domingo, 31 de janeiro de 2016

A esquerda e o aparelho econômico-produtivo latino-americano: uma reflexão para sair do labirinto


Todos os processos de transformação progressista do capitalismo tiveram e têm que transformar o aparelho econômico-produtivo e tecnológico herdado. Processos como os nossos, em que essa transformação de longo alcance tem que ocorrer no marco de um capitalismo periférico conturbado por recursivas crises de governabilidade, demandam ações nas frentes externa e interna.

Renato Dagnino
Todos os processos de transformação progressista do capitalismo, e aí me refiro temerariamente a um espectro que vai da revolução russa aos dos governos pós-neoliberalismo latino-americanos, tiveram e têm que transformar o aparelho econômico-produtivo e tecnológico herdado.
Processos como os nossos, em que essa transformação de longo alcance tem que ocorrer no marco de um capitalismo periférico conturbado por recursivas crises de governabilidade, demandam ações nas frentes externa e interna. Duas propostas que convivem no seio da esquerda as avaliam de forma distinta. Vou argumentar que só uma delas nos permitirá sair por cima do labirinto – político, mas com causação econômica – em que a direita recorrentemente nos tenta embretar.
Na frente externa, excetuando as alianças provocadas pelo crescente apetite estadunidense, nossos adversários não mudaram muito. Por isso, as ações não têm como diferir substantivamente da proposta nacional-desenvolvimentista pactuada por nossas elites. Trata-se de adicionar valor às commodities, buscar arranjos de integração regional que diminuam nossa dependência dos centros de poder mundial, proteger o mercado para garantir a lucratividade das empresas locais (nacionais e estrangeiras), ganhar a confiança do “mercado global” para atrair investimento estrangeiro direto, etc.
Pelo menos duas dificuldades se somam às que essa proposta enfrentou. A primeira é a mundialização e financeirização do sistema capitalista – unipolar “neoliberalizado” –, associadas às rupturas tecnocientíficas que quem o domina provoca, explora e aproveita. Ela tem sido exaustivamente analisada pela esquerda (e, é claro, pela direita) para propor ações, inclusive no âmbito econômico-produtivo interno, para superá-las.
(...)






Renato Dagnino - Professor titular da Unicamp nas áreas de Política Científica e Tecnológica e Gestão Pública – 27.09.2015.
IN Revista Forum.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Não há calouros pretos em 6 dos 10 cursos mais concorridos da Fuvest



AS DEZ CARREIRAS MAIS PROCURADAS NA ÚLTIMA EDIÇÃO DA FUVEST FORAM MEDICINA (SÃO PAULO), MEDICINA (RIBEIRÃO PRETO), PSICOLOGIA, ENGENHARIA CIVIL (SÃO CARLOS), ARTES CÊNICAS (BACHARELADO), AUDIOVISUAL, JORNALISMO, PUBLICIDADE E PROPAGANDA, RELAÇÕES INTERNACIONAIS E ARQUITETURA (SÃO CARLOS). DESSAS, SÓ HÁ CALOUROS PRETOS EM 2015 NOS CURSOS DE MEDICINA (SÃO PAULO), ENGENHARIA CIVIL (SÃO CARLOS), JORNALISMO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS.

Cristiane Capuchinho, Ana Carolina Moreno e Gabriela Gonçalves  
Em seis das dez carreiras mais concorridas da Fuvest 2015, nenhum candidato preto foi aprovado no vestibular e se tornou calouro da Universidade de São Paulo (USP) neste ano. O termo preto é uma das cinco opções de resposta para a pergunta "Qual é a sua cor ou raça?" feita para o calouro no momento da inscrição. Há ainda as opções branca, parda, indígena e amarela.
Levantamento feito pelo G1 com dados divulgados nesta quarta-feira (3) pela Fuvest comparou o perfil dos calouros nos cursos mais concorridos.
 (...)






