Eduardo Sá – “O grande desafio de um insucesso – nas crianças como em nós –
passa por sabermos se as pessoas que são mais importantes na nossa vida são
capazes de conviverem com a nossa tristeza. Na verdade, elas estão sempre lá,
ao nosso dispor, mas nem sempre aceitam e acolhem a nossa tristeza. Muitos pais
afligem-se com a tristeza dos filhos como se lhes dissessem: se você está
triste, você me põe triste… E, quando é assim, uma criança dói-se por estar
triste e assusta-se ao sentir que a sua tristeza será estranha ou mais ou menos
misteriosa para os seus pais. Isto é: a tristeza é inevitável quando vivemos um
fracasso, mas quando as pessoas que nos amam se assustam com a nossa dor,
perdura a tristeza que nos assalta e é acrescida pelo desamparo que a falta de
acolhimento que ela desencadeou terá merecido. Ora, é muito importante que os
pais sintam os filhos. Mas, mais precioso ainda, é que eles percebam que a
tristeza ajuda a esclarecer se as pessoas que nos amam nos sabem amar. Sendo
assim, a tristeza é o melhor antidepressivo do mundo! Porque quanto podemos
estar tristes e mais sentimos que as nossas dores nos dão mais e melhores pais,
mais nos tornamos audazes e guerreiros. Tenho medo, portanto, que os pais
tenham construído um ideal de um crescimento antidepressivo para os seus filhos
e seja isso que mais os deprimem. Ao contrário daquilo que, seguramente, eles
desejam. Ao contrário dos perigos que eles vêem ou imaginam à volta da vida das
crianças . E ao contrário daquilo que a sua bondade deixaria supor. Sendo
assim, pais bondosos não exageram na prevenção da dor. Deixam que o improviso
da própria vida faça o seu trabalho porque eles sabem que, no caso de um filho
se magoar, eles são quem mais os tornam corajosos, mais audaciosos e mais
tenazes. Já, ao contrário, crianças que fogem da dor são crianças que se tornam
de “porcelana”: frágeis e fóbicas, portanto. Porque a melhor forma de ficar
preso a uma dor é fugir dela“.
Rita Lisauskas
Meu filho tem 4 anos. E nas “rodinhas” de conversa na porta da escola,
não se pergunta outra coisa: “Pra qual escola ele vai?” No começo eu não
entendia a questão. Eu e meu marido já escolhemos a escola do Samuel –
estávamos na porta dela, inclusive – e não passava pela nossa cabeça mudá-lo de
instituição. Há jabuticabeiras, animais, aula de música, parques. E ele é muito
feliz lá, como já nos disse dezenas de vezes. A escolha não foi por impulso.
Antes de efetivar a matrícula conversamos com a diretora sobre alimentação,
método de ensino, conflitos e inclusão (ver com meus próprios olhos crianças
especiais por lá foi decisivo porque eu sempre quis que meu filho fosse acima
de tudo uma pessoa tolerante). E por estar assim tão segura das minhas/nossas
escolhas, decidi entender porque essas mães e esses pais estavam tão inquietos.
Uma delas falou sobre a preocupação com o vestibular e, como nesta
escola não há ensino médio, não conseguiam saber se a escola era “forte” ou
“fraca”. Outros se preocupam com as habilidades futuras das crianças em línguas
estrangeiras. Um pai me lembrou que “inglês todo mundo já fala” e contou que
foi visitar uma escola que ensina alemão para os pequenos. Muitos
questionam o sistema de ensino, construtivista. “É bom apenas quando eles são
menores, depois eles ficam indomáveis, sem regras”, ouvi de uma mãe.
Foi por isso que decidi entrevistar o psicólogo e psicanalista Eduardo
Sá, professor da Universidade de Coimbra, Portugal. Fazendo minha ronda diária
em portais jornalísticos do mundo, vi que ele estava lançando o livro: “Hoje
não vou à escola – Por que os bons alunos não tiram sempre boas notas?”, que já
está em negociação para ser publicado também no Brasil. Sá lança a pergunta no
texto de divulgação: “Por que é que a escola dá tanto às crianças, mas não
necessariamente o que mais precisam?”. Ele defende com unhas e dentes uma
escola que dê importância à educação musical e à educação física na mesma
medida em que valoriza o ensino da matemática e do português. É contra a lição
de casa, a favor do brincar e de passar mais tempo com a família. Eduardo Sá
afirma que saber acolher o fracasso dos nossos filhos é de vital importância e
decreta: “Escola demais faz mal às crianças”.
(...)
Para continuar a leitura –
e ler toda a entrevista -, acesse http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/ser-mae/escola-demais-faz-mal-as-criancas-garante-psicologo-portugues/
Rita Lisauskas – 07.10.2014
Eduardo Sá - Psicólogo e psicanalista, professor da Universidade de Coimbra.
IN Blog Ser mãe é padecer na internet.