sábado, 29 de novembro de 2014

O Congresso e as eleições legislativas de 2014: bancadas partidárias


Em termos gerais, na Câmara dos Deputados, o destaque vai para o incremento da participação dos partidos pequenos, acarretando elevação da fragmentação partidária parlamentar, e para a pequena diminuição das siglas que compõem a coalizão de governo, menor na comparação com a bancada atual, mas em tamanho muito similar aos resultados de 2010. No Senado, o principal resultado foi um crescimento residual da atual base do governo (não pelo PT, mas por um apoiador distante) e uma pequena troca no campo da oposição. Ao contrário das últimas eleições, desta vez a coalizão sob liderança petista alcança melhor desempenho numérico e proporcional junto ao Senado Federal, que, mesmo assim, deve servir de espaço importante para a oposição. No agregado, estas eleições parecem indicar que o grupo atualmente na oposição estancou a tendência de queda revelada nos pleitos anteriores, ressalvado a declínio continuado do DEM na Câmara dos Deputados.

Fabiano Santos, Júlio Canello, Brenda Cunha
1.      Apresentação
Este boletim fornece uma análise inicial dos resultados das eleições legislativas de 2014 para a Câmara dos Deputados e Senado Federal, discutindo a composição das forças partidárias nas legislaturas que se iniciam em 2015. Embora ainda existam candidaturas esperando decisão final da Justiça Eleitoral1, o que poderá alterar, na margem, a composição do legislativo federal, as bancadas partidárias já mostram o tamanho de sua expressão para o próximo período. Dilma Roussef (PT) e Aécio Neves (PSDB) avançaram na disputa à Presidência em segundo turno, sagrando-se vitoriosa a candidata petista, no pleito mais acirrado da história da República. Para além dos acordos e alianças que envolveram a disputa eleitoral, Dilma Roussef tem mais uma vez o desafio político usual do presidencialismo brasileiro: como criar e gerenciar coalizões de governo capazes de implantar um programa coerente diante de um Congresso fragmentado e heterogêneo? Sem apresentar respostas, nosso esforço é contribuir para o debate contínuo e importante desta questão. Neste primeiro documento, examinamos a evolução das bancadas partidárias a partir do número de cadeiras obtidas do Legislativo.

2.     Os resultados de 05 de Outubro e o novo Congresso
Uma das peças fundamentais para a governabilidade no próximo período é o ambiente político que a Presidente encontrará no Congresso Nacional. Quais apoios serão possíveis? Onde enfrentará resistência? Relativamente a quais políticas? Embora tais questões não sejam fáceis, é possível projetar cenários futuros com base na composição eleita da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, comparativamente às últimas legislaturas.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://necon.iesp.uerj.br/images/pdf/boletim.pdf






Fabiano Santos – Professor do IESP-UERJ e Coordenador do NECON;
Júlio Canello – Doutorando em Ciência Politica (IESP-UERJ) e pesquisador do NECON;
Brenda Cunha – Mestranda em Ciência Política (IESP-UERJ) e pesquisadora do NECON – 2014
IN Núcleo de Estudos Sobre o Congresso – NECON.




O Congresso e as eleições legislativas de 2014: perfil ideológico

Apesar da discussão sobre o perfil e mudança qualitativa da direita no parlamento, se consideramos a distribuição ideológica em termos partidários, não há alterações drásticas. No curto prazo, enquanto a esquerda sai menor na Câmara dos Deputados, a divisão do Senado permanece estável e mais equitativa. No longo prazo, a direita indica que sua trajetória de queda pode ter chegado ao fim. Em termos gerais, o Congresso permanece ideologicamente dividido, com um centro importante e pivotal, mas heterogêneo em suas preferências e práticas. É neste centro, seduzido pelos polos, que reside o mediano e onde serão definidas as possibilidade de avanços e encaminhamentos da agenda política.