Cristiane Capuchinho, Ana Carolina Moreno e Gabriela Gonçalves  – 03.06.2015.

IN Portal G1.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Elites controlam o sistema judicial, mostra pesquisa da USP


No estudo, verificou-se que as três elites políticas [do sistema jurídico nacional] identificadas [intelectuais, profissionais e institucionais] têm em comum a origem social, as universidades e as trajetórias profissionais. (...) O cientista político também aponta que apesar de a carreira de um jurista ser definida com base no mérito, ou seja, via concursos, há um série de elementos que influenciam os resultados desta forma de avaliação. (...)
“No caso dos Tribunais Superiores, não há concursos. É exigido como requisito de seleção ‘notório saber jurídico’, o que, em outras palavras, significa ter cursado as mesmas faculdades tradicionais que as atuais elites políticas do Judiciário cursaram”, afirma o pesquisador.
Por fim, outro fator relevante constatado no levantamento é o que Almeida chama de “dinastias jurídicas”. Isto é, famílias presentes por várias gerações no cenário jurídico. 

Cida de Oliveira
São Paulo – Há, no sistema jurídico nacional, uma política entre grupos de juristas influentes para formar alianças e disputar espaço, cargos ou poder dentro da administração do sistema. Esta é a conclusão de um estudo do cientista político Frederico Normanha Ribeiro de Almeida sobre o judiciário brasileiro. O trabalho é considerado inovador porque constata um jogo político “difícil de entender em uma área em que as pessoas não são eleitas e, sim, sobem na carreira, a princípio, por mérito”.
Para sua tese de doutorado A nobreza togada: as elites jurídicas e a política da Justiça no Brasil, orientada pela professora Maria Tereza Aina Sadek, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Almeida fez entrevistas, analisou currículos e biografias e fez uma análise documental da Reforma do Judiciário, avaliando as elites institucionais, profissionais e intelectuais.
Segundo ele, as elites institucionais são compostas por juristas que ocupam cargos chave das instituições da administração da Justiça estatal, como o Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça, tribunais estaduais, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Já as elites profissionais são caracterizadas por lideranças corporativas dos grupos de profissionais do Direito que atuam na administração da Justiça estatal, como a Associação dos Magistrados Brasileiros, OAB e a Confederação Nacional do Ministério Público.
O último grupo, das elites intelectuais, é formado por especialistas em temas relacionados à administração da Justiça estatal. Este grupo, apesar de não possuir uma posição formal de poder, tem influência nas discussões sobre o setor e em reformas políticas, como no caso dos especialistas em direito público e em direito processual.
(...)





Cida de Oliveira – 08.11.2010
IN Rede Brasil Atual.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Lemingues e austericidas


Quem entendeu Keynes sabe que o governo não deve poupar mais quando o setor privado luta para cortar gastos.

Pedro Paulo Zahluth Bastos
Os lemingues são roedores do Ártico que, induzidos pelo crescimento populacional, fazem migrações em massa nas quais muitos se afogam. Já se imaginou que realizavam suicídio coletivo ao se atirar no mar ou em rios. Hoje, a hipótese mais aceita é que apenas subestimam os riscos da travessia.
Os austericidas são economistas que pregam a austeridade como remédio para atravessar uma recessão. Foram quase extintos na década de 1930 quando, sob sua influência, várias nações quase cometeram suicídio coletivo. Passam por explosão populacional na década de 1970 e, no final de 2014, chegaram ao poder no Brasil com o discurso de que não havia alternativa para recuperar o crescimento e ajustar as contas públicas a não ser cortar gastos.
De nada adiantou o alerta Keynesiano que era melhor trocar a política anticíclica desastrada que fora sugerida pela Fiesp e seus intelectuais, ou seja, mais e mais subsídios, por uma política anticíclica baseada no investimento público e no gasto social, como em 2009. Ou que o clamor austericida nos levaria ao despenhadeiro: a deterioração das contas públicas resultava da desaceleração do PIB e da queda das receitas tributárias, o que seria agravado caso o governo realizasse uma política prócíclica.
(...)




