Poderíamos, além
disso, aproximar a eleição e a posse dos eleitos. Não há razão para ficarmos de
dois a três meses com um governante que já foi substituído pela vontade
popular. Nos países parlamentaristas, a posse é no dia seguinte à eleição.
Seria bem razoável iniciar o mandato uns 15 dias após o segundo turno.
Finalmente, isso
credenciaria o eleito a participar da decisão sobre o orçamento para seu
primeiro ano de governo. Hoje, ele assume com uma lei orçamentária feita pelo
Executivo e Legislativo em final de mandato. Tal situação só prejudica o novo
governo, que tem seu início determinado por prioridades que já não são as do
eleitorado.
Renato Janine Ribeiro
Muita coisa precisa mudar no formato das campanhas. Não sou dos que
consideram nosso sistema eleitoral uma calamidade. O problema maior está nas
escolhas legislativas. O senador tem mandato muito longo e uma boa chance de
passar o cargo, em algum momento, a suplentes desconhecidos de quem votou
neles. Deputados e vereadores são escolhidos com os eleitores sabendo pouco a
seu respeito. Mas nossas eleições presidenciais me parecem quase modelares.
Após a experiência Collor de eleição solteira, passamos a casar a
escolha do presidente e do legislativo federal. Um aventureiro terá dificuldade
de vencer. Ao longo de um ano, pelo menos, os principais postulantes são
submetidos a uma bateria de questionamentos - quase um bombardeio - que no
final das contas faz que só os realmente capazes permaneçam: os que têm a
melhor liderança política. A governabilidade geralmente se define antes da
eleição. Quem não tiver apoios consistentes dificilmente chega lá. Sem demérito
para Marina Silva, ela é a exceção confirmando a regra. Assumiu a candidatura a
pouco tempo do pleito, e com isso foi poupada do pior: algo como os três anos
de ataques a Dilma, os 12 meses de ataques a Aécio - que foram chamados de tudo
o que é ruim, mas sobreviveram. Mesmo assim, em menos de 50 dias, bastante
coisa se discutiu e se soube a respeito de Marina, seus méritos, suas
limitações. É assim que tem de ser.
(...)
Renato Janine Ribeiro – Professor Titular de ética e filosofia política na Universidade de
São Paulo – 06.10.2014
IN Valor Econômico, versão impressa.