Fabiano Santos, Júlio Canello, Brenda Cunha
Para além do tamanho das bancadas partidárias, uma segunda dimensão importante do Congresso Nacional é sua composição em termos de perfil ideológico. Neste boletim, avaliamos a distribuição das forças políticas sob tal aspecto, comparando, especificamente, as bancadas atual e eleita para Câmara dos Deputados e Senado Federal. Nosso foco é descritivo e voltado ao debate conjuntural, instrumentalizando a projeção de distintos cenários de governabilidade. Definido tal escopo, este documento não enfrenta a controvérsia teórico-conceitual relativa ao conteúdo dos distintos campos ideológicos, nem aprofunda a questão metodológica sobre a forma de mensuração de preferências políticas e sua multidimensionalidade. Com a simplificação usual do espectro em três grupos - esquerda, centro e direita -, classificando os partidos nesses termos, podemos avaliar, ainda que de forma imprecisa, a posição do mediano do Congresso e sua trajetória ao longo do tempo.
Com os resultados apurados, boa parte da mídia não tardou em destacar um avanço conservador no Legislativo federal eleito para 2015. Nessa linha, os primeiros levantamentos feitos pelo DIAP indicam um aumento na bancada evangélica (passando de 78 para 82 deputados) e uma queda na bancada sindical (de atuais 83 para 46 representantes). No mesmo sentido, parlamentares ruralistas também passam a ter maior presença, conforme estimativas da Frente Parlamentar da Agropecuária. Enfatizando a expressiva votação de candidatos à direita, como Jair Bolsonaro (PP-RJ), Luiz Carlos Heinze (PP-RS), Celso Russomano (PRB-SP) e Coronel Alberto Fraga (DEM-DF), combinada à saída de parlamentares de centro-esquerda que atuavam como articuladores e à diminuição do PT, sobretudo paulista, chegou a ser noticiado que o Congresso eleito é o mais conservador desde 1964. Essa leitura decorre, principalmente, do perfil discursivo dessas candidaturas e de seu posicionamento à direita no campo comportamental, sem correspondência necessária no conservadorismo econômico.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://necon.iesp.uerj.br/images/pdf/boletim_ideol.pdf








Fabiano Santos – Professor do IESP-UERJ e Coordenador do NECON;
Júlio Canello – Doutorando em Ciência Politica (IESP-UERJ) e pesquisador do NECON;
Brenda Cunha – Mestranda em Ciência Política (IESP-UERJ) e pesquisadora do NECON – 2014.
IN Núcleo de Estudos Sobre o Congresso – NECON.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

El racismo en América Latina y el pueblo mapuche en Chile


El pueblo mapuche sufre las consecuencias de una sociedad, la chilena en su conjunto, que los desprecia. No hay nada peor que el paternalismo colonial, trato constante al que han sido sometidos.

Marcos Roitman Rosenmann
Chile sufre el mal de las sociedades trasplantadas, aquellas nacidas a partir de la conquista de los pueblos originarios. Nunca los conquistadores han reconocido la primigenia posesión de los territorios a los pueblos originarios. Por el contrario, los han despojado de cuanto tenían y emprendido una política de exterminio. Han cometido etnocidio y genocidio. El imperio español no fue el primero. En su expansión de ultramar articuló las nuevas Leyes de Indias para garantizarse la continuidad de la mano de obra y regular las condiciones del trabajo forzado en minas y obrajes para no estancar la producción de oro y plata. No hubo humanidad en ellas, sólo interés. El resto es discusión filosófica.
El racismo moderno forma parte del capitalismo colonial del siglo XVI, donde la esclavitud se convierte en el núcleo del proceso de acumulación de capital. Tras la independencia, en América Latina no hubo cambios; los criollos convertidos en los nuevos amos de los países y territorios, tomaron el relevo del peninsular. Tampoco hubo paz ni libertad para los pueblos indios, sólo sangre y exterminio. Eso sí bajo el eufemismo de guerras civilizatorias. Así se expandió la frontera agrícola y el poder de las oligarquías terratenientes. La sociedad monoétnica dominante, con su cultura y su mundo, impuso el yugo de la explotación adoptando la fórmula del colonialismo interno, condición sine qua non para seguir esquilmándoles sus riquezas y patrimonio.
El mito de la superioridad étnico racial vigente en Chile y América Latina se expresa cotidianamente. Aún no se conocen los límites del capitalismo racial. Mapuches, mayas, cunas, aymaras, tupi-guaraní son considerados enemigos del progreso y la patria. En pleno siglo XXI se ven enfrentados a políticas de exterminio neoliberal. La ampliación de la frontera agrícola, el monocultivo transgénico de la soja, las plantaciones de eucalipto, los megaproyectos mineros, hidráulicos, cuyo destino es la vieja Europa y China, incrementa la violencia y las ansias de las transnacionales por apropiarse de los últimos espacios a los cuales fueron relegados a fines del siglo XIX.
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Para continuar a leitura, acesse http://www.elclarin.cl/web/index.php?option=com_content&view=article&id=7034:el-racismo-en-america-latina-y-el-pueblo-mapuche-en-chile&catid=13:politica&Itemid=12







