terça-feira, 7 de outubro de 2014

As novas condições do desenvolvimento


A abertura comercial com câmbio valorizado e juros altos suscitou o desaparecimento de elos das cadeias produtivas na indústria de transformação, com perda de valor agregado gerado no país. Para juntar ofensa à injúria, essa abertura afastou o Brasil do engajamento nas cadeias produtivas globais.

Luiz Gonzaga Belluzzo
O Le Monde Diplomatique Brasil me concede generosamente a oportunidade de discorrer sobre o tema do desenvolvimento brasileiro, seus entraves e perspectivas. Vou concentrar a argumentação em uma das minhas obsessões: perda de posição da indústria brasileira de transformação no âmbito das reconfigurações do parque manufatureiro global. (Os velhos não escrevem, mas reescrevem ideias que já tiveram, se é que tive alguma.)
Na transição dos anos 1970 para os 1980, o Brasil afastou-se das tendências da indústria global, ou seja, deixou de incorporar os novos setores e, portanto, as novas tecnologias da chamada Terceira Revolução Industrial. Falamos da informática, da microeletrônica, da química fina e da farmacêutica. 
No mesmo passo, a organização empresarial brasileira distanciou-se das novas formações empresariais que surgiam sobretudo nas vibrantes economias exportadoras asiáticas, impulsionadas por agressivas políticas industriais e de exportação de manufaturados. No final dos anos 1970, a produção e exportação de manufaturados brasileiros eram próximas ou superiores às de seus concorrentes asiáticos. Hoje esses países têm posições que são um múltiplo da produção e exportação brasileiras de manufaturados.
Nos anos 1980, a economia brasileira foi submetida à regressão industrial e econômica deflagrada pela crise da dívida externa e suas consequências fiscais e monetárias (enormes déficits fiscais e alta inflação com indexação generalizada). Nesse período, favorecidas pelas políticas liberais nos países desenvolvidos e pelas iniciativas domésticas de fortalecimento industrial e de exportação de manufaturados, as grandes empresas asiáticas, particularmente as coreanas, seguiram o exemplo japonês dos anos 1960 e 1970 e iniciaram uma escalada de internacionalização. Atualmente, essa estratégia é perseguida pelos chineses.
No entanto, não há como compreender a trajetória da economia brasileira nos últimos anos sem mencionar os equívocos de “visão” acolhidos pelas políticas econômicas. Tais distonias cognitivas nos levaram à regressão industrial. A relativa complexidade do fenômeno torna difícil sua compreensão e comunicação no debate público em razão da disseminação de simplificações midiáticas e da partidarização das posições em confronto.
(...)

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Luiz Gonzaga Belluzzo – Economista, professor da Unicamp e presidente do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação – 06.03.2014

IN Le Monde Diplomatique Brasil.