Quase todas as pessoas com quem eu falo
dizem amar os livros, mas que simplesmente não encontram mais tempo para
lê-los. Bem, eles CERTAMENTE têm tempo, só que não conseguem gastá-lo de forma
diferente.
Isto tem consequências desastrosas para nossa
inteligência coletiva. Estamos sitiados pela indústria de entretenimento, a
qual nos estimula apenas em determinadas direções. A sedução é sonora, visual e
tátil. A concentração na palavra impressa, na profundidade de um argumento ou
de uma narrativa ficcional, exige uma postura que os dependentes dos
meios visuais não têm condições de atender. Seus cérebros não se fixam na
leitura ou, se leem, fazem-no rapidamente para voltar logo ao plin-plin. Ora,
isso é um roubo de um espaço de pensamento que deveria ser recuperado.
Alan Bisset
Um súbito interesse renovado
por Tolstói, causado pelo filme sobre seus últimos dias, A Última
Estação, fez-me lembrar que há um ano atrás eu tinha prometido a mim mesmo
reler Guerra e Paz. Fazia algum tempo que eu não enfrentava um
romance de grandes proporções ou, para ser mais exato, qualquer coisa publicada
antes do século XX. A releitura de Guerra e Paz iria me
tranquilizar: minha resistência física e disponibilidade estavam intactas. Fui
até a estante e descobri a página em que deixei o marcador – ele estava
na página 55 e eu sequer podia utilizar a desculpa de ter crianças pequenas.
O fato em si não teria me
assustado — afinal, é Guerra e Paz — se não fosse a existência
de outros marcadores abandonados em outros livros. Eu não estava terminando
nenhum deles? Como é que eu, que adorava ficção o suficiente para estudá-la,
ensiná-la e escrever a respeito, me tornara tão distraído?
O mundo dos meus tempos de
estudante era fundamentalmente diferente do atual.
(...)
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http://miltonribeiro.sul21.com.br/2014/06/06/quem-roubou-nosso-tempo-de-leitura/
Alan Bisset (no The Guardian, Traduzido por Milton
Ribeiro) – 10.08.2013
IN Sul21.