Marcos Roitman Rosenmann – Doutor em Ciência Política e Sociologia na Universidade Complutense de Madri – 19.01.2013
IN Clarin de Chile. 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"A derrubada do decreto 8243 foi um tiro no pé", diz ao DCM a cientista política Thamy Pogrebinschi


THAMY - "Nos últimos anos realizei diversas pesquisas que demonstraram que o as Conferências Nacionais e o Congresso Nacional possuem uma agenda convergente. As propostas discutidas no Congresso que convergem com as recomendações das Conferências Nacionais tendem a ser apresentadas com mais frequência pelos próprios parlamentares do que pelo Executivo.
Tais propostas afinadas com as deliberações da sociedade civil são apresentadas por uma pluralidade de partidos e não apenas o PT. Isso mostra que o Executivo não instrumentaliza os mecanismos participativos para avançar as suas políticas. Ao contrário, instâncias participativas como as Conferências Nacionais podem conferir uma legitimidade maior ao Congresso Nacional. Daí que a sustação do Decreto 8243 pelos parlamentares é um tiro no próprio pé".


Pedro Zambarda de Araújo
O decreto 8243 está provocando discussões entre os brasileiros desde maio deste ano, enfrentando forte oposição da mídia. Em outubro, não passou no Congresso. Para esclarecer mais pontos sobre o projeto, o DCM falou novamente com a cientista política e professora Thamy Pogrebinschi, que já nos concedeu entrevistaanteriormente.
Thamy explicou que mecanismos participativos existem em países como os Estados Unidos e são uma tendência mundial, ao contrário do que dizem as pessoas que o tacham de “bolivariano”. A especialista também contou um pouco sobre sua pesquisa no WZB Social Science Center, em Berlim.

DCM – O que você acha que acontecerá com o decreto 8243 no Senado?
Thamy Pogrebinschi – Acho que, apesar da presente mobilização social, o decreto será, com grande probabilidade, também sustado pelo Senado. O PT, o PCdoB e o PSOL estão isolados na defesa do PNPS. O governo não conta com o apoio do PMDB, que já manifestou oposição ao decreto. Acho que agora cabe depositar esperança no projeto apresentado pelo PSOL (PL 8048), que busca recriar a PNPS por lei.

