quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Brasil, EUA e o hemisfério ocidental I


Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI.

José Luis Fiori
 “As terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando similitudes entre as duas que de fato não existem” N. Spykman, “America´s Strategy in World Politics, Harcourt, Brace abd Company, New York, 1942, p: 46.
Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI. E quase ninguém tem dúvida, também, que os EUA seguirão sendo, por muito tempo, a principal potencia militar, e uma das principais economias do mundo. Por isto é fundamental compreender as configurações geopolíticas da região, e a estratégia que orienta a política hemisférica norte-americana, deste início de século.
Ao norte do continente, o poder americano foi, é, e seguirá sendo incontrastável, garantindo-lhe fronteiras continentais absolutamente seguras. Além disto, a assimetria de poder dentro da América do Norte, é de tal ordem, que o Canadá e o México tendem a convergir cada vez mais, atraídos pela força gravitacional do poder econômico e militar dos EUA.
O que não significa, entretanto,  que o Canadá e o México ocupem a mesma posição junto aos EUA e dentro do tabuleiro geopolítico e econômico regional, apesar dos três países participarem do “Tratado Norte-Americano de Livre Comercio” (NAFTA), desde 1993.  O Canadá ocupa uma posição única, como ex-colônia e ex-domínio britânico, que depois da sua independência, e da II Guerra Mundial, transferiu-se para a órbita de influencia direta dos EUA, transformando-se em sócio comercial, aliado estratégico e membro do sistema de defesa e informação militar dos povos de “língua inglesa”, comandado pelos EUA, e composto pela Inglaterra,  Austrália e a Nova Zelândia.
Neste contexto, o México ocupa apenas a posição de enclave militar dos EUA, uma espécie de “primo pobre”, de “fala latina”, ao lado das potencias anglo-saxônicas.
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José Luis Fiori – Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – 19.02.2014
IN Valor Econômico, versão impressa.



Brasil, EUA e o hemisfério ocidental II

A América do Sul ainda é uma zona de influência onde os EUA não podem admitir contestação à sua supremacia.

José Luis Fiori
"A new form of nationalism may emerge, seeking national or regional identity by confronting the United States. In its deepest sense, the challenge of Western Hemisphere policy for the United States is whether it can help bring about the world envisioned by Free Trade Area of the Americas, or whether the Western Hemisphere, for the first time in its history, will break up into competing blocs; whether democracy and free markets will remain the dominant institutions or whether there is a gradual relapse into populist authoritarianism." H. Kissinger, 2001, Does America Need a Foreign Policy, Simon&Schuster, NY, p: 84

Em grandes linhas, foi a visão estratégica de Nicholas Spykman1, formulada na década de 1940, que orientou a política externa dos EUA para a América do Sul - democrata e republicana - durante toda a segunda metade do século XX. Nesse período, só Henry Kissinger teve - dentro dos EUA - uma visão geopolítica do mundo tão ampla e inovadora, mas, apesar disso, ele não mudou uma vírgula com relação à visão hemisférica de Spykman. Com a diferença que Kissinger foi também um executivo e ocupou cargos de importância crescente dentro das administrações republicanas, a partir do primeiro governo de Dwight Eisenhower, em 1953, até o final das administrações de Richard Nixon e Gerald Ford, de quem foi Conselheiro de Segurança e Secretário de Estado, respectivamente.
Nesse tempo, participou de conjunturas e decisões internacionais que o transformaram numa das figuras mais importantes da política externa americana da segunda metade do século XX. Sobretudo durante as administrações de Nixon e Ford, quando deu uma contribuição decisiva para a formulação da nova estratégia dos EUA, de resposta à crise econômica mundial dos anos 70, e à derrota americana no Vietnã, em 1973. Ele participou diretamente das negociações de paz, no Vietnã, que levaram à assinatura dos Acordos de Paris, em 1973; e das negociações secretas com Chou en Lai e Mao Tse Tung, em 1971 e 1972, que levaram à reaproximação dos Estados Unidos com a China, e a reconfiguração completa da geopolítica mundial, antes e depois do fim da Guerra Fria. Mas ao mesmo tempo, Kissinger tomou várias decisões "sangrentas", que também foram cruciais, como foi o caso da ordem de bombardeio aéreo do Camboja e do Laos, sem a autorização do Congresso americano, em 1969; do apoio à guerra do Paquistão com a Índia, no território atual de Bangladesh, em 1971; do apoio e financiamento ilegal da invasão do Chipre, pela Turquia, em 1974; do apoio à invasão sul-africana de Angola, em 1975; e finalmente, também em 1975, do apoio à invasão do Timor Leste, pela Indonésia, que se transformou numa ocupação de 24 anos, e custou 200 mil vidas.
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José Luis Fiori – Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –19.02.2014
IN Valor Econômico, edição impressa.