A abertura comercial com câmbio valorizado
e juros altos suscitou o desaparecimento de elos das cadeias produtivas na
indústria de transformação, com perda de valor agregado gerado no país. Para
juntar ofensa à injúria, essa abertura afastou o Brasil do engajamento nas
cadeias produtivas globais.
Luiz Gonzaga Belluzzo
O Le Monde Diplomatique Brasil me concede generosamente a oportunidade
de discorrer sobre o tema do desenvolvimento brasileiro, seus entraves e
perspectivas. Vou concentrar a argumentação em uma das minhas obsessões: perda
de posição da indústria brasileira de transformação no âmbito das
reconfigurações do parque manufatureiro global. (Os velhos não escrevem, mas
reescrevem ideias que já tiveram, se é que tive alguma.)
Na transição dos anos 1970 para os 1980, o Brasil afastou-se das
tendências da indústria global, ou seja, deixou de incorporar os novos setores
e, portanto, as novas tecnologias da chamada Terceira Revolução Industrial.
Falamos da informática, da microeletrônica, da química fina e da
farmacêutica.
No mesmo passo, a organização empresarial brasileira distanciou-se das
novas formações empresariais que surgiam sobretudo nas vibrantes economias
exportadoras asiáticas, impulsionadas por agressivas políticas industriais e de
exportação de manufaturados. No final dos anos 1970, a produção e exportação de
manufaturados brasileiros eram próximas ou superiores às de seus concorrentes
asiáticos. Hoje esses países têm posições que são um múltiplo da produção e
exportação brasileiras de manufaturados.
Nos anos 1980, a economia brasileira foi submetida à regressão
industrial e econômica deflagrada pela crise da dívida externa e suas
consequências fiscais e monetárias (enormes déficits fiscais e alta inflação
com indexação generalizada). Nesse período, favorecidas pelas políticas
liberais nos países desenvolvidos e pelas iniciativas domésticas de
fortalecimento industrial e de exportação de manufaturados, as grandes empresas
asiáticas, particularmente as coreanas, seguiram o exemplo japonês dos anos
1960 e 1970 e iniciaram uma escalada de internacionalização. Atualmente, essa
estratégia é perseguida pelos chineses.
No entanto, não há como compreender a trajetória da economia brasileira
nos últimos anos sem mencionar os equívocos de “visão” acolhidos pelas
políticas econômicas. Tais distonias cognitivas nos levaram à regressão
industrial. A relativa complexidade do fenômeno torna difícil sua compreensão e
comunicação no debate público em razão da disseminação de simplificações
midiáticas e da partidarização das posições em confronto.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1600
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Luiz Gonzaga Belluzzo – Economista, professor da Unicamp e presidente do Conselho Curador da
Empresa Brasil de Comunicação – 06.03.2014
IN
Le Monde Diplomatique Brasil.