a juventude organizada
pelo Levante sai às ruas para denunciar a impunidade de torturadores e
criminosos da ditadura com o objetivo de sensibilizar a sociedade e garantir
que a Comissão (da Verdade) tenha liberdade para fazer o seu trabalho e alcance
seus objetivos.
Nesta segunda-feira (14.05.2012), o Levante Popular da
Juventude promoveu mais uma série de esculachos contra torturadores e agentes
da repressão da ditadura militar por diversos estados do Brasil. Os atos se
basearam na denuncia de ex-agentes que participaram direta ou indiretamente de
ações de tortura na época e em frente a prédios que serviam para tais fins,
como o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e o Destacamento de
Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi/Codi).
Foram realizadas 12 mobilizações organizadas nacionalmente em 11
estados: PE, PA, BA, CE, SE, PB, RN, SP, MG, RJ, RS. Oito agentes foram
denunciados publicamente por meio dos esculachos, ao apontarem suas
participações nos processos de tortura durante a ditadura.
Os manifestantes apoiam a instalação da Comissão da Verdade, cobram a
localização e identificação dos restos mortais de desaparecidos políticos e
exigem que os torturadores sejam julgados e punidos.
Além disso, os jovens condenam a movimentação dos setores conservadores
dentro e fora das Forças Armadas, que não aceitam a democracia e não admitem a
memória, a verdade e a justiça, desrespeitando a autoridade da presidenta Dilma
Rousseff e ministros de Estado, como no manifesto “Alerta à nação”.
Desta forma, a juventude organizada pelo Levante sai às ruas para
denunciar a impunidade de torturadores e criminosos da ditadura com o objetivo
de sensibilizar a sociedade e garantir que a Comissão tenha liberdade para
fazer o seu trabalho e alcance seus objetivos.
Ações
Em São Paulo, cerca de 100 jovens fizeram o esculacho do homem que
torturou a presidenta Dilma Rousseff, o tenente-coronel reformado Maurício
Lopes Lima, reconhecido pela presidenta como torturador da Operação
Bandeirante, no município do Guarujá, no litoral de São Paulo.
O estado de Minas Gerais protagonizou outras duas ações. Em Belo
Horizonte, o alvo de mais 100 pessoas foi a casa de João Bosco Nacif da Silva,
médico-legista da Policia Civil da ditadura militar, denunciado pela
participação num crime de assassinato e tortura na capital, em 1969. João Bosco
foi responsável por autos de corpo delito na época, como no caso de João Lucas
Alves, ao atestar um laudo médico dizendo que o jovem havia se suicidado, de
acordo com o livro Tortura Nunca Mais.
No interior do estado, no município de Teófilo Otoni, outros 40 jovens
fizeram um ato público nas ruas do centro da cidade. O ponto de partida da
marcha foi a antiga cadeia da cidade e o Tiro de Guerra do Exército, e
finalizaram na Praça Tiradentes. A atividade teve como objetivo resgatar a
memória de Nelson José de Almeida, militante da organização política Comando de
Libertação Nacional (COLINA), morto aos 21 anos no município. Além de denunciar
o responsável por sua prisão, tortura e morte: o antigo 1º tenente da Polícia
Militar Murilo Augusto de Assis Toledo, que foi agente do Dops de Minas.
Já na Bahia, por volta de 150 jovens de Feira de Santana, Cruz das Almas
e Salvador foram às ruas da capital para fazer um esculacho contra o torturador
Dalmar Caribé, cabo do Exército na ditadura, e responsável pelos assassinatos
dos lutadores populares Carlos Lamarca e Zequinha Barreto. Os jovens seguiram
em direção à Associação Cultural e Esportiva Braskem (ACEB), localizada no
bairro do Costa Azul, local onde funciona a Associação de Karatê da Bahia
(ASKABA), entidade fundada em 23 de novembro de 1967, pela família Caribé
(Denilson Caribé de Castro e Dalmar Caribé de Castro).
No Rio de Janeiro, 50 jovens fizeram um protesto em frente a casa do
torturador José Antônio Nogueira Belham, no Flamengo, Zona Sul. Belhan,
envolvido nas torturas como colaborador e informante, foi o chefe do DOI-CODI
do Rio. Dentre as inúmeras torturas e assassinatos cometidos em sua repartição
está a do engenheiro civil e militante pelo Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) Rubens Paiva, como citado no livro A Ditadura Escancarada, de Elio
Gaspari.
Em Sergipe, o esculachado foi o médico apoiador da ditadura Dr. José
Carlos Pinheiro, diretor do Hospital e Maternidade Santa Isabel, o mesmo alvo
da última ação. Ele é acusado de acompanhar presos políticos submetidos à
tortura no 28° Batalhão de Caçadores. Os cerca de 50 jovens denunciam que a
função do médico era “diagnosticar” a saúde dos homens e mulheres torturados
para determinar se eles aguentariam ou não mais atos de violência.
Em Pernambuco, o torturador escolhido foi o desembargador aposentado
Aquino de Farias Reis. Aquino foi delegado de plantão no DOPS de Pernambuco,
quando o preso político Odijas Carvalho, estudante de agronomia da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), foi barbaramente torturado aos 26 anos de
idade e morto em consequência das torturas, em 30 de fevereiro de 1971. A
ação aconteceu em frente ao Condomínio Ilha do Retiro, onde fica sua residência.
No Pará, um grupo de aproximadamente 50 pessoas realizou uma ação de
escracho em frente ao prédio do Ministério da Fazenda, na cidade de Belém. O
objetivo foi denunciar que naquele prédio trabalham dois torturadores da
ditadura militar: Magno José Borges e Armando Souza Dias. Os dois ligados ao
DOI-CODI estiveram no episódio da Guerrilha do Araguaia. Além dos cargos
públicos, uma denúncia publicada pelo jornalista Mario Augusto Jakobskind diz
que ambos também trabalham na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Na capital do Rio Grande do Norte os jovens resgataram a memória
mostrando os rostos e contando a história de quem morreu por defender a
liberdade e justiça, ao homenagearem pessoas torturadas e mortas pelo regime,
como Edson Neves, Emanuel Bezerra, Anátalia Alves e José Silton Pinheiro. O
ato, com um caráter de agitação, aconteceu na Praça Cívica de Natal,
em frente ao Palácio dos Esportes.
No Ceará, o foco da ação foi a antiga sede da Polícia Federal, que
funcionou como um centro de tortura onde vários militantes de movimentos
sociais e partidos políticos foram presos e torturados durante a ditadura, e
que hoje em dia abriga a Secretaria de Cultura de Fortaleza
(Secultfor). Participaram da ação na capital cearense cerca de 80 pessoas, juntamente
com outras entidades e ex-presos políticos, os jovens se mobilizam pela
Comissão Nacional da Verdade, em Fortaleza (CE).
Já na Paraíba, o Levante promoveu uma manifestação na Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) e na Escola Estadual Presidente Médici, em João
Pessoa, com o intuito de dialogar com os estudantes e resgatar à memória o
período opressor da Ditadura Militar.
Em Santa Maria (RS), houve uma série de colagem de cartazes pela cidade
para denunciar os tempos da ditadura civil-militar brasileira. A atividade
procurou problematizar junto à população a necessidade de instauração da
Comissão da Verdade, que vai apurar os crimes cometidos durante o
período.
Levante Popular da Juventude
– 14.05.2012