sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Nada como uma eleição após a outra

 

Limongi – “Se comparamos o período de 1930 a 1964 com o atual, vemos que a matriz de gasto social mudou completamente”.

Diego Viana
Examinado sempre do ponto de vista dos motivos que o levaram ao colapso, o período democrático de 1946 a 1964 se tornou pouco conhecido, segundo o cientista político Fernando Limongi, professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Encarada da perspectiva do funcionamento de uma democracia, segundo Limongi, a que se estabeleceu após a queda do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1945, aparece como bem fundada e bem-sucedida.
Responsável pelas primeiras eleições realmente democráticas no Brasil, o sistema político do período 1946-1964 sofreu com numerosas tentativas de golpe e desapareceu com a instauração da ditadura. Apesar disso, as semelhanças daquele sistema com a atual democracia, considerada muito mais estável, são tão reveladoras quanto as diferenças. Baseados em representação proporcional e presidencialismo de coalizão, ambos os sistemas permitem que os projetos do Executivo sejam aprovados sem dificuldades. Tanto há 50 anos quanto agora, era quase impossível um partido governar sozinho.
O cientista político - que nesta semana participou de um seminário sobre os 50 anos do golpe, organizado pelo Cebrap e pelo Sesc - chama a atenção para as arenas da disputa democrática que se dão além das eleições e das negociações entre os Poderes Legislativo e Executivo. A democracia, afirma Limongi, possui ambiguidades com as quais os atores políticos têm de contar e jogar: não está determinado quanto é legítimo pressionar governos por fora da via parlamentar. Geopolítica, movimentos sociais e lobbies poderosos estão sempre em ação, mas só representam um risco para o sistema representativo quando algum ator puxa demais a corda. Isso aconteceu, no Brasil, em 1964.
(...)

Para ler a entrevista, acessar:





Diego Viana – 14.03.2014
Fernando Limongi – Professor de Ciência Política e pesquisador do CEBRAP 
IN Valor Econômico. 


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O problema não é o decote, é o poder


Mais do que revelar um quadro de crenças confusas, a pesquisa aponta um quadro de tolerância macabra com a violência contra as mulheres.

Katarina Peixoto
A pesquisa do IPEA "Tolerância social à violência contra as mulheres" revela um quadro macabro sobre a disposição delinquente de abusar mulheres, no Brasil. Pesquisas baseadas em sistema de indicadores de percepção têm por objeto um conjunto necessariamente vago e confuso de crenças, desejos, conhecimentos mais ou menos refletidos e quase nunca científicos; a percepção é um pântano, algo necessariamente obscuro. Valem como uma fotografia borrada. Ainda assim, a pesquisa tem questões muito claras e respostas, idem.
Para a maioria dos brasileiros, se usamos decote é porque merecemos ser violadas. Para a maioria dos brasileiros, e isto é mais grave, também devemos obedecer aos machos, dentro de casa. Como toda sociedade é, por definição, entre outras possíveis, um balaio de crenças contraditórias e calamitosas entre si, a maioria defende que o marido abusador deve ser punido. A tolerância com o abuso é que se destaca: que tipo seria o caso, para merecer a denúncia numa delegacia, já que a maior parte acha que os conflitos conjugais devem ser resolvidos dentro de casa? Ora, dentro de casa, diz a mesma pesquisa, quem manda é o homem. O corolário do convite ao estupro com base no decote é trivial.
O problema do machismo é que ele é uma propriedade, não um traço de caráter. Como propriedade, é uma característica cultural que atravessa as classes, gêneros, idades, graus de instrução. O que define o machismo é a crença segundo a qual os machos detém algum poder natural e, portanto, legítimo, sobre as fêmeas e que, isto é o grave, este poder antecede e vigora a despeito da lei. Se tomamos a definição elementar de fascismo como a crença e a defesa normativa da força sobre a razão ou da força sobre a lei, poderíamos tratar o machismo como um caso, uma variante privada e macabra, do balaio irracional da violência fascista, isto é, das autorizações auto-impetradas ao arbítrio.
Mas o problema do machismo é que ele é mais sutil; é impregnado de afetividade (transmite-se sobretudo pelas famílias) e aí está o poder de sua vigência. Isso explica, entre outras coisas, como pode haver uma ordem democrática que elege uma mulher como presidenta e segue tratando o aborto como crime. Assim, mais do que revelar um quadro de crenças confusas, a pesquisa revela um quadro de tolerância macabra com a violência contra as mulheres. O problema não é o decote; o problema é o poder: quem manda e deve mandar é o macho.




