema político pactuando com quem o expulsou. Os exemplos são
muitos e graves.
(...)
O que
temos é uma ruptura (cada vez mais profunda) entre o Partido dos Trabalhadores
e as produções democráticas oriundas das lutas sociais.
Josué Medeiros
Imaginemos o futuro. Alvejado por denúncias e
fragilizado por uma persistente crise econômica e social, Temer cai. Cenário
cada vez mais plausível, embora não saibamos ainda o quão provável seja, pois o
golpista mantém absoluto controle do parlamento e sua agenda neoliberal garante
o apoio da burguesia e dos mercados. Por consequência, parlamentares devem se
reunir para escolher o próximo presidente, reforçando a crise democrática em
nosso país. Na mídia, os “especialistas” falam em “unidade nacional”, em “pacificar
o país”, em última chance para superar a “herança nefasta do PT”.
O nome de “consenso” é o de Nelson Jobim, personagem que condensa predicados úteis às várias facções da coalizão golpista: foi ministro do STF, conhece bem o Partido da Justiça; jamais foi acusado de corrupção, o que é bom para a classe média; foi ministro da defesa e tem excelente trânsito com os militares; foi ministro de diferentes governos, e circula bem no sistema político; foi constituinte, um dos chefe do “centrão”, articulação fundamental para limitar nossa democracia; defende reformas constitucionais (menos impostos e gastos sociais) que agradam o empresariado. A vitória de Jobim como salvador da pátria é garantida. Quase toda a elite o apoia. Há apenas uma fração mais radicalizada da direita que lançou uma candidatura extremista.
Nesse cenário fictício, a maioria dos dirigentes e parlamentares do PT defende que o partido ajude na pactuação nacional. Algumas de suas lideranças participam, inclusive, das articulações que ungiram o nome de Jobim como panaceia, sem sequer exigir como contrapartida o fim das reformas neoliberais. E fizeram isso contra a opinião da maioria da sua base social, que ocupa as ruas e as redes sociais defendendo o boicote às eleições indiretas, exatamente como o partido fizera em 1985.
O nome de “consenso” é o de Nelson Jobim, personagem que condensa predicados úteis às várias facções da coalizão golpista: foi ministro do STF, conhece bem o Partido da Justiça; jamais foi acusado de corrupção, o que é bom para a classe média; foi ministro da defesa e tem excelente trânsito com os militares; foi ministro de diferentes governos, e circula bem no sistema político; foi constituinte, um dos chefe do “centrão”, articulação fundamental para limitar nossa democracia; defende reformas constitucionais (menos impostos e gastos sociais) que agradam o empresariado. A vitória de Jobim como salvador da pátria é garantida. Quase toda a elite o apoia. Há apenas uma fração mais radicalizada da direita que lançou uma candidatura extremista.
Nesse cenário fictício, a maioria dos dirigentes e parlamentares do PT defende que o partido ajude na pactuação nacional. Algumas de suas lideranças participam, inclusive, das articulações que ungiram o nome de Jobim como panaceia, sem sequer exigir como contrapartida o fim das reformas neoliberais. E fizeram isso contra a opinião da maioria da sua base social, que ocupa as ruas e as redes sociais defendendo o boicote às eleições indiretas, exatamente como o partido fizera em 1985.
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Josué Medeiros – Cientista Político e
Historiador – 12.01.2017.
IN Carta Maior.