sábado, 4 de novembro de 2017

Da merenda escolar ao composto para astronautas




Será que as mentes criativas não conseguem produzir solução melhor para a fome? Alguma que, por exemplo, não agrida a autoestima do chamado público-alvo? Que não reduza a alegria de viver (e de comer!) à ingestão de energéticos consumidos “até por astronautas”, como diz o elegante prefeito em sua turnê romana.

Reginaldo Corrêa de Moraes
Em 1729, Jonathan Swift publicava sua Modesta Proposta Para Evitar Que As Crianças Da Irlanda Sejam Um Fardo Para Os Seus Pais Ou Para Seu País. Faz alguns anos, a Editora Unesp me convidou a escrever um prefácio à edição brasileira do livrinho, uma peça imperdível do escritor irlandês.
A “solução” de Swift é conhecida, um humor macabro, agressivo. A ideia de transformar as crianças pobres em alimento é de chocar as boas almas. Parafraseando a frase de Marx sobre a religião, é um grito do espírito em um mundo sem espírito.
Volta e meia nos damos conta de que nos faltam alguns Swifts. Ou, então, que nem mesmo com milhares de Switfs conseguiríamos dar conta do que nos oferecem as propostas nada fictícias geradas por mentes criativas como a do alcaide paulistano. A última invenção do jovem sexagenário é a comida de astronauta produzida a partir de alimentos em vésperas de virar lixo. Sim, a ideia é “agregar” alimentos de supermercados, com data de validade em cima da risca. E desse agregado produzir pacotes de granulados a servir como ração para os famintos da grande cidade, incluindo os estudantes, com merenda escolar “reforçada” pelo preparado. Os protótipos de alimento foram fornecidos para teste por uma empresa um tanto estranha, que não tem fábrica nem parece ter condições de ter – ela própria “agrega” serviços de outros fabricantes. Uma outra invenção, quem sabe candidata à inserção no cadastro de fornecedores da prefeitura. Analisada a forma de implementação da política, chega-se à conclusão de que será, de fato, um grande negócio. Os fornecedores dos alimentos “quase invendíveis” deixariam de perder esse saldo. E, mais ainda, teriam incentivos fiscais. Ganham em dobro. Um achado.
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Reginaldo Corrêa de Moraes – Cientista Social, Professor – 19.10.2017.
IN  Jornal da Unicamp.