Na agropecuária, o Brasil escolheu o oposto disso:
muito agrotóxico, pouca educação, muita concentração de terra, pouca inovação,
muita devastação ambiental, pouca colaboração, muito juro, pouca
infraestrutura, muita eficiência, pouco futuro. Nosso sistema nacional de
produção de alimentos é decidido nas planilhas de cálculo de corporações como
Friboi, JBS e Ambev, que vão sempre decidir pelo custo menor e receita maior,
independentemente de qualquer efeito colateral na saúde pública. É um modelo
frágil, como vimos na semana passada.
Denis R. Burgierman
Minha maior surpresa com o escândalo da carne, na semana passada, foi a
surpresa de tanta gente. Sério mesmo que o pessoal não esperava que a indústria
mascarasse o cheiro e o gosto da carne vencida, para economizar na
matéria-prima e não perder receita das vendas? Cara, desculpa se sou eu a lhe
abrir isso, mas é assim mesmo que as coisas têm funcionado. Especialmente
no Brasil.
O país é uma megapotência agropecuária. Somos os maiores
exportadores do mundo de frango, soja, suco de laranja, açúcar, café, suco de
frutas, estamos no rumo para nos tornarmos na próxima década os maiores
produtores do mundo de todo o setor. Orgulho. Vai, Brasil.
Mas é engraçado que
esse meu orgulho pátrio nem sempre encontra eco nas reações dos amigos que faço
pelo mundo. Este mês entrevistei uma sul-africana aqui em São Paulo – almoçamos
juntos. Ela ficou aliviada quando viu que o cardápio do evento era massa.
“Comemos muito frango brasileiro na África do Sul. Tenho que confessar que eu
odeio.” Tenho uma amiga colombiana que sempre que me encontrava fazia questão
de me relembrar que o café brasileiro de má qualidade e preço baixo que inundou
o mercado internacional quebrou um monte de fazendeiros que faziam cafés
incríveis nas montanhas da região onde ela nasceu, nos Andes.
Engraçado também
que uma potência agropecuária, responsável por uma porcentagem considerável de
toda a produção mundial de alimentos, abençoada com uma quantidade surreal de
recursos naturais, coma tão mal. Em nenhum outro lugar do planeta usa-se tantos
agrotóxicos quanto aqui, com consequências imprevisíveis, a longuíssimo prazo.
(...)
Para continuar
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Denis R. Burgierman – Jornalista – 23.03.2017.
IN Nexo Jornal.