Katarina Peixoto – 29.03.2014
IN Carta Maior.

domingo, 26 de outubro de 2014

Racismo de classe


Campanhas de oposição a governos podem ser politicamente agressivas, exibir estatísticas verdadeiras, manipular outras informações nem tão verdadeiras, e reafirmar fanaticamente as convicções partidárias mais delirantes. Campanhas pró-governo, idem. Mas o que não se pode fazer, numa sociedade democrática, é advogar a ideia de que há duas classes de pessoas: as que votam bem e as que votam mal.

Adriano Codato e Fábia Berlatto
O racismo de classe explicitado nas eleições brasileiras deste ano ultrapassou os limites da convivência civilizada. Autorizar-se a exibir ostensivamente preconceito social, discriminação regional, superioridade étnica em relação à categoria social dos pobres, ao contrário do que se pensa, não é um direito autêntico da sociedade democrática. Por quê? Porque pressupõe e defende hierarquias “naturais”, “culturais” e, com base nelas, cria duas classes de pessoas: os politicamente competentes e os politicamente incompetentes.
O racismo de classe funciona conforme a mecânica perversa de todo o preconceito. Enquanto no racismo tradicional o sentimento de superioridade é dirigido a uma etnia (“raça”) considerada inferior, seja por razões biológicas, seja por razões históricas, o racismo de classe se dirige a um grupo por suas características socioeconômicas e constrói, sobre ele, toda sorte de fantasias. Os pobres são ignorantes porque desconhecem as informações verdadeiras que nós possuímos sobre os políticos, a economia etc. São irracionais, porque as razões que dirigem seu voto são ilegítimas para nossas prioridades. E são incompetentes, porque, afinal, são pobres.
Três exemplos ajudam a ilustrar o que estamos falando. Em setembro, a Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa editou um manual defendendo que os favorecidos pelo Bolsa Família tivessem seus direitos políticos suspensos. Em outubro, publicados os resultados do primeiro turno, o ódio “aos nordestinos” voltou mais agressivo e menos constrangido do que em 2010. Agora, conforme a campanha eleitoral foi se tornando mais competitiva, o delírio do anticomunismo, mais extrovertido, e as oposições, mais confiantes, um economista de televisão pontificou no Facebook que “quem estuda não vota na Dilma”. O esplendor dessa campanha foi atingido por um colunista social que sugeriu trancar em casa, no dia da eleição, as empregadas domésticas e os porteiros dos prédios para que não votassem na situação.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1508569&tit=Racismo-de-classe-






Adriano Codato – Doutor em Ciência Política pela Unicamp, é professor de Ciência Política na UFPR, editor da Revista de Sociologia e Política (UFPR) e da revista Paraná Eleitoral (TRE-PR) e coordenador do Observatório de elites políticas e sociais do Brasil.
Fábia Berlatto – Doutoranda em Sociologia, é professora do curso de Especialização em Sociologia Política na UFPR e integrante do Centro de Estudos de Segurança Pública e Direitos Humanos da mesma universidade – 14.10.2014

IN Gazeta do Povo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Por que o novo decreto de Dilma não é bolivariano


(O decreto 8243 institucionaliza uma política que já existe e aprofunda a democracia na medida em que aproxima a sociedade civil e o Estado).
A sociedade civil traz para a política um sistema de representação de interesses que os partidos não são mais capazes de exercer devido a sua adaptação a um sistema privado de representação de interesses e financiamento com o qual a sociedade não se identifica. (...) Todas as principais democracias do mundo procuram soluções para o problema da baixa capacidade do parlamento de aprovar políticas demandadas pela cidadania. A solução principal é o envolvimento da sociedade civil na determinação de políticas públicas. A justificativa é simples. Ninguém quer acabar com a representação, apenas corrigir as suas distorções temporais em uma sociedade na qual o nível de informação da cidadania aumentou fortemente com a internet e as redes sociais e na qual os cidadãos se posicionam em relação a políticas específicas.