DCM – Por que os opositores chamam o decreto de “bolivariano” ou “soviético”? 
Thamy Pogrebinschi – Gostaria de achar que é por mera falta de conhecimento histórico ou incapacidade de análise conjuntural, mas, infelizmente, acho ainda que se trata de má-fé da imprensa misturada com certa histeria da direita. A participação popular no processo político decisório não foi algo “inventado” pela União Soviética ou pela Venezuela.
Na origem da democracia, na Grécia antiga, as decisões eram tomadas diretamente pelo povo reunido na ágora (uma forma de assembleia popular). Hoje, as chamadas “inovações democráticas”, que incluem o que chamamos no Brasil de mecanismos e instâncias participativas, são implementadas em praticamente todos os países do mundo e, em especial, nas democracias avançadas. As formas e desenhos institucionais existentes são muito diversos.
Na Dinamarca, por exemplo, são organizadas há muitos anos “conferências de consenso”,  que são de certo modo semelhantes às “conferências nacionais” realizadas no Brasil e regulamentadas pelo decreto 8243. Na Suíça realizam-se consultas populares há mais de dois séculos com uma frequência enorme para decidir desde pequenas questões urbanas locais até questões tributárias ou fiscais em nível federal.
(...)
Para continuar a leitura, acesse  http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-derrubada-do-decreto-8243-foi-um-tiro-no-pe-diz-ao-dcm-a-cientista-politica-thamy-pogrebinschi/







Pedro Zambarda de Araújo – 04.11.2014
Thamy Pogrebinschi – Cientista Política.
IN Diário do Centro do Mundo.


sábado, 22 de novembro de 2014

Dos fins do Estado: de socialismo e social-democracia


Todo Estado é um Estado-processo, um Estado-construção, um molde sem modelo.
A democratização da sociedade começa com a democratização do Estado, revertendo sua vocação antipovo e autoritária.

Roberto Amaral
A questão do caráter do Estado, mormente em países com as características brasileiras, entre as quais destaco o movimento (aí implícita a mobilidade econômico-social) em oposição ao congelamento,  não é de limitação aritmética (grande ou pequeno) mas,  de conteúdo finalístico, definido na resposta a uma simples pergunta:   a serviço de quem ele está posto?
O Estado é, sempre, servidor da classe dominante, assim identificada ca detentora dos meios de produção.
Esta sentença encerra uma verdade, mas não encerra a verdade toda, pois o Estado capitalista, democrático ou não, é permeado de classes e contradições entre classes e mesmo no interior da classe que exerce o poder de Estado, e nesses espaços podem atuar as mais diversas forças, inclusive as que lhe são antagônicas. Ainda bem. Pois, se tomada a sentença marxista (Manifesto comunista e A ideologia alemã) no seu sentido tout court nada mais teríamos por fazer, a revolução seria impossível, a política estaria morta e, aí sim, a História não teria mais caminho a percorrer.






Roberto AmaralCientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004 – 13.11.2013
IN Carta Capital. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Impacto da universalização do saneamento básico


O Instituto Trata Brasil e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) concluíram recentemente o estudo "Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro", no qual comparam os dados reais extraídos dos órgãos oficiais brasileiros em diversas áreas com um cenário hipotético (e almejado) de um Brasil com déficit zero de saneamento básico. (...) Trabalhadores sem acesso ao saneamento ganham em média ao longo da carreira 10% menos do que os colegas da mesma faixa hierárquica, reflexo de uma formação escolar mais frágil, no passado, e de problemas de saúde no presente. Com a universalização do serviço de água e esgoto, haveria uma elevação de 6,1% na massa de salários do país (hoje em torno de R$ 1,7 trilhão), possibilitando um crescimento da folha de pagamentos de R$ 105,5 bilhões por ano.

