Instituições, porém,
não são imunes a ataques dos que visam corrompê-las. Por essa razão, não existe
democracia consolidada. A história política da democracia americana, a mais
longeva do mundo, é prova disso. (...)O processo democrático é a melhor forma
de resolver pacificamente conflitos de interesse. As diferentes instituições
das democracias existentes buscam incentivar comportamentos desejáveis. Mas não
são onipotentes. A sobrevivência da democracia requer negociação, paciência e
muita tolerância. Eleger o presidencialismo de coalizão como vilão do momento que vivemos é tirar o foco de onde deveríamos mantê-lo.
Argelina Cheibub Figueiredo
Recentemente nossa
democracia sofreu um revés. E, como sempre, as instituições políticas são
responsabilizadas. O principal alvo de crítica desta vez é o presidencialismo
de coalizão. De acordo com uma lógica tortuosa, estabelece-se uma relação entre
a existência de corrupção e governos que constroem maioria por meio da
distribuição de cargos aos partidos. Governos de coalizão em qualquer lugar no
mundo são assim formados. Controlar postos governamentais é uma das maneiras
pela qual os partidos podem ter influência nas políticas públicas. Alguns
governos de coalizão são corruptos, outros não. Dentre os partidos de um mesmo
governo, uns são corruptos, outros não. Da mesma forma, alguns governos
unipartidários são corruptos, outros não.
Coalizões se formam com o fim de garantir votos no Congresso dos partidos
que dela participam. Não é isso, porém, que gera governos corruptos. Maiorias
são construídas para que políticas que emergiram do processo eleitoral sejam
aprovadas. Nomeações visando objetivos espúrios, como a blindagem de ministros
de conduta duvidosa, não são inerentes a governos de coalizão, seja no presidencialismo ou no
parlamentarismo. Bipartidarismo e governos unipartidários não resolvem
problemas de corrupção. Podem até agravá-los. As causas da corrupção devem ser
buscadas em outros lugares. Mais uma vez pretende-se jogar a criança fora junto
com a água do banho.
(...)
Argelina Cheibub Figueiredo – Cientista Política,
Professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – 17.02.2017.
IN
Valor Econômico.