Leonardo Avritzer
A presidente Dilma Rousseff assinou, no último dia 21 (de junho de 2014), um decreto que institui a Política Nacional de Participação Social. De acordo com o decreto “fica instituída” a política, “com o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil”.
Com este objetivo o governo reforçou institucionalmente uma política que vem desde 2003, quando, ainda em 1º de janeiro, o ex-presidente Lula assinou a medida provisória 103, na qual atribui à Secretaria Geral da Presidência o papel de “articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo na elaboração da agenda futura do Presidente da República...”
A partir daí, uma série de formas de participação foram introduzidas pelo governo federal, que dobrou o número de conselhos nacionais existentes no país de 31 para mais de 60, e que realizou em torno de 110 conferências nacionais (74 entre 2003 e 2010 e em torno de 40 desde 2011). Assim, o decreto que instituiu a política nacional de participação teve como objetivo institucionalizar uma política que já existe e é considerada exitosa pelos atores da sociedade civil.
Imediatamente após a assinatura do decreto iniciou-se uma reação a ele capitaneado por um grande jornal de São Paulo que, em sua seção de opinião, escreveu o seguinte: “A presidente Dilma Rousseff quer modificar o sistema brasileiro de governo. Desistiu da Assembleia Constituinte para a reforma política - ideia nascida de supetão ante as manifestações de junho passado e que felizmente nem chegou a sair do casulo - e agora tenta por decreto mudar a ordem constitucional. O Decreto 8.243, de 23 de maio de 2014, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa soar, numa leitura desatenta, como uma resposta aos difusos anseios das ruas.”
Assim, segundo o jornal paulista, o Brasil tem um sistema que é representativo e este foi mudado por decreto pela presidente. Nada mais distante da realidade.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/politica/por-que-o-novo-decreto-de-dilma-nao-e-bolivariano-8992.html





Leonardo Avritzer – Cientista Político, Professor da UFMG – 10.06.2014.
IN Carta Maior (Forum de Interesse Público).


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Brasil, EUA e o hemisfério ocidental I


Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI.

José Luis Fiori
 “As terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando similitudes entre as duas que de fato não existem” N. Spykman, “America´s Strategy in World Politics, Harcourt, Brace abd Company, New York, 1942, p: 46.
Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI. E quase ninguém tem dúvida, também, que os EUA seguirão sendo, por muito tempo, a principal potencia militar, e uma das principais economias do mundo. Por isto é fundamental compreender as configurações geopolíticas da região, e a estratégia que orienta a política hemisférica norte-americana, deste início de século.
Ao norte do continente, o poder americano foi, é, e seguirá sendo incontrastável, garantindo-lhe fronteiras continentais absolutamente seguras. Além disto, a assimetria de poder dentro da América do Norte, é de tal ordem, que o Canadá e o México tendem a convergir cada vez mais, atraídos pela força gravitacional do poder econômico e militar dos EUA.
O que não significa, entretanto,  que o Canadá e o México ocupem a mesma posição junto aos EUA e dentro do tabuleiro geopolítico e econômico regional, apesar dos três países participarem do “Tratado Norte-Americano de Livre Comercio” (NAFTA), desde 1993.  O Canadá ocupa uma posição única, como ex-colônia e ex-domínio britânico, que depois da sua independência, e da II Guerra Mundial, transferiu-se para a órbita de influencia direta dos EUA, transformando-se em sócio comercial, aliado estratégico e membro do sistema de defesa e informação militar dos povos de “língua inglesa”, comandado pelos EUA, e composto pela Inglaterra,  Austrália e a Nova Zelândia.
Neste contexto, o México ocupa apenas a posição de enclave militar dos EUA, uma espécie de “primo pobre”, de “fala latina”, ao lado das potencias anglo-saxônicas.
(...)
Para continuar a leitura, acesse  http://www.valor.com.br/colunistas/Jos%C3%A9%20Lu%C3%ADs%20Fiori




José Luis Fiori – Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – 19.02.2014
IN Valor Econômico, versão impressa.



Brasil, EUA e o hemisfério ocidental II

A América do Sul ainda é uma zona de influência onde os EUA não podem admitir contestação à sua supremacia.

José Luis Fiori
"A new form of nationalism may emerge, seeking national or regional identity by confronting the United States. In its deepest sense, the challenge of Western Hemisphere policy for the United States is whether it can help bring about the world envisioned by Free Trade Area of the Americas, or whether the Western Hemisphere, for the first time in its history, will break up into competing blocs; whether democracy and free markets will remain the dominant institutions or whether there is a gradual relapse into populist authoritarianism." H. Kissinger, 2001, Does America Need a Foreign Policy, Simon&Schuster, NY, p: 84

