A educação da forma como recomendo
ensina habilidades de debate respeitoso que fazem encontros com pessoas de
diferentes culturas serem ricos; e também inclui muita aprendizagem sobre
religiões e culturas do mundo, desfazendo estereótipos simplistas. Além disso,
alimenta a capacidade de se imaginar na posição de outra pessoa. Muito do que
se vê hoje é obtusidade dirigida pelo medo e total falta de conhecimento. (...)
Eu não sou contra o ensino de
habilidade para o lucro. O primeiro ponto a ser feito é que os líderes de
negócios em todo o mundo acreditem que uma cultura empresarial saudável precisa
cultivar o pensamento crítico e a imaginação. A inovação é fundamental na
economia moderna e nós não temos como obtê-la com o ensino de competências já
conhecidos: é preciso incentivar o pensamento arrojado e imaginativo. Outro
ponto a ser implementado é que nós não precisamos escolher entre a educação
liberal e o foco na técnica. Se seguirmos o sistema que é tradicional na
Escócia, EUA e Coreia do Sul, os estudantes escolhem um grande tema e também
devem completar uma série de requisitos de educação geral. A lógica por trás
disso é que a educação prepara os alunos não apenas para o lucro econômico, mas
também para a cidadania e a vida.
Grazieli Gotardo
Um manifesto contra a redução das disciplinas humanas da educação, que
vêm sendo gradativamente retiradas dos currículos escolares e universitários em
detrimento de conteúdos que preparam os alunos apenas para serem economicamente
bem-sucedidos. Esse é o alerta do livro Sem fins lucrativos – Por que a
democracia precisa das humanidades (Martins Fontes, 2015; 176 p.), de Martha
C. Nussbaum, professora emérita de direito e ética da Universidade de
Chicago, nos Estados Unidos. O livro defende que é necessário resistir às
tentativas de redução do ensino a mera ferramenta do Produto Interno Bruto e
que o papel do ensino é proporcionar aos estudantes a capacidade de exercício
da cidadania. Nesta entrevista por e-mail, a professora fala um
pouco sobre a importância do processo educacional para o pleno exercício da
democracia.
Extra Classe – Quando começou o processo de redução das
disciplinas de humanas e artes e a priorização do crescimento econômico na
educação?
Martha C. Nussbaum – O ataque às humanidades e a preferência por disciplinas mais úteis
ao lucro é muito antiga. John Stuart Mill, por exemplo, Reitor da Universidade
de St. Andrew, em 1867, descreveu o ensino superior na Grã-Bretanha como um
modelo baseado no lucro e argumentou que o sistema tradicional escocês,
estruturado nas artes e humanidades, era muito superior. E, claro, mesmo quando
as artes liberais foram favorecidas, era apenas para uma elite privilegiada.
Foi somente depois da Segunda Guerra Mundial, em que uma lei nos EUA passou a
oferecer educação universitária a todos os veteranos, que a ideia de que todos
os cidadãos devem ter uma educação em artes tornou-se popular. Mas o ímpeto de
deixar a educação superior com uma visão mais estreita ganhou impulso mesmo
após a crise econômica de 2008.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.extraclasse.org.br/exclusivoweb/2016/04/crise-das-humanas-enfraquece-a-democracia/
Martha C. Nussbaum – Professora emérita de direito e ética da Universidade de Chicago – Sem
data.
Grazieli Gotardo – Entrevistadora.
IN Extraclasse.