Rodrigo
Ghiringhelli – “Um dos elementos dessa nova doutrina é o esvaziamento do papel da
universidade e da pesquisa como fomentadoras de inovações nesta área, algo que
vinha caracterizando os governos anteriores. Esse discurso já esteve presente
quando Alexandre de Moraes assumiu o ministério da Justiça e está sendo
reafirmado agora. Segundo ele, pesquisa acadêmica não é interessante, não é
importante e mais atrapalha do que ajuda o combate ao crime. Além disso, o
processo penal brasileiro seria muito leniente contra o crime, apresentando
muitas garantias que estariam atrapalhando o combate ao crime, devendo ser
suspensas para determinados grupos. Há, neste sentido, uma clara desigualdade
de tratamento. A gente vê filhos de desembargadores recebendo tratamento muito
benéfico e moradores de favelas e periferias urbanas recebendo um tratamento
que não é novo, mas que é extremamente ilegal, tanto na forma como são tratados
pela polícia como no sistema carcerário.
Alguns
pesquisadores vêm apontando que, neste contexto, as polícias militares vêm
ganhando proeminência“.
Marco Weissheimer
A área da segurança pública no Brasil adquiriu extrema importância no
governo de Michel Temer, com a implementação de uma política que tem por trás
dela uma nova doutrina de segurança nacional. Essa doutrina vê os grupos
ligados ao tráfico de drogas e os movimentos sociais ligados a uma visão de
esquerda como os novos inimigos internos e alvos de uma política nacional de
segurança que justificaria inclusive a intervenção as forças armadas. Além
disso, a polícia militar tem um salvo conduto para atuar de forma violenta e,
às vezes, até contra a lei em nome de um “bem maior”. O alerta é do sociólogo
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor e pesquisador da PUC-RS e membro do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que vê um preocupante processo de
militarização da segurança pública no Brasil.
Em entrevista ao Sul21, ele identifica as origens desse processo no
período que precedeu a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas e o seu
agravamento a partir da destituição do governo de Dilma Rousseff. Apesar de não
ser um consenso dentro das Forças Armadas, a utilização de militares para
funções de policiamento, como está acontecendo mais uma vez no Rio de Janeiro,
indica o aprofundamento dessa nova doutrina que vem sendo sustentada pelo
general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e por
algumas pessoas ligadas ao governo Temer, assinala o professor da PUC.
Natural de Cruz Alta, de 2011 a 2012, Etchegoyen comandou a 3ª Divisão do
Exército em Santa Maria. O militar gaúcho foi o primeiro general da ativa a
criticar publicamente o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, qualificado
por ele como “patético” e “leviano”. Isso porque a Comissão incluiu o pai dele,
general Leo Guedes Etchegoyen, entre os militares responsáveis por violações de
direitos humanos durante a ditadura militar. Essa não foi a única citação
envolvendo familiares do general. Um tio dele, Cyro Guedes Etchegoyen, foi
apontado pelo coronel Paulo Malhães à Comissão Nacional da Verdade, como
autoridade responsável pela Casa da Morte, local de tortura e morte de presos
políticos da ditadura, localizada no município de Petrópolis, Rio de Janeiro.
(...)
Para
continuar a leitura, acesse https://www.sul21.com.br/jornal/sociologo-alerta-para-nova-doutrina-de-seguranca-nacional-defendida-pelo-general-etchegoyen/
Rodrigo Giringhelli – Sociólogo.
Marco Weissheimer – 08.08.2017.
IN Sul 21.