Pedro Paulo Zahluth Bastos – Professor associado (Livre Docente) da Unicamp e ex-presidente da Associação Brasileira de História Econômica – 24.11.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

2015: o ano das mulheres


Com a grande visibilidade das demandas das mulheres na sociedade, cada vez mais se ouve falar em “novo feminismo” ou “quarta onda do feminismo”.

Marieta Cazarré
2015 foi um ano de protagonismo das mulheres. Elas foram para as ruas lutar por seus direitos. Mas foi na internet que suas vozes ecoaram mais forte. Algumas hashtags como #PrimeiroAssédio, #MeuAmigoSecreto e #AgoraÉqueSãoElas viralizaram na rede e contribuíram para um debate que gira em torno de feminismo, preconceito, igualdade de direitos e salários, entre outros.
Com a grande visibilidade das demandas das mulheres na sociedade, cada vez mais se ouve falar em “novo feminismo” ou “quarta onda do feminismo”. Nana Queiroz, diretora executiva da revista virtual AzMina, site de jornalismo que se dedica a tratar de temas feministas, disse que os termos são usados para se referir ao feminismo após o advento da internet.
“O feminismo é a ideia de que homens e mulheres têm direitos e dignidade equânimes. Essa é e sempre foi a essência do movimento e permanece. O que a internet transformou é que popularizou o feminismo e o tornou acessível para qualquer pessoa”, afirmou Nana Queiroz.
Na luta pela igualdade de gêneros, o site AzMina lançou a campanha #homemnapia, sugerindo que, durante uma semana, só os homens façam as tarefas domésticas. A iniciativa surgiu em resposta à divulgação de que a não divisão de tarefas domésticas é um dos maiores entraves à equidade de gênero no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
 (...)





Marieta Cazarré – Repórter da Agência Brasil 31.12.2015
IN Agência Brasil EBC.



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Um mês após tragédia em Mariana, causas e impactos ainda são investigados


Nilo D´Ávila (Greenpeace) – “Saber o tamanho do estrago vai demorar, porque o estrago ainda não parou.”

Mariana Diniz
Um mês após o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana (MG), as causas e os impactos do derramamento de pelo menos 34 milhões de metros cúbicos de lama no meio ambiente, segundo o Ibama, ainda estão sendo levantadas.
“Saber o tamanho do estrago vai demorar, porque o estrago ainda não parou”, avalia Nilo D´ávila, coordenador de campanhas do Greenpeace. “Tem partes do rio que parecem estar asfaltadas. Não se vê água, se vê alguma água empoçando e buscando novos caminhos”, disse o especialista.
A onda de lama, formada após o desastre em 5 de novembro, destruiu vilarejos da cidade histórica de Mariana e só no distrito de Bento Rodrigues deixou mais de 600 desabrigados. De acordo com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, já foram confirmadas 12 mortes, três corpos aguardam identificação e sete pessoas ainda estão desaparecidas na região.
As cerca de 200 famílias que tiveram as casas destruídas pela lama de rejeitos foram acomodadas pela mineradora Samarco, responsável pela tragédia, em hotéis e casas provisórias. Essas pessoas ainda não têm previsão de quando vão receber uma nova residência. Quatro dias após o rompimento da barragem, o Ministério Público enviou documento à Samarco pedindo ações imediatas de garantia dos direitos das vítimas, entre elas o pagamento de um salário mínimo por família atingida, mais um adicional de 20% para cada um dos dependentes e cesta básica.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://m.agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-12/um-mes-apos-tragedia-em-mariana-causas-e-impactos-ainda-sao-investigados



Mariana Diniz - Repórter da Agência Brasil – 05.12.2015
IN Agência Brasil EBC.


