Como
anota o autor, a gíria tem por base –e acaba por reforçar– "a ideia de que
debates, em princípio, admitem um fechamento irrevogável, e não são
desprezíveis as consequências disso para as discussões concretas de que
venhamos a tomar parte".
Fico
tentado a chamar de lacradora essa ideia de que a epidemia de
"lacrações" espelha e realimenta nosso ambiente de intolerância
mútua, em que as cabeças parecem vedadas a tudo o que, contrariando certezas
pré-moldadas, ameace obrigá-las a pensar.
Sérgio Rodrigues
Na revista "Piauí" deste mês, Antonio Engelke, doutor em
ciências sociais pela PUC carioca, faz uma
análise "progressista" –e por isso mais relevante– dos
tiros no pé desferidos pelas políticas identitárias que caracterizam grande
parte da esquerda atual, com sua ênfase nas ideias de pureza e essência
manifestas em conceitos como "lugar de fala" e "apropriação
cultural".
Trata-se de um debate que nada tem de simples, preto no branco. Não
tentarei resumir aqui a argumentação nuançada do autor, que gasta seis páginas
de letras miúdas para se distanciar tanto da condenação conservadora dos
movimentos de afirmação de minorias quanto das armadilhas autoritárias e
autossabotadoras que se apresentam em seu caminho.
O artigo é brilhante, e deixo aqui uma enfática recomendação de leitura.
Vou comentar apenas o curioso caso línguístico pelo qual Engelke inicia seu
argumento: o da gíria "lacrar", forte candidata a palavra mais
eloquente e emblemática dos últimos anos no país.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergio-rodrigues/2017/09/1922440-lacrou-giria-traduz-admiracao-mas-nao-esconde-traco-autoritario.shtml
Sérgio Rodrigues – Jornalista e Escritor – 19.09.2017.
In Folha de S. Paulo.