Marina Grossi e Édison Carlos
O cenário do saneamento básico - oferta de água limpa com coleta e tratamento de esgoto - no Brasil é de uma discrepância inaceitável. Sétima maior economia do planeta, o país ocupa a 112ª posição num ranking entre 200 nações avaliadas no Índice de Desenvolvimento do Saneamento. Na aferição mais recente, de 2011, esse indicador, que vai de zero a um, sendo um a situação ideal, nos pontuou com 0,581, desempenho que nos deixa distantes da média desejável de países da América do Norte e da Europa e abaixo de algumas nações do Norte da África, do Oriente Médio e de vizinhos da América Latina.
O indicador, que leva em consideração a cobertura por saneamento atual e sua evolução recente, reflete impactos negativos em áreas vitais para qualquer sociedade - saúde, educação, produtividade, geração de renda, qualidade ambiental e até no índice de felicidade das Nações Unidas. Em resumo, o saneamento interfere de forma direta e concreta nas três principais dimensões da sustentabilidade - econômica, social e ambiental.
Nosso passivo na área de saneamento é histórico. Há 50 anos, apenas uma em cada três moradias estava ligada à rede de coleta de esgoto ou à rede pluvial. Em relação ao destino do esgoto coletado, a situação era ainda mais dramática: apenas 5% dos efluentes líquidos recebiam algum tipo de tratamento. O restante era despejado diretamente no meio ambiente. Evoluímos de lá para cá, mas em ritmo lento, quando comparamos com a expansão econômica do país, o salto no número de habitantes e a excessiva concentração demográfica nos perímetros urbanos. Hoje, 55% das moradias estão cobertas com rede coletora, mas apenas 37,5% do esgoto é tratado. Também não conseguimos ainda universalizar a rede de água: 17,6% dos brasileiros não contam com esse serviço.
(...)



Marina Grossi - Presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável); Édison Carlos – Presidente do Instituto Trata Brasil – 30.04.2014

IN Valor Econômico. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sob o domínio do capital. Estrangeiro


Ensino superior privado no Brasil apresenta cenário de concentração e domínio de investimentos de fundos internacionais. Como isso pode influenciar a qualidade da educação?

Felipe Rousselet e Glauco Faria
No dia 22 de abril deste ano, foi anunciada a fusão das empresas Kroton Educacional S.A. e Anhanguera Educacional, uma transação que resultou em uma companhia cujo valor de mercado é estimado em R$ 14,1 bilhões. No total, o grupo passa a contar com 800 unidades de ensino superior e 810 escolas privadas associadas à educação básica, distribuídas em todos os estados do Brasil. Ainda que a efetivação da negociação esteja condicionada à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), trata-se de uma sinalização forte de uma mudança que vem ocorrendo há alguns anos no ensino superior brasileiro, com a financeirização, movida pelo capital estrangeiro, exercendo um papel relevante nesta nova etapa de concentração das empresas do setor educacional no Brasil.
A criação da companhia foi divulgada alguns dias depois de o Cade ter autorizado a aquisição da Unifec, controladora da Universidade do Grande ABC, pela Anhanguera, anunciada em 2011. Dois anos antes, o fundo estadunidense Advent International havia comprado 28% da Kroton, que depois adquiriu a Iuni Educacional. Uma engenharia sofisticada que resultou na formação daquele que é considerado hoje o maior conglomerado da área educacional do mundo. O modelo societário da nova empresa, a Kroton Educacional, estabelece que, dos 24,1% de ações do bloco de controle, 57,48% ficarão a cargo da Kroton, e 42,52% com os acionistas da Anhanguera. Já os demais 75,9% do capital serão pulverizados no mercado. Rodrigo Galindo, atual presidente da Kroton, continuará à frente da nova companhia, enquanto Gabriel Mário Rodrigues, fundador da Universidade Anhembi Morumbi e presidente do Conselho de Administração da rede de universidades Anhanguera, será o chefe deste conselho.
“A Kroton tem por origem o Pitágoras, de Minas Gerais, e depois se juntou com  o grupo Iuni, do Brasil central, e constituiu este aglomerado que se chamou Kroton e que tem um fundo de capital estrangeiro que injeta dinheiro e abriu as ações para o mercado internacional”, conta Celso Napolitano, presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo. “A Anhanguera começou com um conjunto de faculdades isoladas, que tinham esse nome exatamente porque se localizavam nas cidades ao longo da rodovia Anhanguera. Também, a partir daí, foi organizada financeiramente pelo banco Pátria, e no momento de abrir o capital, rodaram o mundo captando dinheiro de vários lugares. Então, na verdade, o que existe nesse cenário é a inserção de capital estrangeiro nesses grupos multinacionais, abertos ou fechados.”
As mudanças na educação superior ganharam força após a redemocratização, em especial depois da promulgação da constituição de 1988, que disciplinou o princípio de autonomia universitária, criando um instrumento importante para as instituições privadas que era a possibilidade de não estar sob a guarda do controle burocrático do antigo Conselho Federal de Educação (CFE), principalmente em relação à criação e extinção de cursos nas sedes e ao remanejamento do número de vagas oferecidas, conforme lembra Helena Sampaio, antropóloga e professora da Faculdade de Educação da Unicamp, no artigo “O setor privado de ensino superior no Brasil: continuidades e transformações”, publicado na Revista Ensino Superior Unicamp. “Essa prerrogativa permitiu à iniciativa privada responder de forma   mais rápida ao atendimento da demanda. Entre 1985 e 1996, o número de universidades privadas mais do que triplicou (de 20 para 64), evidenciando a percepção do setor de que instituições maiores e autônomas, com uma oferta mais diversificada de cursos, teriam vantagens competitivas na disputa da clientela em um mercado estagnado”, diz. “Consistentemente, à medida que o número de universidades particulares crescia, o de estabelecimentos isolados diminuía, evidenciando processos de fusão e/ou incorporação de instituições no setor.”