Em grandes linhas, foi a visão estratégica de Nicholas Spykman1, formulada na década de 1940, que orientou a política externa dos EUA para a América do Sul - democrata e republicana - durante toda a segunda metade do século XX. Nesse período, só Henry Kissinger teve - dentro dos EUA - uma visão geopolítica do mundo tão ampla e inovadora, mas, apesar disso, ele não mudou uma vírgula com relação à visão hemisférica de Spykman. Com a diferença que Kissinger foi também um executivo e ocupou cargos de importância crescente dentro das administrações republicanas, a partir do primeiro governo de Dwight Eisenhower, em 1953, até o final das administrações de Richard Nixon e Gerald Ford, de quem foi Conselheiro de Segurança e Secretário de Estado, respectivamente.
Nesse tempo, participou de conjunturas e decisões internacionais que o transformaram numa das figuras mais importantes da política externa americana da segunda metade do século XX. Sobretudo durante as administrações de Nixon e Ford, quando deu uma contribuição decisiva para a formulação da nova estratégia dos EUA, de resposta à crise econômica mundial dos anos 70, e à derrota americana no Vietnã, em 1973. Ele participou diretamente das negociações de paz, no Vietnã, que levaram à assinatura dos Acordos de Paris, em 1973; e das negociações secretas com Chou en Lai e Mao Tse Tung, em 1971 e 1972, que levaram à reaproximação dos Estados Unidos com a China, e a reconfiguração completa da geopolítica mundial, antes e depois do fim da Guerra Fria. Mas ao mesmo tempo, Kissinger tomou várias decisões "sangrentas", que também foram cruciais, como foi o caso da ordem de bombardeio aéreo do Camboja e do Laos, sem a autorização do Congresso americano, em 1969; do apoio à guerra do Paquistão com a Índia, no território atual de Bangladesh, em 1971; do apoio e financiamento ilegal da invasão do Chipre, pela Turquia, em 1974; do apoio à invasão sul-africana de Angola, em 1975; e finalmente, também em 1975, do apoio à invasão do Timor Leste, pela Indonésia, que se transformou numa ocupação de 24 anos, e custou 200 mil vidas.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/opiniao/3444202/brasil-eua-e-o-hemisferio-ocidental-2






José Luis Fiori – Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –19.02.2014
IN Valor Econômico, edição impressa. 

domingo, 19 de outubro de 2014

Porque votar em Dilma


Aécio propõe seguir o figurino que os países ricos do Atlântico Norte nos recomendam, porém nunca seguiram. Nenhum grande país se construiu seguindo cartilha semelhante. (...) Dilma terá, para honrar sua mensagem e cumprir sua tarefa, de renovar sua equipe e sua prática, rompendo a camisa de força do presidencialismo de coalizão. E o Brasil terá de aprender a reorganizar instituições em vez de apenas redirecionar dinheiro.

Roberto Mangabeira Unger
O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos.
As duas candidaturas compartilham três compromissos fundamentais, além do compromisso maior com a democracia: estabilidade macroeconômica, inclusão social e combate à corrupção. Diferem na maneira de entender os fins e os meios. Diz-se que a candidatura de Aécio privilegia estabilidade macroeconômica sobre inclusão social e que a candidatura Dilma faz o inverso. Esta leitura trivializa a diferença.
Duas circunstâncias definem o quadro em que se dá o embate. A primeira circunstância é o esgotamento do modelo de crescimento econômico no país. Este modelo está baseado em dois pilares: a ampliação de acesso aos bens de consumo em massa e a produção e exportação de bens agropecuários e minerais, pouco transformados. Os dois pilares estão ligados: a popularização do consumo foi facilitada pela apreciação cambial, por sua vez, possibilitada pela alta no preço daqueles bens. Tomo por dado que o Brasil não pode avançar deste jeito.
A segunda circunstância é a exigência, por milhões que alcançaram padrões mais altos de consumo, de serviços públicos necessários a uma vida decente e fecunda. Quantidade não basta, exige-se qualidade.

As duas circunstâncias estão ligadas reciprocamente. Sem crescimento econômico, fica difícil prover serviços públicos de qualidade. Sem capacitar as pessoas, por meio do acesso aos bens públicos, fica difícil organizar novo padrão de crescimento.

O país precisa escolher entre duas maneiras de reagir.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/10/1530909-roberto-mangabeira-unger-por-que-votar-em-dilma.shtml






Roberto Mangabeira Unger – Professor na Universidade Harvard (EUA) – 13.10.2014
IN Folha de São Paulo.




Voto contra o retrocesso

Voto em Dilma Roussef porque tenho vergonha da desigualdade social. (...) Depois das gestões Lula e Dilma, a vulnerabilidade dos mais pobres diminuiu em função da expansão de seus direitos. Voto pela continuação do Bolsa Família, do programa Luz para Todos, do Minha Casa, Minha Vida, maior programa de habitação popular já criado no Brasil Voto também por uma política econômica que, em tempo de crise do capitalismo internacional, preservou o valor dos salários e o pleno emprego. Os governos de Lula e Dilma impulsionaram o acesso de jovens às universidades no país e no exterior. Proporcionaram atendimento médico gratuito em cidades afastadas dos grandes centros.