A lama da Samarco e o jornalismo que não dá nome aos bois

a maior tragédia socioambiental brasileira do século XXI  já começa a ser soterrada pelos jornais, após uma cobertura protocolar. Da lama à ordem: ignoram-se os conflitos, minimizam-se as contradições e se assimilam os discursos cínicos de executivos e de membros do governo. Com a clássica blindagem dos sócios da empresa.

Alceu Castilho
Por trás da lama da Samarco afirma-se o gosto amargo de um jornalismo subserviente, a serviço do mercado. Dezenas de pessoas estão desaparecidas em Mariana (MG). Entre elas, crianças. O vídeo acima mostra como era o cotidiano de um povoado destruído. Mas a maior tragédia socioambiental brasileira do século XXI  já começa a ser soterrada pelos jornais, após uma cobertura protocolar. Da lama à ordem: ignoram-se os conflitos, minimizam-se as contradições e se assimilam os discursos cínicos de executivos e de membros do governo. Com a clássica blindagem dos sócios da empresa.
Primeiro enumeremos os donos. Já se sabe que 50% da Samarco pertence à Vale, a Vale que tirou o Rio Doce de seu nome e nele despejou lama tóxica. A outra metade pertence à anglo-australiana BHP Billiton, uma fusão da australiana Broken Hill Proprietary Company com a inglesa (radicada na África do Sul) Billiton, atuante nas veias abertas do Chile, Colômbia e Peru (onde tomou uma multa ambiental de US$ 77 mil após contaminação por cobre), no Canadá, Reino Unido e nos Estados Unidos, na Argélia, no Paquistão e em Trinidad & Tobago. Já protagonizou na Papua Nova Guiné uma contaminação fluvial histórica. As maiores mineradoras do mundo.
E a quem pertence à Vale? Esse capítulo costuma ser omitido, quando se fala de impactos sociais e ambientais. A empresa é controlada pela Valepar, com 53,9% do capital votante (1/3 do capital total). Com 5,3% para o governo federal, 5,3% para o BNDESpar, 14,8% para investidores brasileiros, 16,9% na Bovespa e 46,2% de investidores estrangeiros (este percentual cai para 33,9% no caso do capital total). De qualquer forma já temos que a Samarco – com a metade anglo-australiana e com esses investidores estrangeiros da Vale – tem mais da metade de suas ações nas mãos de estrangeiros.
E quem manda na Valepar, que controla a Vale? 1) Fundos de investimentos administrados pela Previ, com 49% das ações; 2) A Bradespar, do Bradesco, com 17,4%; 3) A multinacional Mitsui, um dos maiores conglomerados japoneses, de bancos à petroquímica, com tentáculos na Sony, Yamaha, Toyota, com 15%; 4) O BNDESpar, com 9,5. (Ignoremos os 0,03% da Elétron, do Opportunity e seu onipresente Daniel Dantas. E registremos que, com a Mitsui, aumenta ainda mias a participação de estrangeiros na Samarco.)
(...)




Alceu Castilho – Jornalista– 09.11.2015
In Outras Palavras (Blog do Alceu Castilho).




Bastidores de uma tragédia: Os relações públicas da Samarco dão uma surra no Estado brasileiro, que sucumbe ao poder econômico

Num país soberano, o ritmo é ditado pelo interesse público. É de interesse da população brasileira, por exemplo, inundar o mercado com o petróleo do pré-sal, derrubando os preços? Claro que não.
Quem lucra, neste caso, são os países consumidores. Os Estados Unidos, por exemplo. Portanto, quando FHC privatizou parcialmente a Petrobras, vendendo ações na bolsa de Nova York, ele transferiu parte da soberania brasileira para investidores estrangeiros. Eles, sim, querem retorno rápido. Querem cavar o oceano às pressas, até esgotar o pré-sal. É a dinâmica do capitalismo!