Felipe Rousselet e Glauco Faria – Agosto de 2013
In Revista Fórum, ed. 124. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Folha padrão Veja: o DNA marrom da mídia brasileira


É inegável que a cobertura eleitoral do jornal Folha de S. Paulo nas eleições de 2014 foi francamente enviesada contra a candidata Dilma Rousseff e seu partido, o PT. O gráfico de valências contrárias para candidatos, abaixo, não deixa dúvidas.

João Feres Junior
Dilma foi campeã de chamadas e manchetes negativas por quase todo período de campanha, com exceção de um breve momento quando Marina a ultrapassou levemente, e da última semana do gráfico, 12 a 18 de outubro, penúltima da campanha, quando Aécio pela primeira vez superou Dilma em negativos. Mas o gráfico da última semana da campanha, a que estamos encerrando hoje, mostra uma volta aos padrões anteriores, como podemos ver abaixo:


Dilma recebeu 8 chamadas ou manchetes negativas enquanto Aécio ficou com somente 3.
Como já mostrei em outros textos, esse padrão de viés da Folha fica bem aquém daquele mostrado por seus congêneres, os jornais Estado de S. Paulo e O Globo. Só para ficarmos na cobertura da última semana, o Estadão publicou 32 matérias contrárias a Dilma frente a 8 contrárias a Aécio, somente em suas capas, e O Globo atingiu a marca de 27 a 4, para os respectivos candidatos. Mesmo que possamos argumentar que a proporção de negativos de Dilma em relação a Aécio não é tão diferente assim na Folha, quase 3 (8/3) e no Estado, 4 (32/8), o nível de politização da cobertura é bem desigual. O Globo e o Estadão publicam uma avalanche de notícias negativas, enquanto a Folha é mais parcimoniosa.
Mas no sábado, véspera da eleição, o jornal paulista radicalizou bruscamente seu comportamento. A manchete lê-se em letras garrafais, acima de uma fotografia enorme que traz Aécio e Dilma apertando as mãos no debate, “Doleiro acusa Lula e Dilma, que fala em terror eleitoral”, com o subtítulo “Ambos sabiam de desvios na Petrobras, diz delator; para Aécio, caso é ‘extremamente grave’”. A Folha dá eco ao “escândalo” noticiado pela revista Veja, que essa semana adiantou em dois dias seu lançamento com claro intuito de produzir impacto eleitoral. A Folha diz ter confirmado o vazamento da informação de que o doleiro tenha citado Lula e Dilma em seu depoimento, ainda que o depoimento seja sigiloso e o próprio advogado do doleiro negue o fato.
Logo abaixo da manchete vem a chamada “Corrupção e ataques mútuos dão o tom do último debate”. O texto que segue a chamada começa “As acusações de desvios da Petrobrás voltaram à tona…”, e inclui uma citação direta de Aécio Neves dizendo que Dilma patrocinou “a mais sórdida das campanhas”. Logo abaixo, outra chamada parece confirmar a acusação que Aécio faz: “Candidatos usam só 12% do tempo na TV para propostas”.
(...)
Para continuar a leitura, acesse  http://www.manchetometro.com.br/artigos/folha-padrao-veja-o-dna-marrom-da-midia-brasileira/








