quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Porque a classe média está dividida nesta eleição


Não é difícil ver que este é o fenômeno fundamental que está por trás da forte mudança de postura da chamada classe média alta na política brasileira. É ela que está por trás da forte rejeição ao PT e ao governo Dilma no estado de São Paulo e nas principais capitais do Sudeste e da região Sul que são os lugares onde a classe média alta predomina. Esta rejeição tem dois discursos, um deles sutil e um deles nem tanto sutil. O sútil é um discurso onde muitas vezes transpira levemente o preconceito contra o Nordeste ou contra as pessoas que andam de avião ou compram um carro pela primeira vez. A versão menos sútil investe contra os mais pobres, os programas de transferência de renda e os novos setores incluídos da população brasileira.

Leonardo Avritzer
Em um artigo publicado na última sexta feira, o diretor do DataFolha Mauro Paulino chama a atenção para a divisão da classe média brasileira expressa na última pesquisa do Instituto.
Para mostrar melhor o fenômeno, ele dividiu a classe média em três grupos: alta, intermediária e baixa. O candidato Aécio Neves vence com 67% dos votos na classe média alta e Dilma Rousseff vence nas outros dois segmentos com 52% e 53% respectivamente.
Vale a pena fazer uma análise qualitativa destes resultados para entendermos melhor os dilemas da classe média brasileira nesta eleição.
O Brasil sempre teve uma classe média atípica se tomamos com padrão a classe média dos países desenvolvidos. O motivo desta atipicidade reside no fato da classe média brasileira usufruir de dois elementos de natureza contraditória: de um lado, ela usufrui intensamente dos bens de consumo duráveis e não duráveis, carros, eletrodomésticos e outros produtos eletrônicos que constituem parte integrante do padrão de consumo de qualquer classe média nos países desenvolvidos. De outro lado, nós temos uma classe média que, até pouco tempo atrás, ainda usufruía de uma abundância de mão de obra barata gerada pelo nosso processo de colonização e por uma urbanização atípica.
Assim, a mesma classe média que usufrui de carros e máquinas tinha acesso a serviços que a classe média europeia deixou de ter depois da primeira guerra mundial e que a americana nunca teve. Até o recente boom econômico da última década tínhamos uma classe média atípica com acesso fácil a um mercado de saúde e educação privada, todos estes fatores propiciados por uma desigualdade no nível de educação e consequentemente no valor do trabalho nestes setores.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Porque-a-classe-media-brasileira-esta-dividida-nesta-eleicao/4/31988




Leonardo Avritzer – Cientista Político, professor da UFMG – 14.10.2014
IN Carta Maior.