Maria Rita Kehl
A presidenta Dilma Roussef criou a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em maio de 2012, a primeira presidenta do Brasil, ex-presa política torturada, conseguiu aprovar no Congresso a criação da CNV. Entre os países latino-americanos que sofreram ditaduras, fomos o último a criar uma comissão da verdade.
 Antes tarde do que nunca. Ainda que os militares remanecentes do estado de exceção não cooperem com nossas investigações. Ainda que adeptos da linha dura hoje na reserva recusem “colaborar com o inimigo (todos nós) – e não revelem o paradeiro dos cerca de 150 desaparecidos políticos (sem contar indígenas e camponeses).
Ainda assim, o trabalho da CNV representa um avanço efetivo na consolidação da democracia.
Avanço que exige, ainda, a erradicação da continuada p´ratica de violência de agentes do Estado contra cidadãos detidos. A presidenta criou o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à tortura, que começará a atuar para coibir os maus tratos a pessoas detidas em presídios, delegacias e hospitais psiquiátricos.
Nosso atraso em termos de direitos humanos, além de envergonhar o país, multiplica a insegurança na sociedade inteira. Já se comprovou que a violência da criminalidade no Brasil é diretamente proporcional à violência das PMs e de outros agentes de segurança contra os cidadãos.
(...)







Maria Rita Kehl – Psicanalista, membro da Comissão Nacional da Verdade – 16.10.2014
IN Folha de São Paulo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Porque a classe média está dividida nesta eleição


Não é difícil ver que este é o fenômeno fundamental que está por trás da forte mudança de postura da chamada classe média alta na política brasileira. É ela que está por trás da forte rejeição ao PT e ao governo Dilma no estado de São Paulo e nas principais capitais do Sudeste e da região Sul que são os lugares onde a classe média alta predomina. Esta rejeição tem dois discursos, um deles sutil e um deles nem tanto sutil. O sútil é um discurso onde muitas vezes transpira levemente o preconceito contra o Nordeste ou contra as pessoas que andam de avião ou compram um carro pela primeira vez. A versão menos sútil investe contra os mais pobres, os programas de transferência de renda e os novos setores incluídos da população brasileira.

Leonardo Avritzer
Em um artigo publicado na última sexta feira, o diretor do DataFolha Mauro Paulino chama a atenção para a divisão da classe média brasileira expressa na última pesquisa do Instituto.
Para mostrar melhor o fenômeno, ele dividiu a classe média em três grupos: alta, intermediária e baixa. O candidato Aécio Neves vence com 67% dos votos na classe média alta e Dilma Rousseff vence nas outros dois segmentos com 52% e 53% respectivamente.
Vale a pena fazer uma análise qualitativa destes resultados para entendermos melhor os dilemas da classe média brasileira nesta eleição.
O Brasil sempre teve uma classe média atípica se tomamos com padrão a classe média dos países desenvolvidos. O motivo desta atipicidade reside no fato da classe média brasileira usufruir de dois elementos de natureza contraditória: de um lado, ela usufrui intensamente dos bens de consumo duráveis e não duráveis, carros, eletrodomésticos e outros produtos eletrônicos que constituem parte integrante do padrão de consumo de qualquer classe média nos países desenvolvidos. De outro lado, nós temos uma classe média que, até pouco tempo atrás, ainda usufruía de uma abundância de mão de obra barata gerada pelo nosso processo de colonização e por uma urbanização atípica.
Assim, a mesma classe média que usufrui de carros e máquinas tinha acesso a serviços que a classe média europeia deixou de ter depois da primeira guerra mundial e que a americana nunca teve. Até o recente boom econômico da última década tínhamos uma classe média atípica com acesso fácil a um mercado de saúde e educação privada, todos estes fatores propiciados por uma desigualdade no nível de educação e consequentemente no valor do trabalho nestes setores.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Porque-a-classe-media-brasileira-esta-dividida-nesta-eleicao/4/31988




Leonardo Avritzer – Cientista Político, professor da UFMG – 14.10.2014
IN Carta Maior.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O engodo da austeridade


Para o cientista político Mark Blyth, a contenção de gastos públicos é um modo de a elite ludibriar o povo.

Eduardo Graça
Professor de ciência política na Brown University, Mark Blyth viu o seu livro mais recente, Austerity – The history of a dangerous idea, ser elogiado por economistas de renome. Na perspectiva de Blyth, as políticas de austeridade são, em última análise, um engodo moralista: apoiam-se na falácia de os excessos consumistas anteriores à crise exigirem agora um ato de penitência supostamente purificador. “O pecado exige penitência”, ironiza.