João Feres Junior – Cientista Político coordenador do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), que produz o Manchetômetro – 28.10.2014

IN Manchetômetro e Observatório da Imprensa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Fotos inéditas das penitenciárias paulistas. Para entender o PCC, devemos jogar luz para dentro das celas


É fundamental compreender, contudo, que quando mandamos os acusados às prisões, não os enviamos para um mundo paralelo, que não exerce influência sobre o universo de onde veio. As prisões e o mundo exterior estão cada vez mais intrincados. O que produzimos em nosso sistema carcerário está diretamente relacionado com o que ocorre do lado de fora. Considerados os parentes dos presos, gravita entre o sistema carcerário paulista cerca de 1 milhão de pessoas, população semelhante à da cidade Campinas, uma das maiores do Estado.

Bruno Paes Manso
Há notícias que preferimos manter nas sombras, esquecidas em algum canto escuro da cabeça. É como se, distante das nossas consciências, o problema milagrosamente deixasse de existir. Essas realidades desagradáveis para a maioria, no entanto, devem ser abordadas e são a matéria-prima deste blog. Aqui sentamos todos no divã porque acreditamos que o jornalismo precisa sobreviver justamente para encarar essas verdades inconvenientes. Buscar informações sobre nós mesmos nos ajuda a desfazer os estereótipos e o senso-comum que nos cegam e nos embrutecem.
Dentro desse espírito, em 20 anos de jornalismo e mais de 10 anos lidando com o tema de segurança pública, creio que poucos assuntos são tão impopulares como o das prisões ou do sistema penitenciário. Falar de presos ou do sistema só excepcionalmente, quando cabeças de presos são cortadas, como ocorreu em Pedrinhas, ou em megarebeliões, como as do Primeiro Comando da Capital em 2001 e 2006. Nem mesmo a greve serviu para tentarmos voltar os holofotes para dentro das celas.
Faltam 85 mil vagas no sistema paulista, a assistência médica é praticamente inexistente, o trabalho diário dos agentes penitenciários é insalubre, há um intenso mercado de drogas nas prisões do Estado. As prisões se fortalecem no Brasil como escritórios do narcotráfico. É de lá que o tráfico se organiza por todo o Brasil, onde foram feitos os contatos para todo o Brasil.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://blogs.estadao.com.br/sp-no-diva/para-entender-e-enfraquer-o-pcc-precisamos/






Bruno Paes Manso – 01.04.2014
IN Estadão Blogs 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mais de 80 empresas colaboraram com a ditadura militar no Brasil


A Comissão Nacional da Verdade divulga uma lista de empresas que delataram funcionários. (...) As empresas justificavam o controle e a colaboração com o regime pela suposta ameaça comunista dos movimentos sindicais. Desde citar os nomes de quem organizasse atos sindicalistas ou vendesse jornais na porta da fábrica, até qualificar algumas mortes como acidentes de trabalho quando de fato não o eram. A polícia, em muitos casos, chegava a receber das companhias milhares de folhas de registros dos empregados que estiveram presentes em greves ou manifestações, com todos os seus dados pessoais, o que poderia levar hoje a processos civis desses funcionários (dos que ainda estão vivos ou de seus familiares) contra as empresas. Não se sabe, porém, se esses dados serviam para evitar futuras contratações por outras empresas ou simplesmente para coleta. Segundo os especialistas, é bastante provável que tenham que ressarcir os afetados

