segunda-feira, 6 de março de 2017

A (triste) profecia do PT: do Colégio Eleitoral de 1985 às eleições indiretas de 2017


Nessa triste imaginação aqui proposta, o importante não é discutir se a maioria do PT participará ou não da eleição indireta. O fundamental está na própria existência dessa dúvida. Não que nos anos 1980 a posição do PT de não ajudar na eleição de Tancredo Neves tenha sido um consenso absoluto. É sabido que três dos oito parlamentares petistas votaram no Colégio Eleitoral, e pouca gente se lembra que o partido fez um plebiscito junto às bases para decidir se participava ou não daquele processo, com vitória de mais de 80% pelo boicote ao pacto das elites. A situação atual, contudo, é totalmente diferente. Nenhum petista tem certeza de que o PT recusaria esse tipo de conciliação. Pelo contrário, a maioria do PT vem dando seguidos sinais de que pretende reverter a sua expulsão do sistema político pactuando com quem o expulsou. Os exemplos são muitos e graves. 
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O que temos é uma ruptura (cada vez mais profunda) entre o Partido dos Trabalhadores e as produções democráticas oriundas das lutas sociais.

Josué Medeiros
Imaginemos o futuro. Alvejado por denúncias e fragilizado por uma persistente crise econômica e social, Temer cai. Cenário cada vez mais plausível, embora não saibamos ainda o quão provável seja, pois o golpista mantém absoluto controle do parlamento e sua agenda neoliberal garante o apoio da burguesia e dos mercados. Por consequência, parlamentares devem se reunir para escolher o próximo presidente, reforçando a crise democrática em nosso país. Na mídia, os “especialistas” falam em “unidade nacional”, em “pacificar o país”, em última chance para superar a “herança nefasta do PT”. 
 
O nome de “consenso” é o de Nelson Jobim, personagem que condensa predicados úteis às várias facções da coalizão golpista: foi ministro do STF, conhece bem o Partido da Justiça; jamais foi acusado de corrupção, o que é bom para a classe média; foi ministro da defesa e tem excelente trânsito com os militares; foi ministro de diferentes governos, e circula bem no sistema político; foi constituinte, um dos chefe do “centrão”, articulação fundamental para limitar nossa democracia; defende reformas constitucionais (menos impostos e gastos sociais) que agradam o empresariado. A vitória de Jobim como salvador da pátria é garantida. Quase toda a elite o apoia. Há apenas uma fração mais radicalizada da direita que lançou uma candidatura extremista. 
 
Nesse cenário fictício, a maioria dos dirigentes e parlamentares do PT defende que o partido ajude na pactuação nacional. Algumas de suas lideranças participam, inclusive, das articulações que ungiram o nome de Jobim como panaceia, sem sequer exigir como contrapartida o fim das reformas neoliberais. E fizeram isso contra a opinião da maioria da sua base social, que ocupa as ruas e as redes sociais defendendo o boicote às eleições indiretas, exatamente como o partido fizera em 1985. 
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Josué Medeiros – Cientista Político e Historiador – 12.01.2017.
IN Carta Maior.