CartaCapital – Em abril, o economista Dani Rodrik tuitou: “Acabei de ler Austerity. Não é que foi preciso um cientista político para expor a ilusão dos economistas?” Por que é tão difícil para os economistas do mainstream concordarem com a premissa do perigo da austeridade?
Mark Blyth – A austeridade é uma ideia igualmente sedutora, por três razões. A primeira é o senso comum. Se você tem uma vida grande, pare de gastar e ela se reduzirá. A segunda é o aspecto moralista, ao defender que o esbanjador pague pelos excessos. O pecado exige penitência. A última é o preconceito com a ideia de o Estado poder gastar. Quando o setor privado gasta, leem-se produção, investimento. Quando o estímulo se dá via setor público, a tradução é invariavelmente desperdício. A ideia de o Estado assumir o papel de investidor diante de uma iniciativa privada que gasta menos é simplificada pela mensagem de que se está automaticamente trocando dinheiro bom por ruim.

CC: Para o senhor, as três premissas estão erradas, não?
Mark Blyth – Sim. E exatamente por isso fazem da austeridade uma ideia tão perigosa. Vamos começar pelo primeiro tópico: dívida pública não é em nada parecida com a privada. Os Blyth, por exemplo, não precisam importar gente, imigrantes, para o nosso núcleo familiar  e taxar seus descendentes por cinco gerações, enquanto criam papéis apostando contra seus futuros pagamentos de imposto, os quais, por sua vez, poderão ser vendidos em mercados secundários. Quando Estados dividem uma mesma moeda, como na Comunidade Europeia, e decidem pagar as dívidas ao mesmo tempo, acabam por reduzir a renda de todos os indivíduos. Com o colapso dos gastos e do consumo, a dívida aumenta em relação ao PIB. Por isso, os países que investiram mais nas medidas de austeridade fiscal, como Portugal e Espanha, se veem no paradoxo de ter uma dívida maior do que aquela de antes dos pacotes de arrocho fiscal.

CC – Na Europa há a ideia de que quem não fez o seu dever de casa precisa agora naturalmente pagar a conta do banquete.
Mark Blyth – A austeridade como lição de moral ignora o fato de que é manifestamente impossível se endividar em excesso se não houver também empréstimo em excesso. A razão pelas quais o endividamento dos 34 países membros da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico ter explodido em 2008 foi o preço do resgate do setor financeiro global, dos bancos. Ou seja, de quem emprestava dinheiro, não de quem se endividava. Os bens e a renda daqueles que detinham a maioria dos bens e da renda nessas respectivas economias foram salvos enquanto os custos da operação eram passados ao restante da população, pagadora de impostos. A moral, neste caso, foi pervertida. A história de os países do Norte da Europa terem feito o dever de casa é mal contada. O que essas economias fizeram foi achatar os postos de emprego por uma década e exportar cada vez mais, com a reciclagem dos excedentes com os países do Sul transformados em crédito para se comprar mais bens produzidos no Norte.

CC – O senhor foi acusado de ser “neocomunista” ao afirmar que a austeridade seduz as elites por oferecer justificativa ideológica para o grosso da sociedade pagar pelos excessos dos mais ricos.
Mark Blyth – Não há nada de comunista em se detectar o óbvio. O corte dos serviços públicos nada mais é do que a conta da debacle do setor financeiro passada para o restante da população. A dívida privada transformou-se em pública e a população paga até hoje pelos erros de quem emprestou sem poder fazê-lo. Quem poderia absorver a pancada foi protegido, enquanto quem não pôde pagar a própria conta passou a ter de arcar também com as despesas do setor financeiro. É uma operação clássica de fraude econômica: uma elite minúscula passou a perna no povo, algo como a clássica armadilha comercial, uma isca é oferecida e espera-se que o cliente não perceba a malandragem. Mas, agora, ela foi feita em larga escala, como jamais anteriormente. A lógica é a mesma em relação ao argumento de que mais dívida pública significa que os jovens pagarão pelos erros das gerações anteriores. Basta pensar que se aos jovens fosse oferecida a opção de se pagarem mais impostos no futuro como contrapartida para evitar a pobreza no presente (o custo imposto pela austeridade), a grande maioria toparia o toma  lá dá cá sem pestanejar. Se há algo de comunista nessa história, ele foi aplicado exclusivamente para os ricos. O grosso da população ficou com o capitalismo mesmo.