Beatriz Borges
Mais de 80 empresas estão envolvidas em espionagem e delação de quase 300 funcionários, segundo levantamento feito pela Comissão Nacional da Verdade. O intuito era sufocar qualquer movimento sindicalista que estivesse sendo gestado entre os trabalhadores de grandes montadoras, como Volkswagen, Chrysler, Ford, General Motors, Toyota, Scania, Rolls-Royce, Mercedes Benz, e também de outros setores, como a Brastemp, a estatal Telesp, a Kodak, a Caterpillar, a Johnson & Johnson, a Petrobras, a Embraer e a Monark – todas elas concentradas no ABCD paulista e no Vale do Paraíba.
Entre os nomes mais conhecidos da lista de 297 pessoas, encontrada nos documentos do Arquivo Público do Estado, estão o de Paulo Okamotto, que foi diretor do Sebrae, o presidente do Conselho Nacional do Sesi, Jair Meneguelli, e Vicente Paulo da Silva, que foi presidente da CUT. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também aparece nos registros, identificado como líder sindical pela Volkswagen em informação divulgada na semana passada pela Reuters. No registro do informante da Volks sobre Lula, dizia que os metalúrgicos estavam insatisfeitos com "as medidas do governo em geral", e cita como exemplo o Banco Nacional de Habitação (BNH) e um decreto impopular assinado pelo general João Figueiredo que retirou os auxílios de alimentação e transporte dos funcionários, bem como férias, 13º salário, participação nos lucros e promoções.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/08/politica/1410204895_124898.html







Beatriz Borges – 08.09.2014
IN El País Brasil.



Ao menos 70 empresas colaboraram com a ditadura

Petrobras, Ericson, Ford, Brastemp e Volkswagen, entre outras, podem ser responsabilizadas por crimes de lesa-humanidade, diz a Comissão da Verdade.

Empresas brasileiras e estrangeiras colaboraram com os militares durante a ditadura. Elas funcionavam como fonte de informações sobre sindicalistas e trabalhadores suspeitos de comandarem greves e fazerem parte de organizações de esquerda, comprovam documentos obtidos pelo Grupo de Trabalho “Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical” da Comissão Nacional da Verdade, apresentados nesta segunda-feira 8, em São Paulo. Além de mostrar nomes e endereços de trabalhadores suspeitos de confabular contra o regime, os documentos trazem os nomes do empresariado que monitorava seus funcionários a fim de colaborar com o sistema de censura e repressão nos últimos anos da ditadura civil militar no Brasil (1964-1985).
O documento "confidencial" de 18 de julho de 1983 do Ministério da Aeronáutica mostra a ata de uma reunião do chamado CECOSE (Centro Comunitário de Segurança) do Vale do Paraíba na qual as empresas Vibasa, Petrobras, Ericson, Telesp, Engesa, Confab, Ford, Embrape e Volkswagen traziam informações sobre demissões, greves e reuniões de sindicalistas no intervalo do expediente. "ENGESA - existe uma Comissão do Sindicato da Categoria que funciona no horário do almoço, visando à sindicalização daqueles que ainda não são sócios do mesmo", diz o documento da Engenheiros Especializados S/A (Engesa), empresa do ramo bélico fundada na década de 1960.
O mesmo arquivo fala sobre a reunião seguinte a ser realizada em 3 de agosto de 1983 na Empresa Mecânica Pesada S/A, em Taubaté (SP) e mostra também "lembretes" que a Volkswagen trazia aos pares sobre vendas de jornais da imprensa alternativa nas portarias da fábrica e atividades do Partido dos Trabalhadores (PT): "No dia 17JUN83 foram distribuídos na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de SBCampo/Diadema panfletos intitulado (sic) 'COMPANHEIROS TRABALHADORES'".
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/politica/ao-menos-70-empresas-colaboraram-com-a-ditadura-5660.html






Marsílea Gombata – 08.09.2014
IN Carta Capital.