Luiz Carlos Azenha
A mineradora Samarco, joint venture da Vale com a australiana BHP Billiton, teve um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões em 2014. Ou seja, limpinhos!
Como se sabe, o Brasil é uma “mãe” para as mineradoras. A Agência Pública fez uma reportagem interessante a respeito, quando Marina Amaral perguntou: Quem lucra com  a Vale?
O “pai” das mineradoras é Fernando Henrique Cardoso. Em 1996, com a Lei Kandir, isentou de ICMS as exportações de minérios!
O que aconteceu com a Vale, privatizada a preço de banana, é o mesmo que se pretende fazer com a Petrobras: colocar a empresa completamente a serviço dos acionistas, não do Brasil.
O que isso significa?
Auferir lucros a curto prazo, custe o que custar.
A questão-chave está no ritmo da exploração das reservas minerais. 
(...)






Luiz Carlos Azenha – 09.11.2015.
IN Vi o Mundo.


sábado, 16 de janeiro de 2016

Polícia em xeque: como lidar com manifestações sem bombas nem pancadas


Atos contra fechamento de escolas em São Paulo têm sido tratados como um problema de segurança pública, e não como uma crise política. Sem diálogo, sobra truculência na tentativa de cumprir ordens.

Tatiana Dias e Ana Freitas
Nesta quinta-feira (2), estudantes bloquearam diversas avenidas de São Paulo com carteiras escolares para protestar contra a reorganização das escolas proposta pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB). Os atos começaram pacíficos - os estudantes permaneciam sentados na via ecoando palavras de ordem. Mas a Polícia Militar estava orientada a agir para desobstruir o trânsito. Em vários casos, sobrou truculência.
A atuação da PM contraria recomendações internacionais. A Organização das Nações Unidas tem um documento que detalha as melhores práticas para a atuação policial em ambientes urbanos. Nele, há princípios como o uso mínimo da força, imparcialidade e objetividade, independente de provocação, e o policiamento de acordo com o respeito aos direitos humanos.
Outro documento publicado em 2006 pelo Fórum Executivo de Pesquisa Policial, em Washington, nos Estados Unidos, reúne experiências de chefes de polícia de países desenvolvidos, como EUA e Canadá, sobre as melhores práticas para conter multidões em protestos. Segundo o relatório, as forças policiais precisam ser capazes de garantir a segurança e o direito de protestar de todos os manifestantes.
(...)






Tatiana Dias e Ana Freitas – 04.12.2015
IN Nexo Jornal.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Sopa de letras: a incongruência dos partidos e a crise de identidade política


O PSDB e o Democratas, hoje, parecem formar uma só agremiação, o mesmo ocorre com PT e PC do B. Os partidos cristãos ignoram veementemente a ideia de solidariedade, que Cristo a um alto custo tentou nos ensinar. Sem falar de partido socialista abrigando evangélicos fundamentalistas. Nas eleições de 2010, em Pernambuco, houve candidato do Partido Humanista da Solidariedade defendendo a pena de morte. Ou seja, nada de humanismo e solidariedade nisto. E o Partido Popular Socialista, ao longo das últimas eleições presidenciais, esteve alinhado aos elitistas. Outra incoerência é o Partido da República abrigar os clérigos da Igreja Universal do Reino de Deus, nada republicano nisto. Ou seja, Partido da Religião seria mais adequado. Os que outrora deram sustentação político-partidária ao regime militar, hoje, estão agrupados no partido Democratas, que anteriormente significava frente liberal.

