quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Sociólogo alerta para nova doutrina de segurança nacional defendida pelo general Etchegoyen


Rodrigo Ghiringhelli – “Um dos elementos dessa nova doutrina é o esvaziamento do papel da universidade e da pesquisa como fomentadoras de inovações nesta área, algo que vinha caracterizando os governos anteriores. Esse discurso já esteve presente quando Alexandre de Moraes assumiu o ministério da Justiça e está sendo reafirmado agora. Segundo ele, pesquisa acadêmica não é interessante, não é importante e mais atrapalha do que ajuda o combate ao crime. Além disso, o processo penal brasileiro seria muito leniente contra o crime, apresentando muitas garantias que estariam atrapalhando o combate ao crime, devendo ser suspensas para determinados grupos. Há, neste sentido, uma clara desigualdade de tratamento. A gente vê filhos de desembargadores recebendo tratamento muito benéfico e moradores de favelas e periferias urbanas recebendo um tratamento que não é novo, mas que é extremamente ilegal, tanto na forma como são tratados pela polícia como no sistema carcerário.
Alguns pesquisadores vêm apontando que, neste contexto, as polícias militares vêm ganhando proeminência“.

Marco Weissheimer
A área da segurança pública no Brasil adquiriu extrema importância no governo de Michel Temer, com a implementação de uma política que tem por trás dela uma nova doutrina de segurança nacional. Essa doutrina vê os grupos ligados ao tráfico de drogas e os movimentos sociais ligados a uma visão de esquerda como os novos inimigos internos e alvos de uma política nacional de segurança que justificaria inclusive a intervenção as forças armadas. Além disso, a polícia militar tem um salvo conduto para atuar de forma violenta e, às vezes, até contra a lei em nome de um “bem maior”. O alerta é do sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, professor e pesquisador da PUC-RS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que vê um preocupante processo de militarização da segurança pública no Brasil.
Em entrevista ao Sul21, ele identifica as origens desse processo no período que precedeu a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas e o seu agravamento a partir da destituição do governo de Dilma Rousseff. Apesar de não ser um consenso dentro das Forças Armadas, a utilização de militares para funções de policiamento, como está acontecendo mais uma vez no Rio de Janeiro, indica o aprofundamento dessa nova doutrina que vem sendo sustentada pelo general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e por algumas pessoas ligadas ao governo Temer, assinala o professor da PUC.
Natural de Cruz Alta, de 2011 a 2012, Etchegoyen comandou a 3ª Divisão do Exército em Santa Maria. O militar gaúcho foi o primeiro general da ativa a criticar publicamente o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, qualificado por ele como “patético” e “leviano”. Isso porque a Comissão incluiu o pai dele, general Leo Guedes Etchegoyen, entre os militares responsáveis por violações de direitos humanos durante a ditadura militar. Essa não foi a única citação envolvendo familiares do general. Um tio dele, Cyro Guedes Etchegoyen, foi apontado pelo coronel Paulo Malhães à Comissão Nacional da Verdade, como autoridade responsável pela Casa da Morte, local de tortura e morte de presos políticos da ditadura, localizada no município de Petrópolis, Rio de Janeiro.
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Rodrigo Giringhelli – Sociólogo.
Marco Weissheimer – 08.08.2017.
IN Sul 21.