sábado, 6 de dezembro de 2014

Questão humanitária


O enfrentamento da apatridia é um dos principais temas da conferência Cartagena+30. Espera-se que os países da região se comprometam, durante o encontro, a aderir às convenções internacionais sobre apatridia, criar leis nacionais e lançar medidas efetivas para erradicar a apatridia na América Latina durante a próxima década. 

Mônica Gugliano
Todos os dias, guerras, conflitos e perseguições expulsam milhares de pessoas de suas casas no mundo inteiro. Sem nada além da roupa que vestem, largam tudo ou o pouco que tinham. São vítimas das guerras, da discriminação, de perseguições. Fogem dos lugares onde nasceram sem saber como, e se, em algum momento ou em algum lugar conseguirão ter um lar. Se terão uma pátria que lhes dará nacionalidade, um pedaço de terra para viver e criar seus filhos. Hoje, mais de 50 milhões de pessoas forçadas a deslocar-se vivem nessas condições no planeta. Segundo o relatório "Tendências Globais 2013", do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), no fim do ano passado, o número de deslocados, para fora ou dentro de seus países, chegou a 51,2 milhões, entre os quais, 16,7 milhões de refugiados. Esse total representa um aumento de 6 milhões de pessoas deslocadas em relação aos 45,2 milhões de 2012, que incluíam 15,4 milhões de refugiados. Pela primeira vez, se atinge uma cifra superior à dos deslocados na Segunda Guerra Mundial. Guerras e insurreições nos países africanos estimulam fugas em massa de cidadãos e incrementam as estatísticas. Algumas situações que pareciam apaziguadas recomeçaram ainda mais violentas. Tréguas frágeis são rompidas, a exemplo do que ocorre no Iraque, no Afeganistão. E verdadeiros massacres, que ocorrem na Síria, horrorizam a humanidade. "Vivemos uma situação terrível", define o representante do Acnur no Brasil, Andrés Ramirez.
A terrível situação, embora não tão grave na América Latina quanto no Oriente Médio ou em algumas regiões da África, preocupa e requer a adoção de medidas pelas autoridades da região. Serão essas medidas os temas principais da reunião ministerial Cartagena +30, que acontecerá em Brasília nos dias 2 e 3 de dezembro: os principais desafios e os novos problemas na proteção a refugiados, deslocados internos e apátridas. A escolha da sede para a reunião se deve ao papel pioneiro e de liderança na proteção internacional dos refugiados que o Brasil exerce. Foi o primeiro país do Cone Sul a ratificar a convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, em 1960, e o protocolo de 1967. Desde 1997, a lei 9.474/97 concede aos refugiados direitos e deveres específicos, diferenciados dos direitos conferidos e exigidos dos estrangeiros, e trata da questão da entrada, do pedido de refúgio, das proibições ao rechaço, à deportação e à expulsão e ainda regula a questão da extradição dos refugiados. Essas pessoas podem ter documentos, trabalhar, estudar e têm os mesmos direitos que qualquer outro cidadão brasileiro. O Acnur considera essa legislação uma das melhores do mundo.
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Mônica Gugliano – 22.11.2014
IN Valor Econômico, versão impressa.