Leon Victor de Queiroz
A imagem do mar de lama, perpetrando uma das maiores tragédias ambientais do país, sequer havia saído de minha mente quando terroristas registraram outra tragédia em Paris. Dois eventos que não são auto excludentes, mas que fizeram com que os “Fiscais da Vida Alheia no Facebook” (que falta faz um Carlos Drummond de Andrade na cabeceira deste pessoal) iniciassem uma saraivada de críticas, como se dor fosse mensurável. Eu, particularmente, tenho pessoas queridas na região do Rio Doce, e também tenho pessoas queridas vivendo em Paris. São dois eventos de naturezas distintas. O primeiro evidencia a negligência e o descaso com o meio ambiente, o segundo foi um ato premeditado buscando ruir a relativa segurança do Ocidente, em função dos conflitos na Síria e região. Em ambos, houve perda de vidas inocentes, mas há quem se identifique com um ou outro, ou no meu caso, com os dois. É uma questão de identidade. Que bom seria se pudéssemos nos identificar, desta forma, com nossos partidos políticos. Passamos por uma crise de identidade, de natureza política.
Na Universidade Federal de Campina Grande, onde leciono a disciplina de “Sistema Partidário e Regime Eleitoral no Brasil”, fiz a seguinte pergunta: Você tem alguma identificação partidária? Apenas um único aluno respondeu. Ele, que é filiado ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), foi o único a se identificar com um partido. Os demais não esboçaram qualquer identificação.
Esta falta de identidade partidária é, em grande medida, causada pelo nosso sistema eleitoral que permite a candidatura individual com propostas individuais, o que se convencionou chamar de personalismo. Como candidatos de um mesmo partido fazem para se destacar, se pertencem a um mesmo grupo ideológico? Vale tudo, inclusive prometer leite nas torneiras. São promessas, muitas das vezes, sem qualquer vinculação com o programa do partido ou, até mesmo, com a ideologia que ele representa. Poucos são os candidatos que personificam os ideais de seus partidos.
(...)







Leon Victor de Queiroz – Doutor em Ciência Política pela UFPE, advogado, professor da Universidade Federal de Campina Grande-PB, pesquisador do PRAETOR/UFPE e do CEL/UFMG. Voluntário do Movimento Voto Consciente – 17.11.2015

IN Blog Legis-ativo - Estadão.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Guatemala mostra como viver de floresta


País desenvolve modelo de conservação com concessões de terra a comunidades locais.

Daniela Chiaretti
O carro está parado no acostamento, todos os passageiros desceram e olham para cima. Na copa das árvores altas há duas sombras e algum movimento. A dupla de macacos-aranha logo some na floresta, e os carros avançam pela estrada, com mato denso pelas beiradas. Trata-se da Reserva Maia da Biosfera (RMB), o maior corredor de biodiversidade da América Central, que envolve as pirâmides de Tikal, o coração da civilização maia, no norte da Guatemala. Na floresta, ruínas maias espalhadas por todas as partes lembram o passado, enquanto comunidades rurais há mais de 20 anos provam que é possível viver da floresta.
Criada em 1990, pela Unesco, a reserva tem um objetivo duplo: preservar a floresta e promover o desenvolvimento social.
Florestas representam hoje cerca de 15% da superfície da Terra e contêm perto de 25% de todo o carbono que existe na biosfera. Conservar florestas é uma maneira de combater o aquecimento global, de preservar a biodiversidade e de garantir recursos hídricos. A experiência guatemalteca, de assegurar a posse da terra às comunidades locais é uma tentativa de reduzir a pobreza, dar emprego e produzir renda explorando recursos naturais de modo sustentável.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/guatemala   





Daniela Chiaretti (de Petén, Guatemala) – 12.11.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa.

sábado, 9 de janeiro de 2016

[Frei Betto] ‘Não podemos aceitar, sem indignação, tanta desigualdade social como há no Brasil’

  
 FREI BETTO - " horizonte de toda pessoa generosa e altruísta tem que ser o de uma humanidade constituída em uma só família, sem preconceitos e discriminações, sem desigualdade e injustiças. Se isso vai chamar socialismo ou outro ismo, não me importa. Importa que não podemos aceitar, sem indignação, tanta desigualdade social como há no Brasil e no mundo. O engajamento dos jovens nesse processo é fundamental. Não conheço nenhum revolucionário que tenha iniciado sua luta após os 30 anos. E estou convencido: quando mais utopia, menos drogas; quanto menos utopia, mais drogas. O que não dá é viver sem sonhos..."