CC – E a ideia de o Estado ser um péssimo investidor?
Mark Blyth – É igualmente falsa. E comprovada, tragicamente, pelos acontecimentos no Sul da Europa, com multiplicadores negativos agudos como cortes de 1 dólar de gasto público representando perda de 1,50 a 1,70 dólar de consumo final. Matematicamente, se há um negativo, é preciso haver um positivo, ou seja, o contrário é igualmente e exatamente verdadeiro. O setor público precisa, em tempos de crise, limitar o multiplicador negativo. Cortes públicos aumentam a dívida, gastos a diminuem, na medida em que não há colapso do crescimento econômico. O que é verdadeiro para um indivíduo não o é para a economia.

CC – No Brasil, alguns economistas anunciam o fim do modelo de crescimento baseado em estímulos públicos e programas sociais. E pregam a austeridade como solução.
Mark Blyth – Estão terminantemente errados. A dívida brasileira é relativamente pequena em relação ao PIB e tem caído. O Bolsa Família, se pensarmos exclusivamente em termos de gastos públicos, é um sucesso. A questão legítima a se perguntar, e me parece estar no centro das exigências dos manifestantes, é por que políticos ditos de esquerda estão mais preocupados com a construção de hotéis e estádios para a Copa do Mundo e as Olimpíadas do que em investir na melhora dos serviços públicos? Serviços, aliás, bancados pelos altos impostos pagos. O Brasil deveria ter resolvido essas questões antes de embarcar em um furacão de gastos em construções a ser usadas a conta-gotas depois de 2016. Mas não há saída para o Brasil: para crescer mais o País precisa de um consumo doméstico ainda maior, mais do que em investir na exportação de matéria-prima. O melhor caminho agora é subsidiar o transporte e a educação para a população ter mais capital para o consumo. Do ponto de vista econômico, estão certíssimos aqueles que saem às ruas e exigem transporte público e educação mais baratos e de melhor qualidade. Os economistas que defendem a austeridade e a diminuição dos gastos públicos no Brasil estão errados.

(...)





Mark Blyth Professor de Economia Política Internacional e no Watson Institute (Universidade de Brown) – 01.08.2013
IN Carta Capital. 


Mark Blyth: “A austeridade pode levar-nos a uma morte lenta”

A austeridade é um pouco como o acidente que nós agravAmos. Imagine que Portugal é alguém que foi atropelado. Levamos a vítima ao hospital e decidimos que em vez de lhe darmos analgésicos e colocarmos os ossos no sítio vamos antes deixar que perca metade do sangue do seu corpo e vamos mantê-la bem toda a noite. Eis o que fizemos: agravAmos a situação do paciente.

Esta semana, a Papel convidou Mark Blyth, Professor de Economia Política Internacional e no Watson Institute (Universidade de Brown). É autor de obras como «Great Transformations: Economic Ideas and Institutional Change in the Twentieth Century» e, mais recentemente, «Austerity: The History of a Dangerous Idea [Austeridade: a História de uma Ideia Perigosa]» – que será lançado brevemente em língua portuguesa pela Quetzal Editores. É também autor de diversos artigos científicos e estudos em jornais e revistas como «The American Political Science Review», «Review of International Political Economy», «Journal of Evolutionary Economics» e «Foreign Affairs and Foreign Policy magazine».
Durante a entrevista, Mark Blyth contou-se que virá a Portugal no final de Novembro para participar numa conferência relacionada com o tema do seu último livro.

PAPEL – Na obra «Austerity: The History of a Dangerous Idea», poderia qualquer ideia, boa ou má, ter um período de vida tão longo se não ocultasse fortes interesses?
Mark Blyth – Em alguns casos esconde fortes interesses. Simplesmente reflectindo sobre o fracasso europeu, não é uma questão de Norte contra Sul. É credores contra devedores. E nós temos esta espécie de “moral” difundida que diz que o Sul pediu demasiado dinheiro emprestado e não contribui tanto como o Norte, produtivo, que tem de os resgatar.No entanto, esta ideia ignora completamente factos como não ser possível haver excesso de dinheiro tomado de empréstimo se não houver ninguém a emprestar em demasia. E o que está por trás de toda esta crise do Euro? O facto de quando o Euro chegou, os países do Norte, em particular a Alemanha, tornaram-se muito competitivos porque as suas taxas de câmbio caíram. A Alemanha vendeu bastante através das exportações mas não consumia o suficiente ao nível interno. Estes excedentes são reciclados pelos sistemas bancários e redundam nos mercados obrigacionistas do Sul e nos mercados de financiamento privado denominados em euros. E depois vocês compram-lhes os bens, o que aumentam os excedentes e garante o fluxo de capitais. Contudo, o que aconteceu em 2008, 2009 e 2010 foi o esgotamento do sistema por causa da crise financeira. E assistimos agora a tentativas reimplementação do mesmo sistema? Certamente que sim. Os credores querem o seu dinheiro de volta. E não pretendem ter o haircut (perdão da dívida), como lhe chamam nos mercados financeiros onde eles têm de assumir uma parte da responsabilidade por emprestarem em excesso, bem como aqueles que contraíram dinheiro emprestado em excesso numa altura em que eram encorajados a fazê-lo pelos primeiros. Todavia, existe uma assimetria em jogo porque os credores querem espremer os devedores para garantirem que os cortes se realizam da forma mais ligeira possível. O problema em fazê-lo na zona Euro é que tudo o que está a ser feito neste processo está a encolher o Produto Interno Bruto (PIB) das economias dos países do Sul. Portanto, no fim, teremos mais dívida e não menos, que é exactamente o que está a acontecer em cada economia resgatada. Todos os países abrangidos por um programa de austeridade, cujo principal objectivo é a redução da dívida pública, têm agora mais dívida do que quando começou o programa.

