domingo, 2 de novembro de 2014

Muita coisa precisa mudar


Poderíamos, além disso, aproximar a eleição e a posse dos eleitos. Não há razão para ficarmos de dois a três meses com um governante que já foi substituído pela vontade popular. Nos países parlamentaristas, a posse é no dia seguinte à eleição. Seria bem razoável iniciar o mandato uns 15 dias após o segundo turno.
Finalmente, isso credenciaria o eleito a participar da decisão sobre o orçamento para seu primeiro ano de governo. Hoje, ele assume com uma lei orçamentária feita pelo Executivo e Legislativo em final de mandato. Tal situação só prejudica o novo governo, que tem seu início determinado por prioridades que já não são as do eleitorado.

Renato Janine Ribeiro
Muita coisa precisa mudar no formato das campanhas. Não sou dos que consideram nosso sistema eleitoral uma calamidade. O problema maior está nas escolhas legislativas. O senador tem mandato muito longo e uma boa chance de passar o cargo, em algum momento, a suplentes desconhecidos de quem votou neles. Deputados e vereadores são escolhidos com os eleitores sabendo pouco a seu respeito. Mas nossas eleições presidenciais me parecem quase modelares.
Após a experiência Collor de eleição solteira, passamos a casar a escolha do presidente e do legislativo federal. Um aventureiro terá dificuldade de vencer. Ao longo de um ano, pelo menos, os principais postulantes são submetidos a uma bateria de questionamentos - quase um bombardeio - que no final das contas faz que só os realmente capazes permaneçam: os que têm a melhor liderança política. A governabilidade geralmente se define antes da eleição. Quem não tiver apoios consistentes dificilmente chega lá. Sem demérito para Marina Silva, ela é a exceção confirmando a regra. Assumiu a candidatura a pouco tempo do pleito, e com isso foi poupada do pior: algo como os três anos de ataques a Dilma, os 12 meses de ataques a Aécio - que foram chamados de tudo o que é ruim, mas sobreviveram. Mesmo assim, em menos de 50 dias, bastante coisa se discutiu e se soube a respeito de Marina, seus méritos, suas limitações. É assim que tem de ser.
(...)




Renato Janine Ribeiro – Professor Titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo – 06.10.2014

IN Valor Econômico, versão impressa.