Joana Tavares
Quem diz isso é Frei Betto, escritor, teólogo, educador, escolhido por um júri internacional para receber o prêmio José Martí de 2013, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). "Frei Betto foi escolhido por sua oposição a todas as formas de discriminação, injustiça e exclusão e por sua promoção da cultura de paz e dos direitos humanos”, explicou a organização. O prêmio será entregue no dia 30 de janeiro, em Havana, na Terceira Conferência Internacional pelo Equilíbrio Mundial, que marca o 160° aniversário do combatente da independência cubana e poeta da libertação latino-americana, José Martí.
Nesta entrevista ao Portal Minas Livre, Frei Betto, autor de mais 50 livros de diversos temas, mineiro de Belo Horizonte, fala sobre Igreja, comunicação, as lutas e desafios do continente.

Portal Minas Livre – Qual a importância de um prêmio como o da Unesco, que resgata o pensamento de José Martí e valoriza pessoas que seguem seu legado? Como é para o senhor recebê-lo neste ano?
Frei Betto – O mérito é de todos que lutamos por justiça, paz e direitos humanos na América Latina. Sou apenas um pequeno grão de imensa praia que converge rumo ao futuro melhor de nosso continente.



(...)
Para continuar a leitura, acesse











Joana Tavares – 01.02.2013
Frei Betto – entrevista realizada em 17.01.2013
IN ADITAL/Agência de Notícias Frei Tito para a América Latina. 







Frei Betto: Lula e Dilma foram "governo social-popular desenvolvimentista"

FREI BETTO – “Deixei porque o Fome Zero tinha caráter emancipatório e o governo decidiu erradicá-lo para implantar o Bolsa Família, que tem caráter compensatório. Família que ingressava no Fome Zero estaria em condições de gerar a própria renda em dois ou três anos. As famílias do Bolsa Família perpetuam sua dependência ao governo federal, sem porta de saída. Por outro lado, o Fome Zero era administrado pelos Comitês Gestores, integrados por lideranças populares do município beneficiado. O Bolsa Família é administrado pelos prefeitos, que o transformam em moeda eleitoral…Tudo isso descrevo em meu livro 'Calendário do Poder' (editora Rocco)”.

Carlos Miguélez Monroy
“Helvecio, a vida supera a ficção”, dizia a dedicatória que Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como Frei Betto, escreveu ao diretor de cinema Helvecio Ratton, quando lhe deu um exemplar do livro Batismo de sangue. O diretor aceitou o desafio e em 2006 as salas dos cinemas exibiram pela primeira vez esta arrepiante história da repressão feita pela ditadura militar no Brasil. Os corpos torturados nesta história pertencem a frades dominicanos que, como Frei Betto, lutaram contra a ditadura.
Publicou mais de 50 obras sobre diferentes temas, embora se note sua obsessão pela justiça social e pelos direitos humanos. Para Frei Betto, ser de esquerda significa “optar pelos pobres, indignar-se perante a exclusão social, inconformar-se com todas as formas de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar a desigualdade social uma aberração. Ser de direita é tolerar injustiças, pôr os imperativos do mercado por cima dos direitos humanos, encarar a pobreza como falta incurável, acreditar que existem pessoas e povos superiores aos outros”.
Trabalhou no programa Fome Zero do governo de Luis Inácio Lula da Silva, como explica nesta entrevista, até este ser suprimido para a criação do Bolsa Família, um programa de subsídio direto às famílias.
A entrevista é de Carlos Miguélez Monroy, jornalista espanhol e mexicano, e publicada por HemisferioZero, 13-01-2014.  A tradução portuguesa é publicada no blog do jornalista.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://hemisferiozero.com/





Carlos Miguélez Monroy – Jornalista.
Frei Betto – 13.01.2014
IN Hemisfério Zero (em português no Instituto Humanitas Unisinos).