PAPEL – Muitos países europeus estão a tentar (e a conseguir) reduzir o nível de consumo interno e, como disse, os resultados não vão de encontro às expectativas. Acredita que isto é uma espécie de erro resultante de ingenuidade ou trata-se de uma campanha bem definida para fazer cumprir os padrões do paradigma social liberal norte-americano?
Mark Blyth – Não acredito que seja uma campanha orquestrada. Poderemos ter algumas pessoas que vejam este como o momento ideal para destruirem o legado europeu gerado após a II Guerra.No entanto, julgo que a questão é mais simples. Se olharmos para o PIB da zona Euro este é de cerca de 15 triliões de euros e existem 3 vezes mais este valor em activos bancários. E o sistema bancário europeu tem o dobro da alavancagem da contraparte dos EUA. Ou seja, a Europa tem um sistema bancário repleto de activos tóxicos, que são, em parte, compostos por dívidas soberanas, e que equivale ao triplo da contraparte norte-americana e também ao dobro da alavancagem. Em suma, eles construíram uma espécie de máquina apocalíptica monetária. No sistema norte-americano, temos um banco central que imprime os activos de reserva, pelo que podem fazer o que entenderem. Eles podem assumir os activos tóxicos dos bancos, podem obrigá-los a recapitalizarem-se, podem fazer tudo o que os bancos centrais fazem assumindo-se como financiador de último recurso. Contudo, o Banco Central Europeu foi concebido para não ter estas competências. A sua função principal é combater a inflação, mesmo durante uma fase de deflação, ficando demonstrada a sua inutilidade. Portanto, quando a crise atingiu aqueles que tinham em sua posse activos em euros, especialmente dívida soberana, aperceberam-se que esta espécie de «metade banco central» chamado BCE não os iria resgatar e havia a possibilidade de todos estes activos poderem desvalorizar-se. Foi por isso que as yields subiram. E porque as yields subiram, a razão para terem subido foi a dívida à banca, contra a qual o BCE não conseguia proteger, enquanto no sistema americano, na dívida dos EUA, o Banco Central resolveu esta questão.  É por isso que as yields dos EUA permaneceram baixas e as europeias subiram. Agora pergunto, o que tem isto a ver com a necessidade de os Governos cortarem nos orçamentos? Nada. E esta é a parte mais fascinante nesta história. Tudo isto é um problema dos bancos. E não temos de começar a pensar em neoliberais com inspirações maquiavélicas para abalarem o Estado Social. Apenas precisamos de compreender os princípios básicos de como um sistema bancário sobre-alavancado poderá tornar-se numa máquina apocalíptica que nos conduzirá a este fim.

Mark Blyth Professor de Economia Política Internacional e no Watson Institute (Universidade de Brown). É autor de obras como «Great Transformations: Economic Ideas and Institutional Change in the Twentieth Century» e, mais recentemente, «Austerity: The History of a Dangerous Idea [Austeridade: a História de uma Ideia Perigosa]» – que será lançado brevemente em língua portuguesa pela Quetzal Editores. É também autor de diversos artigos científicos e estudos em jornais e revistas como «The American Political Science Review», «Review of International Political Economy», «Journal of Evolutionary Economics» e «Foreign Affairs and Foreign Policy magazine» – 08.08.2013
Alexandre Guerreiro – Jurista e Mestre em Direito. Autor do blog “Nem tudo Freud explica…” mas também de um livro, artigos de opinião e conferências relacionados com temas como Direito, Saúde e Desporto. 

IN Revista Papel.